23 Mai 2014
Mais do que pensar nas soluções pastorais, por que não recomeçamos a debater sobre o próprio significado (para todos) da eucaristia?
O comentário é do jornalista Roberto Beretta, publicado no sítio Vino Nuovo, 22-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nunca me entusiasmou o debate pró ou contra a comunhão aos divorciados em segunda união. Não sei por quê. Talvez porque eu estou ciente de que os sacramentos são, sim, uma ajuda importante, mas não estritamente indispensável para uma vida cristã.
Em todo caso, porém, não vou buscar uma solução puramente pastoral para o problema – como em geral se entende: estabelecendo um percurso penitencial especial, ou orientando as pessoas para práticas de algum modo "substitutivas" como a comunhão espiritual, ou esperando uma abertura total, e assim por diante –, mas aumentaria decisivamente o que está em jogo.
De fato, a meu ver, seria preciso abordar a questão não do lado subjetivo, mas sim do objetivo, de um ponto de vista mais teológico: isto é, o próprio sentido da eucaristia. Como se sabe, de acordo com a doutrina católica, o sacramento tem dois aspectos, igualmente importantes: a presença real, ou seja, a fé de que aquele pão é realmente o corpo de Cristo, e a comunhão, que significa a construção da comunidade, da Igreja, através da participação nesse mesmo alimento.
Acho que é possível dizer, sem escandalizar ninguém, que, desde o Concílio de Trento – até mesmo por motivos de apologética antiprotestante –, a primeira dimensão adquiriu uma preponderância absoluta na cultura, na catequese, no culto, na práxis, e só a partir do Concílio Vaticano II começou um movimento de reequilíbrio, que não se deve considerar nada concluído na vida normal dos católicos italianos.
Portanto, a partir daí – a meu ver – seria preciso começar para reconsiderar também o problema da comunhão aos divorciados em segunda união, ou seja, da ideia de que a eucaristia também é um sacramento para reconstituir a comunidade e, por isso mesmo, a sua destinação é a um povo de pecadores.
A comunhão também tem um poder "medicinal". A comunhão também é um instrumento para os doentes, talvez antes ainda do que para os sãos. Seria preciso acentuar essa função – e não apontar para a absoluta "pureza" do candidato a receber o corpo de Cristo, ou para a união espiritual da alma com Deus presente na hóstia – e talvez se acharia menos intolerável que, mesmo quem vive "em um estado de pecado" (e quem poderia se dizer sem?), possa participar da comunhão.
No parágrafo anterior, eu escrevi várias vezes "também": é para assinalar a complementaridade dos dois aspectos do sacramento, dos quais se falava acima. Certamente: se poderá citar aqui a famosa passagem neotestamentária "quem come indignamente, come a sua própria condenação"; se poderá dizer que é o estado de irregularidade continuada que coloca o pecador por si só fora da Igreja.
Mas, então, se poderia citar também o "eu não vim para os sãos, mas sim para os doentes", ou o fato de que também outras culpas (a máfia, a evasão fiscal) têm modalidades que poderiam ser consideradas continuativas...
Em suma, não sou teólogo e certamente não tenho a solução para esses nós objetivos; gostaria apenas de salientar que, da mesma forma objetiva, a práxis eclesial ainda me parece fixada demais em uma única característica da eucaristia, a da presença real.
Não me desagradaria, portanto, que justamente o caso dos divorciados separados pudesse iniciar uma reflexão ampliada nesse sentido: e não seria a primeira vez que a Igreja melhoraria o conhecimento da sua própria realidade, partindo daquilo que hoje aparece apenas como um "problema".
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Divorciados em segunda união: é preciso aumentar as apostas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU