09 Dezembro 2014
Há notícias perturbadoras vindas essa semana do Paquistão sobre Asia Bibi, a mãe católica de cinco filhos, condenada à morte por enforcamento em 2010 pelo crime de "blasfêmia", alegadamente por ter insultado o profeta Maomé. Ela permanece na prisão, enquanto seus apelos finais fazem o seu caminho pelos tribunais paquistaneses.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio Crux, 06-12-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Na quarta-feira passada, o advogado de Bibi, Mushtaq Gill, esteve na Itália para angariar fundos para a causa de Bibi. Apesar de todo o cansaso da viagem, sem dúvida, Gill se sente bem por estar longe de seu país mesmo que seja por pouco tempo, uma vez que defender paquistaneses acusados de blasfêmia é, com certeza, perigoso para a saúde.
Em maio, por exemplo, um advogado e ativista de direitos humanos, que tinha defendido um outro caso de blasfêmia, foi morto a tiros por dois homens armados em seu escritório. Um panfleto não assinado alegou que ele encontrou seu "legítimo fim" por tentar "salvar alguém que tinha desrespeitado o profeta Maomé".
Gill relata que Bibi, que tem 40 anos, tem sido mantida em isolamento quase total há cinco anos e está com "problemas de saúde, febre alta, fortes dores de cabeça, e perdeu a esperança".
Isso apesar do fato, de acordo com Gill, que há realmente uma chance de que o Supremo Tribunal paquistanês anule sua sentença, uma vez que esses juízes "estão menos sujeitos a pressões de grupos radicais locais".
Gill disse que sua mensagem para a comunidade internacional se resume a: "Nós precisamos de vocês".
"Precisamos de apoio internacional", disse ele. "Vocês precisam pressionar o nosso governo para eliminar essa lei. Ela tornou-se uma arma para perseguir as minorias e, acima de tudo, os cristãos".
Em agosto, um veterano escritor italiano do Vaticano colocou o caso Bibi em sua lista de "silêncios estranhos" do Papa Francisco, sugerindo que o papa desperdiçou oportunidades para oferecer o tipo de pressão internacional da qual Gil se refere.
Supõe-se, é claro, que Francisco quer ver Bibi libertada. No entanto, papas e autoridades do Vaticano sempre tem que pesar suas palavras com cuidado, com medo de dizer algo provocativo que possa piorar a situação.
Ainda em 2011, Bento XVI disse algo interpretado no Paquistão como um pedido para a revogação da lei sobre a blasfêmia, o que desencadeou manifestações e respostas contundentes por parte dos líderes políticos seguindo a linha "fiquem de fora do nosso negócio".
Levando-se isso em consideração, pode-se apreciar o motivo pelo qual o Vaticano prefere operar nos bastidores.
Recentemente, no entanto, Francisco emitiu sinais de que está menos disposto a ser conduzido pela cautela diplomática. No final de sua viagem à Turquia, na semana passada, ele aproveitou uma coletiva de imprensa a bordo do avião para lançar um desafio direto aos líderes muçulmanos para que sejam mais claros em suas condenações ao terrorismo, a começar pelo ISIS.
Talvez Francisco também decidirá que esse é o momento para avançar com um pouco mais de força com relação ao caso Bibi, calculando que suas três viagens bem sucedidas às nações muçulmanas e a sua ruptura com as potências ocidentais, no ano passado com relação à Síria, tenha comprado algum capital político do qual ele pode agora lucrar.
O Paquistão tem relações diplomáticas com o Vaticano desde 1961 (apenas para constar, são 23 anos a mais do que os Estados Unidos). Talvez Francisco e seus assessores concluirão que, especialmente à luz da deterioração da saúde de Bibi, agora é a hora de colocar esses laços à prova.
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Silêncio papal sobre Asia Bibi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU