Corte nos "ministérios" e menos purpurados: a revolução de Francisco na Cúria

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18 Fevereiro 2015

Menos cardeais na Cúria. Três ou quatro grandes polos para se reagrupar a pletora atual de dicastérios vaticanos. Criação de um novo escritório do Ambiente, caro ao papa pronto para lançar uma encíclica verde. Mais "transparência" e "verdadeira colegialidade".

A reportagem é de Marco Ansaldo, publicada no jornal La Repubblica, 15-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Esses são os principais pontos nos quais está se desenvolvendo a reforma da Cúria, nas linhas delineadas nestes dias pelo Conselho restrito dos cardeais, o chamado C9, liderado pelo hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, e discutidas no Vaticano antes da criação dos 20 purpurados.

Mas Francisco conseguirá fazer passar a sua nova revolução, voltada a diminuir o poder dos cardeais curiais e destinada a causar resistências e polêmicas? Vejamos, enquanto isso, uma a uma, as novidades.

Dois novos polos

A reforma, da forma como foi apresentado na Aula do Sínodo aos 165 cardeais presentes, visa a instituir duas Congregações que encorporariam temas e funções agora distribuídos em vários dicastérios. Uma para os leigos, família e vida, que salientaria a importância do laicato. E uma para caridade, justiça e paz.

Esses dois novos polos reuniriam diversos Pontifícios Conselhos (como por exemplo o "Cor Unum" sobre a solidariedade "Justiça e Paz", Saúde, Migrantes etc.) e a eles também se poderia unir a Academia para a Vida e a Academia das Ciências Sociais, assim como a Caritas Internationalis.

Superministério da Cultura

Na reunião do C9, foram ouvidos o cardeal Gianfranco Ravasi, sobre o futuro do Pontifício Conselho para a Cultura, por ele presidido, e o Mons. Paul Tighe, secretário do conselho para as Comunicações Sociais.

Ravasi propôs a criação de uma nova grande Congregação que some a já existente para a Educação Católica à Cultura e que contemple outros satélites como as Pontifícias Academias das Ciências e das Ciências Sociais, os Museus e a Specola (ambas agora sob a égide do Governatorato), o Arquivo e a Biblioteca Vaticana.

Candidato natural para reger um superministério como esse pode ser o próprio Ravasi. Outro nome que se apresenta é o do padre Antonio Spadaro, diretor da revista La Civiltà Cattolica, jesuíta como Jorge Bergoglio, primeiro entrevistador do Papa Francisco e homem atento ao mundo da literatura, assim como das novas mídias.

Dilema economia

Ainda está em discussão o destino dos dicastérios econômicos. Desmentidas as rixas sobre o controle dos orçamentos entre a recém-nascida Secretaria para a Economia, do cardeal George Pell, e a Propaganda Fide, do "papa vermelho" Fernando Filoni, quem guiará, no futuro, as finanças vaticanas?

O dilema é saber se os vários outros organismos que gozam de disponibilidade financeira (como a Secretaria de Estado, Propaganda Fide, Igrejas Orientais, Doutrina da Fé, Apsa e Governatorato) conseguirão conservar as suas prerrogativas.

Escritório para o ambiente

Surge um novo setor que diz respeito à "proteção da criação, visto de um ponto de vista não só naturalista, mas também da ecologia humana e social". A intenção de Francisco é a de criar um subdicastério dedicado ao Ambiente, que conflua em um dos dois novos polos em gestação, mas ainda dotado de um certo peso.

Canteiro de obras em aberto

Os trabalhos da reforma não vão terminar antes de 2016. "É um canteiro de obras em aberto", comenta o porta-voz papal, padre Federico Lombardi. Não está claro o destino de outros dicastérios: como o do Diálogo Inter-religioso ou da Nova Evangelização, liderado por Dom Rino Fisichella, último ministério vaticano da história, criado pelo antecessor de Francisco, Bento XVI.

Menos cardeais

Menos ministérios significa menos cardeais na Cúria, como disse Dom Marcello Semeraro, secretário de C9. Mas isso, no futuro, poderia trazer resistências para o papa, comenta-se do outro lado do Tibre. Até mesmo dos seus apoiadores, uma vez diminuído o seu poder à frente de dicastérios, em breve, destinados a desaparecer.