15 Junho 2015
O ambientalista Filipino Yeb Saño é apenas um dos 1,2 bilhão de católicos no mundo que, no dia em 18 de junho, irá ler a encíclica do Papa Francisco sobre o meio ambiente, documento que provavelmente irá pedir uma forte ação no tocante à ação do homem sobre as mudanças climáticas.
A reportagem é de Monica Tan, publicada pelo jornal The Guardian, 11-06-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Saño está em Sydney como embaixador espiritual do OurVoices, grupo ativista ambientalista religioso que busca “trazer a fé para as negociações sobre o clima”. Ele aposta que a carta encíclica do papa será “enfática na questão da justiça econômica e na responsabilidade moral, para que todos nós façamos parte do cuidado da criação”.
Em 2012, Saño ficou conhecido em todo o mundo quando um vídeo com o seu apelo emocionado às negociações climáticas da ONU se tornou viral. Na época, ele era o líder da delegação das Filipinas, num momento em que o país ainda se recuperava do impacto devastador do tufão Haiyan. Saño rompeu em lágrimas durante a sua alocução.
Ele irá fazer uma caminhada com outros membros de comunidades religiosas de Sydney ao longo da região portuária nesta sexta-feira (12), como parte da Peregrinação do Povo, que é uma campanha mundial multirreligiosa pelo clima. Saño diz que a religião ajuda a trazer uma dimensão moral importante “ao maior problema que enfrentamos hoje como família humana”, dimensão que “tem estado ausente” por mais de duas décadas.
Jacqui Remond, diretora do Catholic Earthcare Australia – agência ecológica da Igreja Católica na Austrália –, estará caminhando ao lado Saño. Remond diz que a religião católica enxerga a criação como “um presente de Deus”, o qual inspira os líderes eclesiásticos a falarem enfaticamente sobre as alterações climáticas.
O tema da encíclica a ser publicada em junho foi definido em 2014, depois da visita do papa em março a Tacloban, cidade devastada pelo tufão Haiyan. Uma semana antes de seu lançamento, o papa já enfrentava reações por esta sua decisão, com grupos conservadores americanos e líderes evangélicos criticando-o por estar se envolvendo naquilo que consideram uma “questão política”.
Calvin Beisner, porta-voz da organização conservadora Cornwall, disse, em entrevista no fim do ano passado ao The Guardian, que o papa deveria “se afastar” deste assunto.
“A Igreja Católica está correta quanto aos princípios éticos, mas foi levada ao engano em se tratando de ciência. Disso resulta que as políticas que o Vaticano está promovendo estão incorretas. A nossa posição reflete as opiniões de milhões de cristãos evangélicos nos EUA”, disse ele.
Um dos assessores mais próximos do Papa Francisco é o Cardeal George Pell, ex-arcebispo de Sydney e cético sobre as mudanças climáticas. Mas, para muitos cristãos, como Remond, a ciência e a religião não são visões de mundo incompatíveis. “George Pell tem uma opinião que não está em harmonia com a com a ciência”, diz. “Essa é a sua opinião e ele tem direito a emiti-la. Mas não é o que pensa a maioria dos bispos”.
E se o próximo edito do papa se mostrar progressista, ele ainda estará seguindo a posição assumida pela Igreja Católica na Austrália publicada há 10 anos, intitulada “Climate Change: Our Responsibility to Sustain God’s Earth”.
Remond diz que uma fé forte se constrói com rigor intelectual, emocional e psicológico, e que “buscar a Deus em nosso mundo, em nossas vidas e em todas as coisas é uma viagem de grandes descobertas, grandes riscos, grandes lutas, e de momentos de grandes dúvidas, que fazem parte dessa jornada”.
“Ter uma fé fortalecida significa que ela foi seriamente sondada e questionada”.
As comunidades religiosas trazem uma dimensão diferente para a discussão sobre as alterações climáticas, afirma Remond. Elas “falam a partir de diferentes fontes de sabedoria e unificam a mensagem do cuidado da Terra. E isso é algo que todos devemos reconhecer e apoiar de alguma forma”.
Quando o papa chama para defendermos “os pobres do planeta”, este seu chamado se estende para além humanidade, incluindo todas as espécies e todos os recursos da Terra, diz Remond.
“A mensagem central [da encíclica] irá nos lembrar da nossa responsabilidade em respeitar os equilíbrios naturais, os ciclos e os ritmos. Vivemos uma sensação encarnada de fazer a obra de Deus na Terra, alinhando-nos com aquela profunda forma espiritual de ser”.
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Yeb Saño, ambietalista filipino: mudanças climáticas são o maior problema que enfrentamos enquanto família humana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU