10 Dezembro 2014
Na semana passada, entrevistas com dois influentes bispos de diferentes partes do mundo mostraram que não há nenhuma previsão de mudança sobre as regras da Igreja com relação aos católicos divorciados e recasados civilmente de receber a comunhão.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio Crux, 06-12-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
O cardeal Angelo Scola, de Milão, amplamente visto como um dos líderes intelectuais dos bispos europeus, disse ao jornal italiano Corriere della Sera: "Eu não consigo ver as razões adequadas de uma posição que, de um lado, afirma a indissolubilidade do matrimônio como fora de discussão, mas, de outro, parece negá-la nos fatos".
Scola advertiu que permitir a comunhão para os católicos que se divorciaram e se casaram novamente sem obter uma anulação - uma declaração de que sua primeira união não tinha sido um casamento perante a lei da Igreja - pode estabelecer "quase uma separação funcional entre a doutrina, prática pastoral e disciplina".
"Como diremos aos jovens que se casam hoje – para os quais o "para sempre" já é muito difícil – que o matrimônio é indissolúvel, se eles sabem que, no entanto, sempre haverá uma saída?", perguntou Scola.
Ele disse acreditar que a situação era "de longe a postura mais seguida" no recente Sínodo dos Bispos sobre a família, e previu que o Papa Francisco acabará por decidir manter a prática atual.
Em vez de permitir que os divorciados novamente casados possam receber a comunhão, Scola disse que apoia a aceleração dos procedimentos para a concessão de anulações.
Em uma entrevista ao Crux, Dom Anthony Fisher disse algo parecido, diminuindo as expectativas de mudança. Fisher é o recém-nomeado arcebispo de Sydney, um protegido do cardeal australiano George Pell, poderoso czar das finanças do papa, e um dominicano que é visto como uma das melhores mentes em bioética entre os bispos de língua inglesa.
"O objetivo pastoral é ver como nós vamos ajudar as pessoas que estão sofrendo", disse Fisher. "Desta forma, as coisas vão mudar, e espero que nós encontremos algumas maneiras de ajudá-las".
"Mas, no fim, não vamos dizer, 'Não, Deus entendeu errado'", disse ele, prevendo que "após um ano de discussão, ainda vamos dizer o que Cristo disse".
Isso ecoa uma frase de Pell em um fórum promovido pelo sítio Crux em Roma em outubro.
"Alguns podem querer que Jesus pudesse ter sido um pouco mais suave sobre o divórcio, mas ele não foi", disse Pell. "E eu fico com ele".
Nenhuma das vias do debate sobre os divorciados que voltaram a casar está fechada, mas certamente é uma clara indicação de que a oposição a qualquer mudança não desapareceu, na sequência do sínodo de outubro. Pelo contrário, o debate tornou-se mais entusiasmado, o que significa que é provável que o assunto seja um ponto de discórdia quando os bispos se reunirem novamente para um segundo sínodo sobre a família em outubro de 2015.
Se esse sínodo não conseguir produzir um amplo consenso de um jeito ou de outro, então, ao final de um processo de um ano de reflexão, o catolicismo estará de volta para onde tudo começou. E, então, a pergunta deixará de ser o que os bispos pensam sobre permitir a comunhão aos divorciados novamente casados, mas o que o Papa Francisco vai fazer.
Quanto a isso, e com o devido respeito a Scola ou a qualquer outra pessoa que pensa que sabe a resposta, eu tenho dito há muito tempo que esse papa deveria vir com uma etiqueta assim como os maços de cigarros.
A mensagem seria: "Aviso: As previsões são perigosas para a sua saúde".
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O debate sobre o divórcio continua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU