22 Julho 2014
O comando da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff está preocupado com o voto evangélico, um eleitorado que representa 22,2% da população, ou 42,3 milhões de brasileiros, segundo o último Censo do IBGE. A avaliação interna é que Dilma não cultivou os laços com o segmento, e agora será mais difícil conquistar esse eleitorado, sobretudo diante da candidatura de um de seus representantes, o Pastor Everaldo Pereira (PSC), da Assembleia de Deus.
A reportagem é de Andrea Jubé e Bruno Peres, publicada pelo jornal Valor, 21-07-2014
Na última eleição, uma onda de boatos de que a petista defenderia a legalização do aborto no país e a união civil entre pessoas do mesmo sexo é apontada por dilmistas como um dos fatores que impediu a vitória no primeiro turno.
Naquele ano, um grupo arregimentado às pressas pelo ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, se uniu para declarar apoio a Dilma no segundo turno. Em troca, ela teve de assinar um documento comprometendo-se com o direito à vida e a não apoiar a união civil entre homossexuais.
O grupo era formado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e pelo bispo Robson Rodovalho, ambos da Sara Nossa Terra; pelo bispo Manoel Ferreira, da Assembleia de Deus de Madureira; pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus; pelo senador Magno Malta (PR-ES), da Assembleia de Deus; pelo senador Walter Pinheiro (PT-BA), da Igreja Batista, entre outros.
Agora, entretanto, o grupo se dispersou e a maioria não deve reiterar o apoio a Dilma. "Aquele movimento que existiu (em 2010) não persiste hoje. Realmente a tendência maior é de os líderes evangélicos apoiarem Everaldo", diz Eduardo Cunha.
A determinação da cúpula dilmista é restabelecer o quanto antes o diálogo com os fiéis. Gilberto Carvalho e Crivella foram escalados para a missão. Ambos reuniram-se há um mês para discutir o assunto com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Ficou acertado que Dilma receberá lideranças evangélicas nos próximos dias.
"O Pastor Everaldo tira votos sim da presidente Dilma entre os evangélicos, mas estou procurando costurar um acordo para que estejamos juntos no segundo turno", revela Crivella. De acordo com o último levantamento Datafolha, o senador lidera a corrida para o governo do Rio de Janeiro com 24% das intenções de voto, empatado com o ex-governador Anthony Garotinho (PR).
O vice-presidente do Conselho Nacional de Pastores do Brasil (CNPB) e um dos líderes da Sara Nossa Terra, Robson Rodovalho, observa que a candidatura de Everaldo divide, mas não monopoliza os fiéis. "A tendência natural do segmento é ir com Everaldo no primeiro turno, mas isso não significa que não tenha uma parte com ela ou com Aécio (Neves, do PSDB)", ressalta. "Mas para seguirmos com Dilma, vai depender de suas propostas. Ela se esforçou para honrar seus compromissos, mas algumas medidas polêmicas incomodaram", completou.
Embora Dilma tenha cumprido promessas com os fiéis, como não apoiar projetos pela legalização do aborto ou união civil homoafetiva, há um mau humor em relação à petista entre os evangélicos. Medidas de seu governo contrariaram o segmento, como a portaria do Ministério da Saúde que formalizou o aborto legal no SUS, ao preço de R$ 443,30 por cirurgia. A medida acabou revogada. Outra contrariedade foi uma cartilha do Ministério da Educação - o chamado "kit gay" - no primeiro ano do governo. O material visava combater a homofobia na escola, mas recebeu críticas de que seria ofensivo.
Além disso, ela é criticada por não abrir o seu gabinete para líderes evangélicos. A única agenda, realizada há um ano, foi costurada por Crivella e Carvalho: um encontro com cantoras de música gospel, bispas e pastoras no Palácio do Planalto. "Dilma foi simpática, tivemos momentos de emoção, cantamos, saímos com o coração agradecido", declarou na época a cantora Ana Paula Valadão, musa dos fiéis.
O senador Magno Malta (PR-ES), frisa que o candidato dos evangélicos é Everaldo. E que no segundo turno, ele vai pedir votos para "qualquer um", menos para Dilma. Malta promete cruzar o país ao lado de Everaldo e outro líder expressivo dos religiosos, o pastor Silas Malafaia, da Associação Vitória em Cristo, que estava com José Serra (PSDB) em 2010.
Embora apareça com 3% nas pesquisas sobre sucessão presidencial, Everaldo pode alcançar 8% no Rio, onde a Assembleia de Deus é muito forte.
Everaldo disse ao Valor, entretanto, que não pode adiantar como o eleitorado evangélico vai se comportar neste ano. "Esse eleitor é igual a todo cidadão, tem CPF, paga imposto, precisa de educação, saúde e segurança pública. O debate que vou levar à população é se um país pode fechar 32 mil escolas na área rural, como pode haver uma carga tributária das mais elevadas e serviços de submundo", relatou.
Para nortear o debate, a Confederação de Conselhos de Pastores (Concepab) vai apresentar um documento aos presidenciáveis, esperando compromissos dos candidatos com os temas, em especial contra o aborto, as drogas e a união homoafetiva. Reforçam a garantia da liberdade de expressão na prática religiosa.
Um ponto novo é a defesa de um Estado laico e contra um Estado ateu. Os pastores alegam que há um movimento em curso pela proibição de se mencionar o nome de Deus em documentos oficiais, e pela retirada de símbolos religiosos, como crucifixos, de repartições públicas.
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Dilma costura acordo com evangélicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU