Por: André | 02 Fevereiro 2015
“Alguns salvadorenhos pensam que é um erro beatificar dom Romero, como também foi um erro tê-lo matado enquanto celebrava a Eucaristia”, escreveu dom Jesús Delgado Acevedo, vigário-geral de San Salvador e ex-secretário do arcebispo assassinado pelos esquadrões da morte em 1980 e cuja causa de beatificação, praticamente em sua fase final de tramitação, foi desbloqueada depois da eleição do Papa Francisco.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada no sítio Vatican Insider, 30-01-2015. A tradução é de André Langer.
O religioso e também diretor da revista Orientación escreveu que “os santos nem sempre são caros”, em dois sentidos: porque a causa de Romero não custará nada à Igreja local e porque, assim como “as suas sórdidas ações”, nem todos em El Salvador veem com bons olhos a beatificação de Romero, cuja vida e testemunho Jesus via com muito bons olhos, como demonstra seu martírio.
“O processo de beatificação de um cristão é caro, no sentido de pesado”, escreve Delgado. “É algo que implica o trabalho de muitas pessoas que têm que investigar os dados para compor, iluminar e consolidar a documentação base do processo. Há também aqueles que examinam e analisam o material apresentado; depois, os advogados, aquele que defende a causa e aquele que a impugna (este último é chamado de “advogado do diabo”). Também há as secretarias. Por mais caro que seja, é um processo do estilo, nenhum santo cai do céu”.
Além disso, em “outro sentido”, os processos de beatificação são “caros”, porque os “santos, com sua beatificação ou canonização, são a alegria de muitas pessoas. É o caso de São Francisco de Assis”. No entanto, “a Igreja sabe muito bem que os santos se assemelham a Jesus, no sentido de que são pessoas que brilham por suas vidas e suas palavras, como uma luz no meio das trevas. As trevas incomodam porque a luz destes cristãos põe a descoberto suas sórdidas ações. Confundidos, muitos deles apagam violentamente a luz”.
Na história, prossegue o ex-secretário de Romero, “há processos de canonização que não foram caros, nem no sentido de pesado, nem no sentido de gozoso. É o caso de Santo Tomás Becket. Foi tão evidente o ódio contra a fé daqueles que o mataram, que não custou nada canonizá-lo. O próprio Henrique II da Inglaterra, que primeiro quis Tomás Becket até nomeá-lo arcebispo, depois passou a odiá-lo, quando o arcebispo Tomás assumiu a defesa da moral católica e a prática correta dos sacramentos”.
Agora, “o processo de beatificação de dom Oscar Arnulfo Romero pertence aos processos que não são caros. Primeiro, porque a Igreja que peregrina em El Salvador não gastou nenhum centavo para cobrir custos da mesma. Foi a Comunidade de Santo Egídio, em Roma, que assumiu não apenas o trabalho que implica a consecução da causa da beatificação de dom Romero, mas também os custos da mesma”. Segundo, porque “para alguns não é grato que Romero será beatificado. Com efeito, alguns salvadorenhos pensam que é um erro beatificar dom Romero, como também foi um erro tê-lo matado enquanto celebrava a Eucaristia.
Cumpre-se o que disse São João: “A luz brilhou no meio das trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la” (Jo 1,5); “e os seus não a receberam” (1,11). Poderia soar como poesia, mas é uma realidade que com a vida, as palavras e o testemunho de dom Romero, Jesus Cristo passou por nosso país fazendo ouvir a sua voz no vale das redes e nas veredas dos vulcões de El Salvador. Ao permitir que dom Romero fosse morto no altar, Jesus confirmou que sua vida e seu testemunho lhe foram gratos”.
Na sequência, o ex-secretário de Romero agradeceu à Comunidade de Santo Egídio por todas as fadigas e esforços (inclusive econômicos) que tornaram possível a beatificação tão desejada por muitos, embora não por todos: “Dentre os membros da Comunidade de Santo Egídio destaco o nome de dom Vincenzo Paglia, incansável promotor da causa de beatificação. Estou certo de que do lugar do seu repouso, dom Romero eleva sua voz para cantar: “Como pagarei ao Senhor todo o bem que me fez!”
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Em El Salvador há quem não quer a beatificação de Romero, diz seu ex-secretário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU