19 Outubro 2015
A intervenção na Aula sinodal comove a assembleia, que entra no cerne do debate sobre os sacramentos aos divorciados: "Na Igreja, não somos 'oficiais de imigração', que devem controlar perenemente a integridade daqueles que se aproximam". O papa: "Cuidado com os doutores da lei";
A reportagem é de Andrea Gualtieri, publicada no jornal La Repubblica, 15-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A história, contada na frente do papa durante a assembleia plenária do Sínodo, comoveu muitos dos prelados envolvidos no debate sobre a família. Foi justamente um bispo, cujo nome não foi relatado, que contou a experiência vivida: ele estava celebrando a missa da primeira comunhão em uma paróquia, quando um menino, que foi ao altar para receber a hóstia consagrada na mão, repartiu-a e deu um pedacinho para cada um dos seus pais, que, sendo divorciados recasados, não poderiam tê-la recebido.
O relato foi revelado durante a coletiva de imprensa cotidiana sobre os trabalhos do Sínodo pelo Pe. Manuel Dorantes, colaborador para a língua espanhola do Pe. Federico Lombardi, e é significativo dos casos trazidos por aqueles que pedem uma reforma da norma que impede o acesso à comunhão por parte daqueles que se divorciaram e começaram uma nova relação.
Depois dos primeiros dez dias, o debate do Sínodo chegou justamente a abordar a terceira parte do Instrumentum laboris, relativa às feridas da família. E o tema dos recasados é um dos eixos mais difíceis da discussão, junto com a da acolhida aos homossexuais e a contracepção.
Não aos "oficiais de imigração"
"Não se trata de mudar a doutrina católica, mas a nossa atitude", foi dito na assembleia. Sobre os recasados, em particular, como destacaram alguns dos Padres sinodais, a Igreja "deve se perguntar o que ela faz por eles de modo concreta".
O nó, porém, continua sendo o acesso aos sacramentos, contra o qual alguns bispos se levantaram abertamente. "Falamos sobre o processo de nulidade e de todas as formas pelas quais um divorciado ainda pode participar na vida eclesial", disse na coletiva de imprensa Stanislaw Gadecki, arcebispo de Poznan e presidente da Conferência Episcopal Polonesa, explicando que os prelados poloneses tinham excluído a hipótese de permitir a reaproximação à comunhão, mas especificando que os recasados "não estão excomungados" e que, muitas vezes, "têm um desejo maior de ter acesso à Eucaristia do que aqueles que têm direito".
Por outro lado, um dos Padres sinodais sublinhou na assembleia que no texto-guia há apenas uma vez a palavra "perdão", pedindo para se valorizar esse aspecto. E outro reivindicou: "Na Igreja, não somos 'oficiais de imigração', que devem controlar perenemente a integridade daqueles que se aproximam".
Entre as hipóteses de trabalho que serão abordadas nos próximos dias para superar a prática atual está a do "caminho de discernimento" e de uma "via penitencial". Percurso, este último, que é um pré-requisito fundamental para o acesso de qualquer pessoa à comunhão e que, destacou-se, requer que se reafirme o ensinamento sobre o pecado.
O caminho mais percorrido por aqueles que defendem a tese da readmissão dos recasados parece ser a de "avaliar história por história", colocando limitações para os casos particularmente significativos.
"Cuidado com os doutores da lei"
No entanto, foi excluída a hipótese de soluções diferentes de acordo com o contexto geográfico: "Eu venho da distante Austrália. A forma como nós vivemos a nossa fé é muito diferente da Igreja na África, na América do Sul e na Ásia. Mas, sobre os pontos essenciais da doutrina e sobre os sacramentos, especialmente a comunhão, obviamente a unidade, do ponto de vista do ensinamento, é essencial", declarou em entrevista à Rádio Vaticano o cardeal George Pell, prefeito da Secretaria para a Economia e considerado um dos artífices da carta entregue ao papa na abertura do Sínodo para contestar os procedimentos.
Nas suas palavras, há uma ênfase: "É óbvio que o Santo Padre diz que a doutrina não será tocada. Como nós falamos da doutrina moral, sacramental, nesta, obviamente, há um elemento essencial da prática, da disciplina."
Pelos mesmos microfones, no entanto, Dom Bruno Forte, secretário especial do Sínodo, salientou: "Acredito que uma via pastoral muito concreta é a que se articula, acima de tudo, no estilo de acompanhamento, que significa acolhida de todos, companhia da vida e da fé, portanto, proximidade, escuta, partilha".
Ele explicou que a "via" ao longo da qual se poderá encontrar uma resposta é a de "caminhar em profunda comunhão com o Papa Francisco" e com "a gradualidade do acompanhamento e da integração".
Na parte da manhã, o pontífice, ao celebrar a missa na capela da Casa Santa Marta, havia alertado para "guardar-se dos doutores da lei, que encurtam os horizontes de Deus e tornam pequeno o seu amor".
Na assembleia, pediu-se uma mudança de mentalidade das comunidades eclesiais, com uma reorganização das paróquias em torno da pastoral familiar e com a criação de pequenas comunidades estáveis de famílias locais que acompanhem outras famílias, ajudando-as também nos momentos de dificuldade.
No geral, parece prevalecer um pedido unânime de uma maior formação na preparação para o matrimônio e no acompanhamento dos esposos, e novos métodos de catequese, para os quais alguns pediram que se abandone a linguagem atual, considerada muito "escolástica".
"Há uma grande riqueza de propostas pastorais concretas", observou o padre Lombardi.
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O relato de um Padre sinodal: "Um menino repartiu a hóstia para dar aos seus pais recasados" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU