04 Março 2016
“A operação deflagrada agora de manhã, visando levar Lula coercitivamente para depor, resolve o enigma. O vazamento foi preparação para ela”. Segundo o jornalista, “explica também a saída do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. E pode esclarecer, também, a conduta da Procuradoria Geral da República: o depoimento de Delcídio estava com ela”.
E pergunta: “Explicaria também o fato do relatório sair em uma revista alinhada com Aécio, por uma repórter próxima a Cardozo?”
Vamos ao nosso jogo de xadrez sobre o terremoto político de ontem, com a notícia sobre a suposta delação premiada do senador Delcídio do Amaral.
O comentário é de Luis Nassif, jornalista, publicado por Jornal GGN, 04-03-2016.
Eis o comentário.
Peça 1 - a delação premiada de Delcídio do Amaral provavelmente é verdadeira.
Há um conjunto de indícios nessa direção.
O primeiro, a existência de um documento organizado com anexos e tudo, que se pode conferir nas imagens divulgadas. Não se trata nem de rascunho, nem de check-list.
Segundo, o fato do próprio Procurador Geral da República Rodrigo Janot ter deixado entrever, dias atrás, a existência de uma delação bomba, detalhada, que estaria em mãos de Teori Zavaski.
Também, o fato de nem Janot nem Delcídio terem desmentido a existência da delação. Janot limitou-se a desconversar e Delcídio a afirmar que não podia garantir a origem e a autenticidade dos documentos mencionados na reportagem.
Finalmente, o fato do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo ter batido direto em Delcídio. Poderia limitar-se a rebater as denúncias. Mas a troco de quê bater em Delcídio se não houvesse segurança sobre a existência da delação?
Peça 2 - os focos de vazamento.
A estratégia dos vazadores consiste em agir quando as informações sigilosas estão em mais de um local. No caso, quem teria acesso à delação seriam fontes da PGR ou do STF (Supremo Tribunal Federal). Não passa pelo escoadouro da Lava Jato.
Por outro lado, o vazamento foi através de uma revista estreitamente ligada à Aécio Neves, mas por uma repórter próxima ao Ministro Cardozo.
Nesse eixo, cabe tudo: vazadores a serviço da oposição ou do governo.
Peça 3 - os interesses em jogo.
Aí, cabem várias hipóteses aventadas durante o dia.
Hipótese 1 - alguém interessado em aumentar o fogo do impeachment que atingirá seu auge nas próximas semanas com a ofensiva sobre Lula e as manifestações do dia 13. Essa hipótese justificaria o fato da reportagem não se referir a nenhum grão-duque do Congresso. Boa probabilidade.
Hipótese 2 – o receio de algum recuo de Delcídio. O vazamento seria a a maneira de não desperdiçar o conteúdo da delação original. Como há um conjunto muito grande de inconsistências, haveria o receio de que fosse podada, quando analisada pelo Ministro Teori Zavascki. Boa probabilidade.
Hipótese 3 - na direção oposta, a desmoralização antecipada da delação, realçando os aspectos mais vulneráveis, para anular seu impacto posterior, caso fosse endossada pelo STF. É impossível que, em mais de 400 páginas de delação, aliás, a revista ter destacado aspectos tão inconsistentes da delação. Provavelmente focou apenas nos trechos que se referiam a Lula e Dilma. Média probabilidade.
Hipótese 4 – seria uma maneira do PGR pressionar o Ministro Teori a endossar a delação. Baixa probabilidade.
As consequências
O vazamento nublou o impacto da aceitação da denúncia contra Eduardo Cunha pelo STF. Mas a ofensiva pelo impeachment jogará todas suas fichas nas próximas semanas com o ativismo político de sempre da Lava Jato.
De qualquer modo, o foco central do impeachment reside na fragilidade demonstrada até agora pelo governo Dilma, pela dificuldade de concatenar uma pauta nacional mínima.
E a fraqueza maior da campanha do impeachment está na incapacidade da oposição de apresentar um rascunho de projeto de país. O grupo central pró-impeachment – Gilmar Mendes, Aécio Neves, José Serra, Michel Temer – não consegue passar a ideia de espírito público e de brasilidade.
A operação deflagrada agora de manhã, visando levar Lula coercitivamente para depor, resolve o enigma. O vazamento foi preparação para ela.
Explica também a saída do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. E pode esclarecer, também, a conduta da Procuradoria Geral da República: o depoimento de Delcídio estava com ela.
Explicaria também o fato do relatório sair em uma revista alinhada com Aécio, por uma repórter próxima a Cardozo?
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As suposições sobre o caso Delcídio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU