Por: Jonas | 12 Setembro 2014
Ele diz tudo. Ao longo de mais de 600 páginas, o diretor de Religión Digital, José Manuel Vidal, disseca todos e cada um dos aspectos da vida e missão do cardeal-arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela.
Ainda neste mês de setembro, Rouco deixará o arcebispado.
Vidal, que apresentou aos meios de comunicação a obra “Rouco: uma biografia não autorizada” (Ediciones B) traça, “sem revanches, mas com memória histórica”, o relato de um homem, e o de uma Igreja, a espanhola, que perdeu “sua credibilidade social” após ser convertida em “um ator político”.
Fonte: http://goo.gl/ng8uMS |
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 10-09-2014. A tradução é do Cepat.
“Rouco se vai pensando que o Papa Francisco está equivocado, e que suas reformas serão um parêntese. Sai com a sensação de que entregou sua vida a serviço de um modelo de Igreja, que a eleição deste Papa jogou por terra”, destacou Vidal, assumindo que, apesar de tudo, e ainda que já se tenha nomeado o sucessor, “não será nada fácil que saia totalmente”.
“O cardeal Rouco passará para a história, de um lado, por ter mantido e aumentado os privilégios da Igreja na Espanha; e por outro, por conseguir afundar a imagem da Igreja e sua credibilidade”, disse o jornalista, que lamentou que “recuperar a imagem da Igreja dos tempos de Tarancón, custará muito”.
“Rouco quis travar um duelo de braço com o Governo de Zapatero, e ganhou a partida em quase tudo, ainda que a custo de construir uma Igreja do “Não”, uma Igreja aduana, em contraposição à Igreja hospital de campanha e de portas abertas”, apresentada pelo Papa Francisco.
A manifestação de junho de 2005 contra o casamento gay – “a primeira ocasião em que os bispos saíram atrás de um cartaz na democracia” –, marcou o ponto de inflexão de uma deriva ideológica que, na opinião do escritor, “levou a Igreja a se escorar muito à direita”, o que “levou muita gente. Rouco deixou muitos feridos, que necessitam de reparação”. As missas em Colón foram o ápice desta luta de poder.
Para Vidal, “Rouco é um homem que viveu por e para o poder, convencido de que era o que tinha que fazer”. Com a precisão de um cirurgião, e entrando em todos e cada um dos santuários do cardeal (a casa familiar, o cemitério onde repousam seus pais, o seminário, a Upsa, Munique, Santiago, Madri, Roma), o jornalista insiste que “o cardeal continuará promovendo muita guerra, pelo menos até os 80 anos”.
Vidal apontou que, ainda que Rouco tenha sido “muito progressista” em sua etapa na Alemanha, na Espanha se produziu, primeiro com Ángel Suquía e depois com ele, “uma mudança de modelo eclesial radical” e “uma involução tremenda”, durante todos estes anos.
O jornalista define Rouco Varela como um homem “frágil, não carismático, um canonista sem obra”, mas, ao mesmo tempo, “um homem de convicções e autoritário, que não suporta a mínima crítica”, em torno do qual se criou “um lobby político, social, econômico e eclesiástico”.
Não obstante, Vidal ressalta que na Conferência Episcopal Espanhola “cada vez fica menos” de Rouco, o cardeal que, em sua avaliação, “ficará marcado na história mais pelas sombras do que luzes”. “Na Igreja espanhola, não se tolerava a mínima discordância”.
Sobre a relação do cardeal com as instituições, Vidal afirma que vai muito mal com o presidente do Governo, Mariano Rajoy, e que a relação com o Rei Juan Carlos “nunca foi fluída”, mas, ao contrário, “distante”.
No que diz respeito a sua sucessão, Vidal afirma que a relação com Carlos Osoro foi boa até este chegar a Valência, “e começa a pensar que o modelo de Rouco tinha que se suavizar”. Rouco deixará que Osoro governe? “A sucessão é difícil, porque Rouco quer ficar e sua sombra será fisicamente alargada”.
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“Rouco se vai pensando que o Papa está equivocado, e que será um parêntese”, afirma José Manuel Vidal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU