10 Julho 2014
Os encontros que o Papa Francisco teve esta semana com seis sobreviventes de abusos sexuais foram um passo “importante e muito positivo” no caminho em direção à cura e a uma melhor proteção das crianças dentro da Igreja Católica. É o que diz uma irlandesa vítima de abusos que, atualmente, trabalha na Pontifícia Comissão para a Tutela de Menores.
A reportagem é publicada por Rádio Vaticana, 09-07-2014. A tradução é de de Isaque Gomes Correa.
Quando tinha 13 anos de idade, Marie Collins sofreu abusos do capelão de um hospital que, então, teve a proteção de seu arcebispo e que continuou com os abusos e estupros de outras crianças por durante 30 anos.
Esta semana ela esteve no Vaticano para acompanhar um dos seis sobreviventes de abusos da Irlanda, Alemanha e do Reino Unido numa missa e numa série de encontros privados com o Papa Francisco em sua residência, a Casa Santa Marta.
Philippa Hitchen sentou-se com Marie para ouvir suas impressões logo após os encontros de segunda-feira.
Eis a transcrição.
Foi muito bonito ver o papa escutando tão atentamente e ver os sobreviventes se sentirem ouvidos e terem a oportunidade de dizer tudo o que eles quisessem dizer. O que mais me impressionou dos encontros foi o fato de que o papa reservou-lhes bastante tempo, não havia pressa. Eu falei com a maioria dos sobreviventes quando eles saíam dos encontros privados e o sentimento geral era o de que tinham dito o que queriam dizer e que foram ouvidos...
Não importa o quanto saibamos sobre os abusos ou o quanto lemos sobre ele em teoria. Acho que se sentar diante de um sobrevivente que está dizendo para nós o que os abusos fizeram em sua vida e a seus familiares, o quão devastador isso é, deve ser emocionante e eu com certeza observei o papa reagindo ao que estava sendo contado. Acho que esta manhã foi de grande impacto emocional para ele bem como para os sobreviventes...
Falando pessoalmente agora, como um sobrevivente: sempre fiz campanhas a favor da responsabilização, porque podemos ter políticas de proteção duras, mas se a pessoa que deve implementá-las decide ignorá-las e proteger um abusador, e não há simplesmente nenhuma sanção para ela, então tais políticas não valem nada...
Assim, o que eu ouvi o papa dizer foi algo muito importante e positivo. Sabemos que existem abusadores em todos os lugares, em todas as classes sociais, mas a diferença com a Igreja e com o que fez esta crise ser tão escandalosa é que se protegeram os perpetradores.
Eu penso que o papa deu um exemplo aos outros bispos e arcebispos do mundo sobre o que estes deveriam estar fazendo... Não apenas ouvir um grupo de sobreviventes, mas sentar e escutar as histórias pessoais, uma por uma. É uma situação em que todos ganham. Para os sobreviventes, ela pode ser muito curadora, mas também do ponto de vista clerical: eles aprendem mais sobre os efeitos e isso pode ajudar a lidar com o assunto também...
Na qualidade de um sobrevivente, compreendo a ira que há por aí. Mas eu não iria estar apoiando algum sobrevivente caso pensasse que eles estivessem sendo explorados de alguma forma, ou sendo usados pela Igreja como um exercício de relações públicas...
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Encontro do Papa com vítimas de abusos: um passo importante em direção à cura, diz irlandesa vítima de abusos sexuais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU