Por: Jonas | 04 Mai 2015
Nota da Redação de Rebelión: publicamos esta entrevista por seu interesse informativo e por esclarecer a posição de muitos intelectuais orgânicos da atual ‘Nova Maioria’.
Para o sociólogo Eugenio Tironi, o fato da Presidente Michelle Bachelet anunciar que, a partir de setembro próximo, será dado início a um processo de assembleias e conselhos cidadãos para mudar a Constituição, é um sinal claro de que o governo não dará seu apoio a uma Assembleia Constituinte para a substituição da atual carta magna.
A reportagem-entrevista é publicada por Rebelión, 30-04-2015. A tradução é do Cepat.
“Imagino que foi uma questão que pensou muito. Em primeiro lugar, eu diria que é a morte definitiva, digamos, de qualquer ideia de apoio por parte do Executivo à Assembleia Constituinte como fórmula de mudança da Constituição. Ontem, isso foi completamente descartado, e o que ela apresentou, pelo que eu entendi, foi um convite aos chilenos para iniciar um diálogo sobre qual o tipo de Constituição que queremos para o nosso futuro próximo”, disse em uma entrevista a Rádio ADN. Nela também analisou as medidas que a mandatária divulgou para enfrentar a crise que o sistema político atravessa em razão dos casos Penta-SGM e Caval, e que obedecem ao trabalho da comissão assessora presidencial contra os conflitos de interesses, o tráfico de influência e a corrupção, liderada pelo economista Eduardo Engel.
“Eu acredito que ela avaliou muito bem que nos convidar para um diálogo desse tipo é um ingrediente fundamental para recuperar a confiança nas instituições que regulam nossa convivência, e a verdade das coisas é que tendo a concordar com ela”, afirmou.
Sangue frio
Para Eugenio Tironi, o fato da mandatária aguentar até agora para dar uma resposta aos casos de corrupção, conceber um mecanismo de mudança constitucional e não tentar se manifestar com declarações “para se aparecer”, demonstra sua “coragem e sangue frio”.
“Eu acredito que aquilo que é apresentado pela Presidente revela muita coragem, revela muita convicção, muita propriedade e bastante moderação, porque não está pensando em uma Assembleia Constituinte, nem nada nesse sentido, mas em um diálogo muito mais moderado”, disse.
E ressaltou: “Ela é filha de um general da Força Aérea. Os generais da Força Aérea são, afinal, pilotos de aviões de combate, e ao piloto de avião de combate, se existe algo que o caracteriza, até onde eu entendo, é o seu sangue frio, é sua capacidade para soltar o míssil justamente no momento necessário, nem antes e nem depois. E eu acredito que a Presidente no timing que ela mesma se impôs, mostrou um grau de sangue frio muito notável (...) no sentido de não se precipitar com respostas que poderiam ter sido muito atrativas para se aparecer ou para nós, os analistas. Teria sido muito comovente, inclusive, mas poderia ter sido precipitada”.
“Esperar, o que exigiu sangue frio, os 45 dias que a comissão necessitava – em menos não seria possível uma proposta séria -, esperar também o tempo de formação desta comissão, que deve ter custado ‘muito muito muito’. Deve ter sido muito difícil fazer com que este grupo tão seleto de indivíduos aceitasse o compromisso de fazer parte dela, e depois o tempo que foi dado para receber o relatório, estudá-lo e de assumir esta proposta, então a verdade das coisas é que se cada um de nós colocar a mão no coração,temos em boa hora esta figura de Bachelet como Presidente da República, neste momento do Chile, liderando como ela destacou em outro aspecto importante de sua ponderação ontem, dizendo que o que fizer nesta matéria será seu legado”, manifestou Tironi.
“Mudança radical”
Eugenio Tironi também considera que o alcance das propostas da comissão Engel é inclusive maior ao que poderia gerar uma Constituinte e ressaltou que se trata de “um processo de mudança radical”.
“As medidas que foram anunciadas são um pacote muito contundente, muito sério que atingem questões muito de fundo e, inclusive, questões que eram tabu. Chamou-me atenção tudo o que tem a ver com a administração municipal, que eu acredito que é um campo de corrupção, de tráfico de influências muito extenso e ao qual eu acredito que o mundo político teria muito temor de colocar a mão”, disse.
Sobre este último ponto, disse que “aquilo que planeja a respeito dos municípios, em relação aos vereadores, conselheiros regionais, é que nenhum deles possa ser contratado pelos municípios, é uma revolução; eu diria que a revolução que a comissão Engel planeja é muito maior do que aquilo que, inclusive, uma Assembleia Constituinte pode fazer. Como não estamos percebendo que as placas tectônicas estão se movendo”.
E sobre a medida que propõe o fim das doações de empresas para campanhas, considera que é algo necessário para “igualar o campo”.
“E retirar o principal subsídio que um setor político possuía, que contava com o subsídio do binominal, que estava perdendo, que tinha um enorme subsídio com os excessos de financiamento que permitia, muitas vezes, dobrar, triplicar, quadriplicar, em nível de vereadores, prefeitos, deputados e senadores (...), isto iguala as condições de uma maneira drástica”.
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“Bachelet selou a morte definitiva de qualquer Assembleia Constituinte” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU