11 Novembro 2018
Produtores de soja do Pará, em plena Amazônia brasileira, ameaçaram e intimidaram nesta quinta-feira, 08 de novembro, representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) enquanto visitavam, acompanhados por agentes da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o povo indígena Munduruku. Os mesmos tentavam impedir a realização de uma reunião para ouvir o clamor desses povos, embora esta tenha finalmente sido realizada.
A reportagem é de Luis Miguel Modino, publicada por Religión Digital, 09-11-2018. A tradução é de André Langer.
Trata-se, segundo informa em seu portal a Comissão Pastoral da Terra, de setores vinculados ao agronegócio, os mesmos que historicamente invadiram as terras dos povos indígenas. O fato destaca a situação cada vez mais preocupante dos movimentos sociais e pastorais na Amazônia e no Brasil, em geral, situação que se agravou nos últimos dias com a eleição de Jair Bolsonaro como novo presidente, que deu rédeas soltas àqueles que acreditam ser os donos do país.
A reunião serviu para que os povos indígenas apresentem suas pautas, começando com a própria existência como povo, cada vez mais ameaçada, em decorrência da invasão do seu território, espaço fundamental para a sua sobrevivência econômica, social e cultural. Ressaltam que é urgente a demarcação oficial do território Munduruku do Planalto, o que não podemos negar que é algo que será cada vez mais difícil com a chegada de um governo declaradamente anti-indígena.
Os representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos prometeram a elaboração de um documento em que a Organização dos Estados Americanos recomende ao Estado brasileiro a garantia efetiva dos direitos humanos, especialmente no que diz respeito à proteção dos ameaçados de morte por defender esses direitos.
Além dos povos indígenas, foram ouvidos os representantes das organizações e dos movimentos populares da região, que denunciaram a atuação violenta do agronegócio e dos grandes empreendimentos contra os povos indígenas, descendentes de escravos, ribeirinhos e seus territórios e contra os assentamentos da reforma agrária, da biodiversidade e das águas, ameaçadas pela construção de um grande porto na região a ser usado para o escoamento de grãos pelo rio Amazonas, principalmente para exportação.
Além disso, foi denunciada também a extração ilegal de madeira em territórios tradicionais, a compra ilegal de terras em assentamentos de reforma agrária por parte de grandes fazendeiros, o aumento das ameaças, violência e homicídios contra os povos do campo, negativas permanentes aos direitos à saúde e à educação dos povos tradicionais, direito que consta na própria legislação brasileira, e o uso intensivo e desmedido de agrotóxicos pelo agronegócio de modo a promover o envenenamento das comunidades.
A Rede eclesial Pan-Amazônica – REPAM, através de seu secretário executivo, Mauricio López, expressou sua profunda solidariedade com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que tem sido uma companheira em toda esta caminhada da REPAM, e com o povo Munduruku, que são também irmãos e sócios de missão junto com a REPAM e que estiveram presentes no processo de formação da Escola de Direitos Humanos, na primeira edição. Mauricio López insistiu em que “queremos denunciar todas as formas de agressão a estes organismos internacionais, que se tornam absolutamente necessários neste momento de grande perseguição e de ataques aos direitos humanos”.
Leia mais
- A preocupação dos grupos indígenas com candidatura de Bolsonaro
- Cimi repudia veementemente acusações do candidato Jair Bolsonaro contra os povos indígenas do Brasil
- A Constituição - 30 anos. A luta permanente pelos direitos indígenas. Entrevista especial com Jorge Eremites
- Demarcação de terras indígenas x latifúndios: a grande tramoia brasileira. Entrevista especial com Vincent Carelli
- Bolsonaro pode acabar com 129 processos de demarcação de terra indígena
- Articulação dos Povos Indígenas do Brasil apresenta Nota Pública “Eleições 2018: Em defesa da democracia e dos nossos direitos”
- “Nem um centímetro a mais para terras indígenas”, diz Bolsonaro
- Gays, negros e indígenas já sentem nas ruas o medo de um governo Bolsonaro
- Munduruku enfrentam o monstro
- Fortalecida, bancada ruralista mira o agronegócio nas terras indígenas
- Violência contra indígenas no Brasil aumenta nos gabinetes e nas aldeias
- Cimi lança relatório 'Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil - Dados 2016'
- Tristes recordes da anti-reforma agrária
- Incêndios, pistolas e sangue: violência no campo brasileiro cresce e ameaça comunidades tradicionais
- O aumento da violência no campo
- REPAM: Diálogo com os povos indígenas para uma agenda em comum em defesa da vida na Amazônia
- Indígenas Munduruku afirmam que estudos da hidrovia Tapajós são inválidos
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Produtores de soja da Amazônia brasileira ameaçam representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU