Por: Cesar Sanson | 28 Janeiro 2015
Sem chuva suficiente, São Paulo pode ficar até cinco dias por semana sem água, diz diretor.
A reportagem é de Marina Rossi e publicada por El País, 27-01-2015.
Num espaço de pouco mais de dois meses, o Governo de São Paulo e a Sabesp mudaram drasticamente de discurso. Em 10 de novembro, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), falou sobre a fortaleza do sistema de abastecimento de água do Estado e descartou o risco de racionamento. Nesta terça, o diretor metropolitano da companhia, Paulo Massato Yoshimoto, aventou, pela primeira vez, a possibilidade de um "rodízio drástico" na cidade, com cinco dias sem água e dois com fornecimento, em caso de "as chuvas insistirem em não cair no Sistema Cantareira" e as obras em curso atrasarem. Ele admitiu que a esperança de que as chuvas de verão voltem aos níveis normais nesta estação é "pequena".
"Se nós tivermos que retirar somente 10, 12 metros cúbicos por segundo [do abastecimento], seria necessário implantar rodízio de dois dias com água, cinco dias sem água. O equivalente a isso para ter uma economia necessária lá no Cantareira e não deixar que [o nível] continue caindo", disse Massato Yoshimoto, segundo o portal G1. O diretor da Sabesp não falou em prazos.
A declaração de Massato Yoshimoto ocorre um dia depois de a Sabesp finalmente divulgar os horários em que o abastecimento de água está sendo reduzido na cidade de São Paulo, que já convive com a falta d'água desde o ano passado, de maneira extra-oficial.
Por meio do site da companhia, é possível saber o horário e a frequência com que o abastecimento da água está sendo reduzido em cada bairro da capital e da Grande São Paulo. Em algumas regiões, o volume de abastecimento ficará comprometido por até 18 horas seguidas. A medida, porém, está sendo classificada como "rotineira" pela Sabesp, que diz que "a redução de pressão nas tubulações é uma tecnologia praticada rotineiramente pelas companhias de saneamento para redução de perdas de água".
Na opinião de Samuel Barrêto, especialista em água da ONG The Nature Conservancy (TNC), adotar o racionamento é importante para o controle do consumo, mas só isso não bastará. "A questão da informação e do esclarecimento junto com a sociedade é uma etapa chave para conscientizar a população", diz. "Mas o que estamos aguardando é um plano de contingência, que é uma demanda trazida pela Aliança pela Água", diz ele, em referência à coalizão lançada por entes da sociedade civil para debater a segurança hídrica.
Para Barrêto, a Governo de São Paulo e a Sabesp tem que divulgar um plano de contingência. "As medidas devem ser anunciadas no atacado, e não no varejo", diz. "Se, a cada dia, surgir uma ideia nova, é difícil contar, inclusive, com o suporte da população."
Sem previsão de chuva
O nível do Sistema Cantareira nesta terça-feira estava em 5,1%. Esse índice permanece estável desde o domingo. Mas as previsões climáticas continuam sendo negativas. Segundo o relatório de previsão climática sazonal elaborado pelo MCTI, a chuva deve continuar escassa nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país ao menos até o fim de janeiro. E outro agravante é que é difícil prever as precipitações nesta região do país por uma questão geográfica. "Não há quase nenhuma previsibilidade para a região Sudeste e Centro-Oeste na escala temporal de meses", explica Carlos Afonso Nobre, Secretário de Políticas de Pesquisa e Desenvolvimento, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI), e cientista climático.
Além disso, este mês está quase no final e aindalonge de atingir a média histórica de precipitações. "Janeiro é um mês historicamente mais chuvoso, e esse ano está sendo pior que o ano passado, que já foi um ano drástico", diz Barrêto. "Mesmo que tenha uma chuva forte nessa semana, é difícil chegar à média histórica [até o final do mês]". Para ele, a economia deveria ter começado há mais tempo e deveria ter sido centrada em uma meta maior. "Por isso estamos dizendo desde o ano passado que essa redução do uso tinha que ser de no mínimo 50%. E não foi. O nível de esforço vai ter que ser maior".
Calculadora dos sonhos
Foi batizada de calculadora dos sonhos' a página que a Sabesp criou para alertar sobre o consumo de água. Assim que entrou no ar, nesta segunda-feira, virou alvo de críticas nas redes sociais. "Calculadora dos sonhos: se isto não é estar rindo da nossa cara, eu já não sei mais o que é", disse o usuário @ma_pavoni. "Calculadora dos sonhos para nome de site em que você vê o quanto vai ficar sem água. É o Alckmin se superando em matéria de cara de pau", disse @jnflesch.
A Sabesp informa que a ferramenta serve para que os usuários saibam o quanto precisam economizar para comprar algum bem de consumo. Daí o nome.
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Sabesp, que descartava racionamento há dois meses, cogita “rodízio drástico” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU