G-77. A aposta por um mundo multipolar

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Por: Jonas | 18 Junho 2014

Evo Morales, Raúl Castro, Nicolás Maduro, José Mujica e outros presidentes destacaram a crise gerada pelo neoliberalismo e questionaram o papel dos Estados Unidos. A declaração da cúpula fixou a erradicação da pobreza como o objetivo central.

 
Fonte: http://goo.gl/QKePll  

A reportagem é de Sebastian Abrevaya, publicada por Página/12, 16-06-2014. A tradução é do Cepat.

“O neoliberalismo gerou uma crise econômica global que empurrou milhões de pessoas para a pobreza extrema. É hora de caminhar em outro sentido, para construir uma ordem social mais justa”, afirmou o presidente de Cuba, Raúl Castro, um dos chefes de Estado que participou, ontem, do dia de encerramento da cúpula do G-77+China. A representação dos mandatários latino-americanos terminou com as palavras do venezuelano Nicolás Maduro, o uruguaio José “Pepe” Mujica, o salvadorenho Salvador Sánchez Cerén e o anfitrião, Evo Morales, que concordaram nas críticas ao neoliberalismo, aos Estados Unidos e na necessidade de estabelecer “uma nova ordem mundial para viver bem”, tal como destaca o lema da convocação.

Depois de compartilhar o Encontro Plurinacional dos Povos, no sábado à tarde, os presidentes latino-americanos voltaram a mostrar suas concordâncias no plenário do G-77+China, do qual participaram delegações de quatro continentes. “Esta aprovação da declaração praticamente é um relançamento do maior grupo das Nações Unidas, um relançamento para que continue trabalhando com políticas de complementaridade e solidariedade, com muita ética, com valores”, afirmou Morales, durante a reunião extraordinária convocada por ocasião dos 50 anos da fundação do grupo de países em desenvolvimento, que atualmente alcançou os 133 membros.

A Declaração de Santa Cruz, aprovada pelos participantes na Cúpula do G-77+China, estabelece a erradicação da pobreza como o objetivo central e condutor da agenda de desenvolvimento pós-2015, que será motivo de discussão, no próximo ano, na assembleia geral das Nações Unidas. Entre seus 242 pontos, destacam-se o problema da desigualdade, os padrões de consumo e produção insustentáveis dos países desenvolvidos e a excessiva orientação ao lucro, que não respeita o planeta.

O presidente da Bolívia aproveitou a ocasião para revalorizar Fidel Castro – irmão do atual presidente cubano -, ao qualificá-lo como “o homem mais solidário do mundo”.

Raúl Castro, em seu discurso, acusou os Estados Unidos por “ameaçarem com ações ilegais” muitos dos povos representados na cúpula e, pontualmente, tratou o caso da Venezuela. “É alvo de uma campanha desestabilizadora, baseada nos princípios da guerra não convencional, que anima a subversão e a agitação interna”, afirmou, e reiterou que Cuba, há décadas, sofre “atentados, provocações e um bloqueio injusto”.

Maduro apresentou a necessidade de construir “uma nova humanidade”, e afirmou que o G-77 é um instrumento para a criação de um mundo “multipolar, pluripolar e multicêntrico, sem impérios, sem hegemonias, sem sistemas de dominação, nem de ameaças”. “É preciso retomar os projetos do sul, o Banco do Sul para o desenvolvimento em condições justas de uma nova ordem econômica internacional. É preciso retomar os projetos culturais para a independência cultural”, acrescentou, em sintonia coma as palavras de Mujica, que centrou seu discurso na crítica à “cultura da acumulação e do esbanjamento”.

“Se não muda a cultura, não muda nada. Temos que acabar com a teoria da acumulação, própria de um capitalismo que investe tantos recursos para minar a vida do planeta”, sustentou Mujica, em uma intervenção que significou uma ruptura conceitual com o consumismo: “Outra humanidade é possível a partir de outros valores. Este enfrentamento vai muito além da força material. Temos visto a construção das melhores lindas utopias, dos melhores sonhos, e temos visto que o peso indiferente das mercadorias nas aduanas acaba destroçando os melhores sonhos de solidariedade, que nós, os homens, pudemos construir”, sentenciou.

Além dos presidentes latino-americanos, a participação do vice-presidente da Assembleia Popular da China foi relevante para a cúpula. Chen Zhu pediu para se insistir no princípio de responsabilidade comum a respeito da mudança climática e promover a reforma do sistema financeiro internacional.