Por: André | 26 Fevereiro 2014
“O Santo Padre me encomendou uma tarefa muito importante. O objetivo é administrar melhor os recursos da Igreja e poder destiná-los também aos pobres”. A afirmação é do cardeal australiano George Pell feita em uma entrevista ao jornal italiano Il Sole 24 Ore, no dia da sua nomeação como secretário de Economia da Santa Sé. Um organismo recém criado pelo Papa Francisco em tempo recorde, seguindo as sugestões dos oito cardeais conselheiros (Pell é um deles), devido à preocupação com o estado das finanças vaticana e com a gestão econômico-administrativa dos diferentes organismos da Santa Sé e da Cidade do Vaticano.
Fonte: http://bit.ly/1fPComs |
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no sítio Vatican Insider, 25-02-2014. A tradução é de André Langer.
Na segunda-feira, dia 24, foi divulgado o Motu Proprio “Fidelis dispensator et prudens” com o qual Bergoglio institui a Secretaria de Economia, que contará com autoridade sobre todas as atividades econômicas e administrativas da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano. Será responsável, entre outras coisas, pela preparação de um orçamento anual, além do planejamento financeiro, pelas diversas atividades de apoio (como o setor de recursos humanos e de abastecimento) e pela redação de um balanço detalhado. No contexto do anúncio, deu-se a conhecer também a nomeação de Pell. O cardeal de 73 anos, e que há 12 dirige a diocese de Sidney, deixará seus serviços na Austrália para transferir-se para o Vaticano. E contará com a ajuda do espanhol Lucio Vallejo Balda como secretário (que foi secretário da Prefeitura para Assuntos Econômicos da Santa Sé, além de principal “motor” da comissão instituída pelo Papa em 2013 para estudar a situação econômico-administrativa da Santa Sé).
“A Secretaria terá competência sobre os fluxos financeiros de cada um dos dicastérios – explicou Pell na entrevista ao vaticanista Carlo Marroni – a partir, naturalmente, das ‘spending review’. A revisão de entradas e saídas será trimestral”. Com base nas diretrizes do Conselho, o dicastério de Pell redigirá entre setembro e outubro um balanço após a análise da situação. “Será um grupo de trabalho permanente”, explicou o cardeal australiano. A Secretaria de Economia, além disso, indicará os números correspondentes às necessidades de cada um dos dicastérios e organismos vaticanos, se ocupará da programação do pessoal e do orçamento dos centros financeiros, que poderão inclusive ser centralizados.
“O critério do balanço mudará – indicou Pell ao Il Sole 24 Ore. Hoje é muito disperso e peca, às vezes, por pouca transparência. Ativar em todos os níveis ‘checks and balances’ é a ideia principal, para dar, ao mesmo tempo, unidade ao balanço e prever uma maior autonomia de gastos a cada um dos dicastérios, que hoje, para comprar um envelope devem preencher vários formulários. É necessário desburocratizar”. O cardeal também acrescentou que se publicará um balanço final detalhado da Santa Sé.
O novo Revisor geral, uma espécie de Corte de Contas com amplos poderes, se sobreporá à atual Prefeitura de Assuntos Econômicos, cujo futuro destino Pell não revelou na entrevista. O Revisor, figura completamente nova no Vaticano, “terá seu programa de revisão, mas se lhe encomendarão também algumas investigações especiais, por vontade do Papa ou do Conselho de Economia”. Outra novidade anunciada na segunda-feira é a conversão da Apsa (Administração do Patrimônio da Sé Apostólica, onde está boa parte do patrimônio imobiliário da Santa Sé e uma notável carteira financeira) em “banco central” vaticano. Deverá, indicou Pell, “dialogar com os demais bancos centrais como o FED ou o BCE, e terá todos os poderes necessários, que aumentarão, mas naturalmente deverá mudar sua atual equipe de governo”.
Por outro lado, ainda não se decidiu o que acontecerá com o Instituto para as Obras de Religião. “Sobre o IOR – afirmou o cardeal australiano – ainda há análises em andamento por parte da Comissão especial, que deve completar seus trabalhos. O C8 falará com ele mais adiante, talvez na nossa reunião de abril”. Para concluir, prevê-se outra novidade no terreno do puramente financeiro: a criação, dentro do dicastério de Pell, de uma Secretaria de assessoria para dirigir os investimentos financeiros que até agora os diferentes dicastérios financeiros (Apsa, o Governadorado e a Propaganda Fide) decidiam por conta própria. “Este organismo, que será dirigido por leigos que ainda devem ser identificados, não terá títulos de propriedade, pois continuarão pertencendo a cada um dos dicastérios – esclareceu Pell –, mas que dirigirá as compras e vendas com uma política comum, necessária para otimizar os recursos”.
Ou seja, mudará tudo na gestão econômico-administrativa do Vaticano. No momento, foi criado apenas um novo dicastério, mas é possível que outros desapareçam ou entrem em fusão entre si. Há ainda muitas decisões pendentes, a começar pelos próprios estatutos da Secretaria para a Economia, que serão redigidos nos próximos dias. O novo dicastério dependerá completamente do Papa e não da Secretaria de Estado.
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“Administrar melhor os recursos, pensando nos pobres”, diz o cardeal George Pell - Instituto Humanitas Unisinos - IHU