05 Outubro 2015
Uma “pressão midiática indébita” sobre o Sínodo que inicia hoje. O porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi definiu assim a clamorosa saído do armário do padre Krzystof Charamsa, iniciado na tarde de sexta-feira nos principais jornais polacos.
“Apesar do respeito que merecem os eventos e as situações pessoais, uma manifestação tão clamorosa na vigília da abertura do Sínodo parece ser muito grave e não responsável, já mira a submeter a assembleia sinodal a uma indébita pressão midiática”, disse Lombardi.
O porta-voz vaticano anunciou também que ‘certamente’ Charamsa não poderá continuar a trabalhar na Congregação para a Doutrina da Fé e nas universidades pontifícias.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 04-10-2015. A tradução é de IHU On-Line.
A reação prevalente nestas horas, no Vaticano, é de ‘dor e espanto”. Ainda que a opção do prelado polaco, na realidade, não foi uma surpresa total para a cúpula do ex-Santo Ofício onde Charamsa chegou em 2003, quando era chefe do dicastério Joseph Ratzinger.
Por muitos anos ninguém teve dúvidas sobre ele. Nas últimas semanas, porém, algumas de suas posições surpreenderam. Numa entrevista à rádio Catalunya Ràdio, defendeu abertamente o direito à autodeterminação dos povos e portanto a independência da Catalunha, provocando reações brabas dos bispos espanhóis. O problema não consistia nas suas palavras mas no fato de quem as pronunciava, ou seja, um expoente do ex-Santo Ofício. Isto era interpretado como sendo uma posição do Vaticano.
Há alguns dias, Charamsa publicou numa revista católica polaca de Cracovia, Tygodnik Powszechny, um longo artigo crítico contra os tons ‘homofóbicos’ de alguns padres da Polônia, suscitando a ira dos bispos poloneses. No entanto, ele já assegurara a sua saída do armário, com exclusividade, a uma revista polaca e nos últimos dias não foi trabalhar na Congregação vaticana alegando motivos de doença.
A escolha do timing não podia ser mais clamorosa: na vigília da abertura do Sínodo e com um livro já pronto com os detalhes da sua história.
A vontade de chamar a atenção dos padres sinodais sobre, pelo menos dois temas, é evidente: o celibato sacerdotal e a homossexualidade.
O primeiro não está na ordem do dia do Sínodo e o próprio Papa Francisco já disse que isto não está em discussão.
O segundo tema apenas aflorou no longo documento preparatório sinodal, o ‘Instrumentum laboris’, no qual somente se acena à cura pastoral para as família que ‘vivem a experiência de ter no seu seio pessoas com orientação homossexual”.
No documento se sublinha que “os homens e mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidas com respeito e delicadeza” e que não devem ser discriminados, na Igreja e na sociedade. Mas se afirma também que “não existe nenhum fundamento para assimilar ou estabelecer analogias, nem remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimônio e a família”.
Mas o caso de monsenhor Charamsa não é a única tentativa de orientar a agenda do Sínodo sobre a Família.
Com modalidades obviamente muito diferentes e do lado oposto, nos últimos dias, em Roma, realizaram-se congressos e seminários para exigir que nada mude no que diz respeito à comunhão dos divorciados recasados e à homossexualidade.
Num congresso realizado no Angelicum, no dia 30 de setembro, o cardeal Raymond Leo Burke, criticou a reforma da nulidade matrimonial promulgada pelo Papa Francisco. Outros purpurados e bispos pediram que sejam fechadas as portas para qualquer possibilidade de mudar qualquer coisa na disciplina sacramental.
O bispo auxiliar de Astana, Athanasius Schneider definiu como “heréticas” as posições mais abertas sobre a comunhão aos divorciados.
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“Pressão midiática indébita”. Papa ‘assediado’ por quem quer orientar a sua agenda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU