Por: Cesar Sanson | 18 Março 2015
Rudá Guedes Ricci
Manifestação contra o golpe convocada para 1 de Maio. Os aecistas provocaram. Quem acalmará os ánimos?
Datafolha desmontou o teatro de domingo. Quem diria?
O Datafolha deu a senha para que nas próximas manifestações ocorram confrontos de rua
O Datafolha deu a senha para que nas próximas manifestações ocorram confrontos de rua
Marcelo Castañeda
Sinceramente, não tenho nada a dizer sobre o que todos devemos fazer na atual conjuntura. No fundo, pelo que tenho observado, acho que ninguém sabe o que deve ser feito, não existe projeto, não existe caminho coletivamente traçado. Sei que sozinhos não somos nada, não existe o redentor, nem o/a grande líder que nos irá salvar.
Uma luz no fim de túnel pode ser verificar o que estamos fazendo em termos de ações, articulação e organização na sociedade para além desta virtualidade, que é importante mas não é tudo. Um bom começo é estabelecer diálogos e trocas entre as práticas que cada um empreende e se engaja e que me parecem dispersas, como se estivéssemos cada um pro seu lado e não me importa o que o outro esteja fazendo (ainda que esteja aparentemente no mesmo campo de lutas que eu). Enfim, não vejo solução para a crise que vivemos no curto prazo. E não vai ser fácil encontrar.
Adriano Pilatti
"Nunca mais no Brasil nós vamos ver pessoas que, ao manifestarem sua opinião, seja contra quem quer que seja, inclusive a Presidência da República, possam sofrer quaisquer consequências." Dilma Roussef, 16-3-2015.
Mentira ou ignorância? Se, para variar, desconhece o que se passa debaixo de seu nariz, alguém precisa informar madamA que, neste momento, 23 jovens estão sendo julgad@s no Rio de Janeiro fundamentalmente por se manifestarem contra descalabros, incluído o da Copa das Tropas. A imensa maioria sem qualquer indício crível de terem feito outra coisa senão se manifestar, e uma delas pelo "crime" de advogar para manifestantes injustamente detid@s ou acusad@s.
Mais grave: a suposta "testemunha-chave" do kafkiano processo é um sargento da Força Nacional, enviado ao Rio pelo ministro da Injustiça de sua MajestadA para se infiltrar no movimento e colaborar com a repressão desencadeada por um dos mais suspeitos esquemas de poder já apoiados por ela e seu ex-chefe na dúzia de anos de seu mandarinato. Por coincidência, semana passada o dedo-duro foi ouvido em juízo por vídeo-conferência, falando de Brasília onde trabalha, como sua chefA.
Se sabia, então é de dar náuseas - e confirma que sua estupidez nada lhe permitiu entender sobre os movimentos de 2013-14, nem mesmo depois do contraste de composição social, "cromática" e de "pautas" entre os levantes anteriores e a micareta de domingo. Só para lembrar: em 2013-14, protestava-se contra a farra de gastos e corrupção dos megaeventos, contra remoções de famílias pobres, contra o genocídio da juventude pobre e negra, contra as discriminações em geral, e se reivindicava a desmilitarização das polícias, a democratização dos meios de comunicação, além de serviços de transporte, educação e saúde acessíveis e de qualidade, e ela era alvo muito secundário, "terciário" talvez, dos protestos.
Para @s menin@s de 2013-14, pobres ou "remediad@s" em sua grande maioria, a democrata e seus aliados, em coluio com a mídia que tanto parece criticar, só reservaram "tiro, porrada e bomba", jamais dialogaram. Agora a soberana se desdobra em promessas de entendimento com seus oponentes do andar de cima. Não deixa de ser coerente... Mas que não se iluda: ao menos aos que sofreram na pele, na carne e na alma o tsunami repressivo que ela co-patrocinou, e aos que a ele(a)s souberam ser sempre solidári@s, ela não engana mais. Não depois de mais essa declaração violentamente hipócrita.
Roberto Elias Salomão
Demorei dois dias (sou um pouco lento) refletindo sobre a polêmica do número de manifestantes no dia 15. Levei uma reprimenda na noite de domingo, por ter contestado o 1,7 milhão do balanço das PMs. Como tenho fixação por números (sou extremamente pontual, conto os cigarros que fumo e, de umas semanas para cá, até as calorias que ingiro), incomodei-me sobremaneira.
Daí, pensei: deixar de falar sobre o número implica de saída permitir que prevaleça a versão de que mais de um milhão, talvez dois milhões (houve quem falasse em três milhões) foram às ruas pedir “fora Dilma” e “fora PT”.
Ora, devido à fixação citada anteriormente, não posso acreditar que 2 milhões seja a mesma coisa que 400 mil. Talvez seja uma limitação minha, mas estou convencido que essa limitação atinge muita gente. Não fosse assim, não haveria essa guerra dos números, porque guerra significa o conflito entre duas partes. Duas, e não apenas uma.
Logo, os números têm importância. Quando uma das partes diz que não tem, é apenas para jogar fumaça nos olhos da outra parte.
Ponto. Parágrafo.
Os números não são tudo, porém. Do que aconteceu domingo e dos desdobramentos, tiro duas conclusões:
Primeiro, uma massa considerável foi às ruas. Motivação principal: “fora Dilma” e “fora PT”. Tem importância o fato de que a grande maioria era de eleitores do Aécio, mas isso não é decisivo, porque em novembro Aécio não conseguiria juntar mil pessoas nem em Belo Horizonte. Deduz-se, portanto, que a situação política mudou consideravelmente. Se a maioria dos manifestantes tinha por foco o “combate à corrupção”, isso também tem importância, uma vez que, em função do silêncio e omissão das direções do PT nos últimos dez anos, frutos da adaptação do PT às instituições vigentes e suas práticas pouco recomendáveis, a pecha de corrupção acabou associada ao partido. E também ao governo de uma petista. Não foi difícil aos organizadores do dia 15, com apoio de todos os grandes meios de comunicação, canalizar essa difusa insatisfação popular.
Segundo, a reação do governo (não vi até agora reação do PT) foi uma lástima. Inicialmente, ministros (Cardoso e Rossetto) vão à TV, no dizer de um analista, “estender as mãos trêmulas” para um diálogo impossível com quem quer ou derrubar o governo ou vê-lo de joelhos. Depois, Dilma diz que está “feliz” com as manifestações, relembra seu passado de militante contra a ditadura e afirma que lutou para que todos tivessem o direito de se manifestar.
É uma casa de doidos, e me desculpem os doidos. Esse tipo de reação só leva a uma maior submissão. Já se fala de pacto com FHC, de Temer como articulador político, do cacete a quatro, mas tudo no mesmo sentido: a genuflexão diante dos inimigos.
No meio disso tudo, há um elemento do qual Rossetto, Cardoso, Dilma e outros fogem como os lobisomens de uma réstia de alho. Nenhum deles se referiu aos atos do dia 13, em defesa da Petrobras, dos direitos dos trabalhadores e da Constituinte. Não foram, ao contrário do que se tentou cravar, atos em defesa do governo Dilma, mas sim em defesa do mandato popular conferido a Dilma no segundo turno das eleições do ano passado. Foram atos em defesa do “nem que a vaca tussa”. E a desilusão, que passa longe do apoio a qualquer tentativa golpista, se deve ao fato de Dilma ter-se curvado tão rapidamente.
Os burocratas raciocinam assim: no dia 13, foram 100 mil; no dia 15 foram 1 milhão (estão prontos a aceitar os 2 milhões). Logo... Esquecem-se que, por detrás dos 100 mil, há milhões. Nem sequer cogitam que do lado de lá, entre o 1 milhão ou 2 milhões, há muitos que poderiam ser atraídos por uma política justa. O socialismo de gabinete só consegue entender a luta de classes de gabinete.
O governo e o PT têm uma alternativa. Não é como se não houvesse qualquer escolha. Mas é necessário oPTar.
Pablo Ortellado
Quando fui ao protesto de domingo analisar o processo político pelo qual o país está passando, uma coisa me chamou a atenção: a extrema gentileza e civismo com que fui tratado. Isso me chamou a atenção porque aquele meio social da classe média alta, à qual pertenço, é muito pouco civil e cordato. Não houve nada demais: foi um "olá" gentil, gratuito, um sorriso, um apoio na hora em que tropecei, o respeito na longa e desnecessária fila para comprar um guarda-chuva - coisas que não são comuns no cotidiano da nossa classe social que oscila entre o indiferente e o abertamente rude.
Lá, no entanto, havia um clima de civismo e uma aspiração autêntica para uma vida mais civilizada. Esse espírito público tinha a ver com a manifestação, que tinha caráter mais ou menos político, mas tinha como contexto uma comunidade muito homogênea, de pessoas iguais, de gente instruída, de homens de bem.
Ás vezes vejo o mesmo fenômeno quando os motoristas sentem orgulho da própria civilidade quando param para o pedestre passar na Vila Madalena ou na USP. Mas esse cuidado e respeito com o outro é usualmente restrito à classe média profissional que, sociologicamente falando, são os cidadãos de fato na nossa sociedade cindida.
É inevitável pensar que a ampliação deste civismo, numa sociedade de respeito universal só pode ser alcançada por meio de tudo que esse "homem de bem" despreza: por meio de greves, por meio da desobediência civil, até mesmo aquela que ele considera violenta e por meio da contínua ascensão dos excluídos. No fundo, há uma contradição muito patente entre querer um mundo civilizado, de espírito público e cidadania universal e rejeitar qualquer movimento de ascensão dos pobres, das mulheres e dos negros.
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