01 Agosto 2016
O mês de julho de 2016 foi um dos mais sangrentos quanto a incidentes terroristas, com uma contagem de corpos chegando ao número de quase 2 mil vítimas inocentes. Mas ele também trouxe uma resposta na forma de um grande exército de jovens positivos, amorosos, investidos de amizade e fé, que se encontraram em Cracóvia, na Polônia.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicado por Crux, 31-07-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A Jornada Mundial da Juventude, encontro massivo dos jovens católicos de todo o mundo por vezes chamado de “Woodstock católico”, aconteceu em Cracóvia, capital da Polônia, entre os dias 25 e 31 de julho, reunindo, segundo estimativas, 2 milhões de pessoas para um festival de diversão, alimentação e fé.
Consideremos o que se passou no mundo nesse mês antes de os jovens rumarem a Cracóvia. Esta, aliás, é uma lista parcial.
• No Bahrein em 1º de julho, militantes detonaram uma bomba que matou uma mulher e três crianças.
• Também em 1º de julho, homens armados na Cisjordânia dispararam contra um veículo que passava, matando o diretor de uma escola judaica (yeshiva) e ferindo sua esposa e filhos.
• Em 2 de julho, homens armados ligados ao grupo radical islâmico al-Shabaab lançaram 11 morteiros contra alvos civis na Somália, matando duas meninas com idades entre quatro e cinco e ferindo 19 civis.
• Em 3 de julho, pelo menos 325 pessoas foram mortas e 245 ficaram feridas numa série de atentados coordenados em Bagdá.
• Em 4 de julho, militantes do Estado Islâmico sequestraram 40 civis em uma cidade síria na província de Aleppo e depois os executaram por haverem tentado escapar.
• Cinco policiais em Dallas foram mortos e outros sete ficaram feridos no dia 7 de julho em um ataque motivado pela raiva decorrente de tiros disparados pela polícia contra homens negros em vários locais dos EUA.
• Pelo menos 36 pessoas morreram em 9 de julho e 143 ficaram feridas depois de morteiros lançados e outros ataques em Aleppo, na Síria, eventos realizados por grupos terroristas rebeldes.
• Em 14 de julho, 84 pessoas foram mortas e 308 ficaram feridas quando um tunisiano de 31 anos lançou um caminhão por entre a multidão que comemorava o Dia da Bastilha na França, incidente que também deixou morto o próprio perpetrador.
• Em Baton Rouge, Louisiana, uma emboscada em 17 de julho contra a polícia deixou 3 pessoas mortas e 3 feridas.
• No dia seguinte, um ataque a uma delegacia de polícia em Almaty, no Cazaquistão, deixou 6 pessoas mortas e 8 ficaram feridas.
• Em Würzburg, na Alemanha, um ataque com um machado em um trem levado a cabo por um jovem afegão de 17 anos requerente de asilo deixou 5 pessoas feridas, duas delas em estado grave, e resultou na morte do perpetrador.
• Em 26 de julho, um homem de 26 anos invadiu um hospital japonês e esfaqueou 44 pessoas, matando 19, quase todos sendo deficientes físicos, e depois se entregou à polícia alegando que as pessoas com deficiência precisam desaparecer.
• No mesmo dia, assassinos inspirados no Estado Islâmico cortaram a garganta de um padre e feriram severamente uma mulher em uma igreja na Normandia, região da França. Eles acabaram mortos por forças de segurança do país.
Ao todo, 1.843 pessoas pereceram como consequência de atos terroristas em julho, de acordo com as estatísticas coletadas pelo sítio Wikipédia, e estes números não levam em conta os totais resultantes de incidentes em que a quantidade de mortos é dita como “desconhecida”.
Portanto, quando o Papa Francisco fala de uma guerra mundial travada em parcelas, compreende-se porque essa imagem trazida por ele não é mera retórica, mas uma descrição precisa da realidade contemporânea.
No contexto de tal carnificina, de tal contágio aparente de maldade, onde se pode encontrar esperança? Com toda a honestidade, a última semana de julho deu motivos para se ter esperança de forma eloquente com a Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia.
Por quê?
Por um lado, o espírito em Cracóvia estava bastante otimista. Enquanto o Estado Islâmico e outras organizações terroristas são capazes de recrutar pequenos grupos de jovens para suas campanhas mortais, centenas de milhares de jovens católicos de todo o planeta se juntaram nas ruas da maior cidade europeia esta semana e não deixaram destruição alguma para trás. Pelo contrário, deixaram imagens indeléveis de amizade e fraternidade.
Por outro lado, a Jornada Mundial da Juventude foi adiante apesar da apreensão quanto a ameaças à segurança. A presença da polícia e de forças militares ao longo da semana foi visível, mas jamais sobrecarregou ou atrapalhou o evento principal; e, à noite, os jovens ocuparam as praças e parques da cidade como se o time do coração deles tivesse vencido o campeonato nacional ou a Copa do Mundo.
Com efeito, era uma multidão de jovens amorosos, carinhosos e positivos dizendo ao Estado Islâmico e outros grupos: “Nós negamos a violência”.
Diferentemente do que se poderia imaginar quando se trata de eventos com grande número de pessoas, o índice de crimes em Cracóvia diminuiu na semana passada, a coleta de lixo diminuiu já que os peregrinos fizeram a sua parte depois do encontro e os moradores se despediram com um sorriso no rosto após a energia positiva que permeou a cidade.
Finalmente, estes jovens propuseram uma visão diferente para o futuro da humanidade, um futuro baseado na solidariedade mundial, respeitando as diferenças de classe, raça e cultura sem vê-las como elementos divisores, e acolhendo a religião não como um problema, mas sim como uma fonte da solução.
“A nossa resposta a este mundo em guerra tem um nome: chama-se fraternidade, chama-se irmandade, chama-se comunhão, chama-se família”, disse Francisco aos cerca de 1 milhão de jovens reunidos para a vigília de oração no sábado à noite.
“Alegramo-nos pelo fato de virmos de culturas diferentes e nos unirmos para rezar. Que a nossa palavra melhor, o nosso melhor discurso seja unirmo-nos em oração”, disse.
Isso tudo pode soar como retórica vazia, mas se você estivesse nas ruas e praças de Cracóvia no fim de julho, entenderia que não são artifícios de linguagem nem aspiração piedosa, e sim o coração vivo, atuante de um exército jovem honesto para com Deus – neste caso, um exército dedicado não à violência ou ao ódio, mas à esperança.
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Em face do terror, jovens católicos deram a resposta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU