Com extraordinária força, o Papa Francisco advertiu aos 100.000 participantes da audiência geral que “se destruímos a Criação, a Criação nos destruirá. Nunca nos esqueçamos disso!” Em sua catequese a peregrinos de todo o mundo destacou que “a natureza não é uma propriedade da qual podemos abusar a nosso bel prazer, nem muito menos é propriedade de alguns poucos, mas um dom para todos, que devemos cuidar”.

A reportagem é de Juan Vicente Boo e publicada no jornal espanhol ABC, 21-05-2014. A tradução é de André Langer.

O Santo Padre advertiu que os abusos acabam passando a fatura muitas vezes a pessoas inocentes que não causaram o dano ecológico, mas que acabam sendo suas vítimas. E recordou que “de acordo com o dito popular: Deus perdoa sempre, os homens algumas vezes, a natureza nunca”.

Falando à margem do texto escrito, o Papa realizou uma apaixonada defesa da natureza e da pessoa humana como “um dos dons do Espírito Santo, o dom da ciência, que nos faz descobrir como a beleza e a imensidão do cosmos nos falam do Criador”.

Em um plano essencialmente religioso, o Santo Padre afirmou que o dom da ciência nos ajuda “a conhecer melhor a realidade e descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. Mas não se limita à ciência humana, mas nos permite compreender melhor, através da criação, a grandeza do amor de Deus e sua relação profunda com cada criatura”.

O Papa recordou as palavras do Gênesis, segundo o qual, ao final de cada dia da criação, “Deus viu que tudo era bom”, ao passo que depois de criar o homem e a mulher viu que era “muito bom”. Nessa linha destacou que “devemos reconhecer no homem e na mulher o ápice da criação, como um projeto de amor impresso em cada um de nós que nos faz reconhecermos como irmãos e irmãs”.

O Santo Padre, que está preparando uma encíclica sobre a proteção da natureza e a “ecologia humana”, convidou a seguir “o exemplo de São Francisco de Assis e de tantos outros santos que souberam louvar e cantar o amor de Deus através da contemplação da natureza criada”.

A elaboração do documento requer ainda vários meses de trabalho, mas a catequese do Papa sobre o respeito a cada pessoa e à natureza, a partir de motivos estritamente religiosos, é muito frequente desde o princípio.

Sua primeira referência foi na missa de abertura do pontificado, no dia 19 de março de 2013. Destacou a importância de cuidar da natureza “e também de cuidar das pessoas, preocupar-se com todos, especialmente com as crianças, os anciãos e os mais fracos”.