Por: Jonas | 22 Setembro 2014
Pela primeira vez, após décadas, bispos e cardeais voltarão a se enfrentar sobre teses radicalmente opostas, em especial sobre o sim ou o não à comunhão para os divorciados em segunda união. Foi o papa Francisco quem quis reabrir a discussão, com um resultado imprevisível.
Fonte: http://goo.gl/Ke5qkx |
A reportagem é de Sandro Magister, publicada por Chiesa.it, 19-09-2014. A tradução é do Cepat.
O sínodo sobre a família, convocado para outubro, no Vaticano, em uma coisa se assemelha ao papa Francisco: não permite prever como se desenvolverá e muito menos como terminará.
O Papa o desejou assim: aberto à livre discussão também a respeito de pontos que mais dividem, como, por exemplo, dar ou não a comunhão aos católicos divorciados, em segunda união no rito civil.
É necessário voltar mais de quarenta anos, em 1971, aos albores da história deste instituto, para encontrar outro sínodo também palpitante, naquele momento, sobre a superação ou não da obrigação do celibato para o clero da Igreja latina.
Depois de uma longa e ardente discussão, Paulo VI colocou em votação duas soluções contrastantes, entre as quais os padres sinodais precisavam escolher.
A primeira solução sustentava firmemente o celibato para todos, sem exceção. A segunda reconhecia ao Papa a faculdade de ordenar, “em casos particulares, por necessidades pastorais e para o bem da Igreja universal”, homens casados de idade madura e de vida exemplar.
Venceu a primeira solução, por 107 votos, ao passo que a segunda obteve 87 votos. Paulo VI quis que os resultados dos votos fossem publicados, incluindo o voto sobre o documento final do sínodo, que foi aprovado com 168 “sim”, 21 “sim” com reserva e 3 abstenções.
Desde então, a obrigação do celibato não voltou a ser colocada oficialmente em discussão. Nenhum outro sínodo se viu obrigado a escolher entre opções com tamanho contraste. O interesse dos meios de comunicação por estas questões se reduziu a zero. Até este ano.
Na realidade, um estremecimento que voltou a ser notícia aconteceu em 1999.
No sínodo daquele ano, o cardeal Carlo Maria Martini pediu que fosse convocado uma espécie de concílio permanente, com sessões em curto espaço de tempo sobre questões candentes como a anticoncepção, o divórcio, o lugar da mulher na Igreja.
“Não sou um antipapa – disse ele – mas, sim, um ‘ante’ Papa que se adianta para abrir caminho”.
Acertou, porque hoje há um Papa de quem não se sabe o que pensa, pessoalmente, sobre as questões suscitadas por Martini, mas reuniu todas e colocou em discussão.
Francisco começou fazendo distribuir, há um ano, um questionário de livre circulação sobre todas as questões que se referem à família, desde a anticoncepção até a comunhão aos divorciados, desde as uniões de fato até os casamentos entre homossexuais. E alguns episcopados nacionais, os de língua alemã na liderança, divulgaram os resultados, suscitando expectativas de liberalização na disciplina da Igreja.
Porém, depois, Francisco reuniu em Roma, no passado mês de fevereiro, um consistório de cardeais que funcionou como prova geral do próximo sínodo. A quem confiou a exposição introdutória? Ao cardeal alemão Walter Kasper, já nos primeiros anos de 1990 partidário combativo de uma superação da proibição da comunhão aos que estão em segunda união, mas derrotado e silenciado, nessa época, por João Paulo II e por Joseph Ratzinger.
Desse consistório, conheceu-se apenas a exposição de Kasper, todas as outras permaneceram em sigilo. Porém, pelas posteriores afirmações públicas de alguns cardeais, soube-se que as resistências às mudanças propostas por Kasper foram e continuam sendo amplas, aguerridas e acreditadas.
Entre os que resistem e que saíram do armário estão os cardeais Gerhard L. Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Raymond L. Burke, Timothy M. Dolan, Marc Ouellet, George Pell, Fernando Sebastián Aguilar, Carlo Caffarra e Angelo Scola, todos eles rotulados geralmente entre os conservadores.
Contudo, também é sabido que para formar um bloco com eles, contra Kasper, há alguns cardeais com fama de progressistas, como o austríaco Christoph Schönborn.
Todos eles se encontrarão no sínodo, para entrar em disputa, sem poupar divergências com Kasper e seus não tão sólidos partidários.
O fato que também os “reacionários” Caffarra, Scola e foram chamados pessoalmente por Francisco a fazer parte do sínodo, esfriou bastante os entusiasmos pelo atual Papa.
O jesuíta americano Thomas Reese, ex-diretor da revista “America” e mestre de opinião muito escutado, admirador fanático de Jorge Mario Bergoglio, no início de seu pontificado, após este último golpe passou definitivamente ao campo adversário, contra o que para ele é traição da revolução que se esperava.
No entanto, a batalha apenas começou. O iminente sínodo não trará nenhuma conclusão. Terá um segundo round, em outubro de 2015, após o qual não será o sínodo , mas, sim, o papa Francisco quem decidirá o que fazer.
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Estão abertas as apostas para o próximo sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU