02 Agosto 2019
O padre jesuíta Stefanus Hendrianto, 45 anos, estava entre as fileiras de estudantes envolvidos no movimento pró-democracia da Indonésia em 1998, que finalmente derrubou o regime autoritário de Suharto após 31 anos de um governo com mãos de ferro.
A reportagem é publicada por Catholic News Service, 01-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele era um estudante de Direito da Universidade Gajah Mada em Yogyakarta e foi para Jacarta para se juntar a outros estudantes nos protestos anti-Suharto.
A série de comícios foi marcada por incidentes sangrentos em que vários estudantes foram mortos a tiros, alguns raptados e desaparecidos antes de Suharto finalmente deixar o cargo no dia 22 de maio daquele ano.
Na época, Hendrianto era um dos líderes do Partido Democrático do Povo, um dos principais grupos de oposição ao regime de Suharto.
Pouco depois da queda de Suharto, que anunciou o início de uma era de reformas, Hendrianto optou por se afastar do ativismo e continuar seus estudos de Direito no exterior.
Essa decisão o levaria a um modo de vida completamente diferente – a vida de um padre.
Hendrianto foi ordenado no dia 8 de junho com outros quatro jesuítas na Igreja Nossa Senhora de La Vang, em Portland, Oregon, nos EUA, e é membro da província dos Jesuítas do Oeste, que abrange os Estados da costa do Pacífico, além do Alaska e do Havaí. O arcebispo de Portland, Alexander Sample, foi quem presidiu a cerimônia.
Ele descreveu a mudança em seu modo de vida como um “mistério” e como algo completamente imprevisível.
“Quando eu era criança e vivia na Indonésia, minha intenção absolutamente não era de me tornar padre”, disse ele ao Ucanews.com.
O jovem Hendrianto optou por fazer um mestrado em Direito na Universidade de Utrecht, na Holanda, enquanto seus colegas ativistas optaram por seguir o caminho político. Depois de se formar, ele retornou à Indonésia e trabalhou como assistente jurídico do Fundo Monetário Internacional em seu escritório de Jacarta.
Buscando uma vida mais significativa, ele ingressou no programa de doutorado da Faculdade de Direito da Universidade de Washington, em Seattle. Lá, disse ele, a jornada de sua vida mudou, especialmente depois da sua interação com os católicos de outras universidades da cidade.
“Eles me ajudaram muito a moldar a minha fé e, finalmente, me levaram ao sacerdócio”, afirmou.
Hendrianto disse que a semente da vocação sacerdotal cresceu mais fortemente quando ele começou a participar ativamente do Centro Newman, dirigido pelos dominicanos. Uma apresentação sobre fé católica e filosofia política feita pelo padre jesuíta Robert Spitzer, então reitor da Gonzaga University, teve uma influência particularmente profunda nele.
“Naquela época, eu pensava que, se eu quisesse me tornar padre, tinha que ser como o Pe. Spitzer”, contou.
Contudo, esse não foi o seu primeiro encontro com os jesuítas. Enquanto estava na Indonésia, ele costumava passar algum tempo em paróquias atendidas pelos jesuítas.
“Enquanto eu ainda estudava na Universidade Gajah Mada, eu sempre participava da missa dominical na capela da Universidade San Dharma, que era atendida pelos jesuítas”, lembrou ele ao Ucanews.com.
Depois de se mudar para Jacarta, ele participava das missas na Catedral de Santa Maria da Assunção, que também é atendida pelos jesuítas.
Em 2009, após a conclusão do seu doutorado, ele ingressou no noviciado jesuíta nos EUA.
Mais tarde, em 2016, ele estudou Filosofia na Loyola University, em Chicago, e também se matriculou na Faculdade de Teologia do Boston College, onde obteve um mestrado em Teologia.
Isso o levou a um período de ensino de Direito e Ciências Políticas na Universidade de Santa Clara, administrada pelos jesuítas, na Califórnia, seguido de um período de pesquisa no Instituto Kellogg de Estudos Internacionais da Universidade de Notre Dame.
Olhando para o seu tempo como estudante-ativista, Hendrianto disse que isso fazia parte do seu processo como um jovem “idealista e ingênuo”. Quando jovem, ele sentiu o chamado para mudar o mundo unindo-se ao movimento político estudantil, mas não conseguiu responder à sua busca espiritual.
“Meu coração estava cheio de vingança, raiva e amargura”, disse. “Todas essas coisas tornaram a minha vida vazia. Em princípio, a minha alma era como um campo seco, estéril e sem água.”
Ele disse que, apesar de ter se tornado um jesuíta mais tarde do que a maioria dos homens, ele descobriu que a espiritualidade inaciana responde àquilo que ele estava buscando há muito tempo.
Ele até encontrou uma semelhança entre ele mesmo e Santo Inácio de Loyola.
“Se você olhar para a experiência de vida de Santo Inácio de Loyola, ele também decidiu se tornar padre tarde e depois fundou a Companhia de Jesus.”
“Ele também teve que voltar para a escola e aprender latim junto com os mais jovens. Comigo também foi mais ou menos a mesma coisa, e eu estudo Filosofia com estudantes de graduação”, disse.
“Estou orgulhoso, porque isso significa que eu estou seguindo os seus passos.”
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Indonésia: ativista pró-democracia se torna padre jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU