20 Fevereiro 2014
O seleto grupo de oito cardeais que aconselham o Papa Francisco sobre a reforma do governo da Igreja Católica fizeram uma série de recomendações ao pontífice sobre como reestruturar a sua burocracia central, especialmente suas operações financeiras, anunciou o Vaticano nessa quarta-feira.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 19-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Mas o papa ainda tem que tomar decisão sobre o assunto, e as recomendações permanecerão em segredo, disse o porta-voz do Vaticano, o padre jesuíta Federico Lombardi.
O Conselho dos Cardeais, disse Lombardi durante uma coletiva, "trabalhou intensamente, esboçou propostas e as entregou ao Santo Padre".
"Será o papa quem vai decidir se essas sugestões devem ser aceitas e aplicadas", disse o porta-voz.
O grupo de cardeais se reuniu entre segunda-feira a quarta-feira no Vaticano.
Na segunda e na terça-feira, Lombardi disse que os oito cardeais estiveram estudando especialmente o conturbada passado financeiro do Vaticano, reunindo-se com grupos separados comissionados pelo papa para estudar as estruturas econômica e administrativa do Vaticano e o Instituto para as Obras de Religião, comumente conhecido como banco vaticano.
Na quarta-feira, Lombardi disse que os cardeais tinham submetido recomendações a Francisco que lidavam com duas grandes áreas: a organização do Vaticano como um todo, especialmente as suas operações financeiras, e o banco.
A substância das recomendações dos cardeais provavelmente será o assunto de muita especulação nos próximos dias, já que cerca de 185 cardeais de todo o mundo estão convergindo para Roma para uma reunião, de quinta-feira a sábado, para formalmente empossar 19 novos membros nas suas fileiras.
Por sua parte, na terça-feira, Lombardi se recusou a dar mais informações sobre o relatório dos oito cardeais, dizendo apenas que a extensão das propostas era "talvez" de duas ou três páginas.
"Não foi um livro que eles apresentaram", disse ele. "Não é um pequeno pedaço de papel. É um documento intermediário".
Os oito cardeais, disse Lombardi, também já definiram as datas para as suas próximas duas reuniões no Vaticano: entre os dias 28 e 30 de abril, seguindo as cerimônias formais em Roma para a canonização dos papas João XXIII e João Paulo II; e entre os dias 1º a 4 de julho.
A publicação das novas datas de reuniões, disse o porta-voz, confirma que o grupo planeja continuar trabalhando para discutir sobre como reformar as estruturas de governo da Igreja.
"Eles vão continuar estudando os diferentes dicastérios (…), coisa que eles não chegaram neste encontro", disse.
Francisco anunciou os novos cardeais em janeiro, escolhendo prelados pela sua honra e principalmente do Sul global, incluindo lugares como Haiti, Burkina Faso e Filipinas.
O grupo completo de cardeais deve começar a se reunir na quinta de manhã, quando ouvirão uma reflexão sobre a questão da vida familiar proferida pelo cardeal Walter Kasper, um teólogo alemão e ex-presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
O discurso de Kasper aos grupo de todos os cardeais ocorre apenas algumas semanas depois que a Conferência dos Bispos da Alemanha divulgou um relatório contundente, que mostra uma clara divergência entre o que a Igreja ensina sobre casamento, sexualidade e vida familiar e o que os católicos alemães acreditam.
Esse relatório, que compilou as respostas oficiais de cada uma das 27 dioceses da Alemanha e de cerca de 20 organizações e instituições católicas alemãs, foi realizado em preparação ao Sínodo de outubro.
Lombardi disse nessa quarta-feira que não há planos para publicar a fala de Kasper, e a decisão de torná-la pública será dos cardeais. Em consistórios passados, algumas coisas foram publicadas, e outras não, disse ele.
"Não há nenhuma razão real de sigilo para não publicá-las", disse Lombardi, mas cabe aos cardeais decidir.
O sínodo deve sediar reuniões na próxima semana entre o seu conselho de planejamento de 15 membros para preparar formalmente o evento de outubro.
Questionado se o presidente do escritório do Vaticano para o Sínodo, o futuro cardeal Lorenzo Baldisseri, faria alguma apresentação no consistório sobre as respostas que o seu escritório coletou dos bispos em preparação ao encontro de outubro, Lombardi disse que achava que não.
"Eu duvido que ele já tenha uma apresentação sobre as respostas que ele coletou", disse Lombardi. "Esse é o objetivo da reunião seguinte [na segunda-feira], que é especificamente com o sínodo dos bispos".
Lombardi também foi perguntado se Francisco pode convidar o seu antecessor, o Papa Emérito Bento XVI, para visitar os cardeais em Roma esta semana.
"Eu não excluo que isso seja possível, no entanto eu não posso imaginar que Bento XVI venha e assista algumas das reuniões", respondeu o porta-voz. "Eu não acho que isso vai acontecer".
Os cardeais individuais, no entanto, poderiam decidir ir e saudar Bento XVI, "mas isso realmente depende do seu desejo especial", disse Lombardi.
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Cardeais submetem recomendações secretas a Francisco sobre a reforma da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU