Até quando, Honduras?

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04 Julho 2019

Juan Orlando Hernández é um homem de confiança da nação do norte. A repressão ao povo hondurenho não conta no xadrez geopolítico de Donald Trump. As recentes palavras da Conferência Episcopal de Honduras refletem bem a tragédia: “Uma Constituição violada quantas vezes convém, poderes que não são em nada independentes, um Congresso que se tornou um teatro de péssimos atores, dando as costas para o povo. Já basta!””, denuncia solidariamente o editorial da Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas, de El Salvador, publicado por sua página web, 28-06-2019. A tradução é do Cepat.

Eis o editorial.

Honduras continua a sangrar em uma crise sociopolítica que é o produto de repetidas violações à legalidade e institucionalidade por parte de quem deveria ser o primeiro a respeitá-las e fortalecê-las. A essa altura, o presidente Juan Orlando Hernández se mantém no poder apenas por causa do apoio dos militares e do respaldo dos Estados Unidos. O último episódio da crise hondurenha começou há cerca de dois meses com a aprovação, em 25 de abril, de decretos que abrem as portas para a privatização da saúde e da educação.

Os primeiros a reagir foram as associações que trabalham nessas áreas, às quais muito rapidamente se somaram camponeses, taxistas e caminhoneiros com suas próprias reivindicações. Em seguida, um setor da Polícia, incluindo o grupo de elite encarregado de reprimir as manifestações, parou de trabalhar em protesto por benefícios da lei e ferramentas de trabalho que não lhes forneceram.

Toda essa insatisfação foi respondida com a violência da Polícia Militar e do Exército, que deixou uma lista de mortos e feridos que se soma a dos jornalistas, ambientalistas e defensores dos direitos humanos, assinados a partir de 2009. Hernández não tem outra estratégia a não ser reprimir todos os protestos e identificar defensores dos direitos humanos como responsáveis pelas mobilizações, com o intuito de criminalizá-los.

O antecedente desta crise é de 10 anos atrás. Em 28 de junho de 2009, em Honduras, ocorreu o primeiro golpe exitoso do século 21. Empresários, militares e políticos derrubaram o presidente Manuel Zelaya, considerado comunista pelo conservadorismo mais rançoso de Honduras e derrubado com o argumento de que havia iniciado o caminho para a reeleição. Zelaya foi retirado de helicóptero para Costa Rica. As massivas mobilizações contra o golpe foram reprimidas e as vozes dissidentes silenciadas por balas ou ameaças e perseguições. Em seu lugar, foi nomeado um presidente ‘de facto’, seguido por Porfirio Lobo, destacado por suas ligações com o crime organizado.

Quando Juan Orlando Hernández chegou ao poder, cooptou gradualmente todos os poderes do Estado, incluindo a Câmara Constitucional, que permitiu a violação da Carta Magna para que Hernández pudesse concorrer à reeleição. Em 2017, nas eleições mais questionadas na história da democracia hondurenha, cujos resultados só foram reconhecidos depois da aceitação dos Estados Unidos, contra a opinião de todas as missões de observação eleitoral, Hernández assumiu a presidência pelo segundo mandato consecutivo. Mais uma vez, protestos de rua e convulsões sociais estavam na ordem do dia, assim como a repressão.

O irmão do presidente está preso nos Estados Unidos acusado de tráfico de drogas. E o próprio Hernández foi relacionado a membros do cartel Los Cachiros, nos tribunais daquele país. No entanto, é um fiel aliado dos Estados Unidos. Deu carta branca ao Exército e às autoridades antidrogas dos estadunidenses para atuar em território hondurenho e não questiona a violação dos direitos dos migrantes, muitos deles seus compatriotas, pelos norte-americanos.

Hernández é um homem de confiança da nação do norte. A repressão ao povo hondurenho não conta no xadrez geopolítico de Donald Trump. As recentes palavras da Conferência Episcopal de Honduras refletem bem a tragédia: "Uma Constituição violada quantas vezes convém, poderes que não são em nada independentes, um Congresso que se tornou um teatro de péssimos atores, dando as costas para o povo. Já basta!".

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