Casas para despejados de Belo Monte são feitas em um dia

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

Por: Cesar Sanson | 22 Janeiro 2014

Rachaduras, lajes descoladas e com infiltração e estruturas escoradas com madeira para evitar desmoronamentos: este é o estado das casas que irão abrigar as famílias despejadas pela Norte  Energia, construtora da hidrelétrica de Belo Monte, na cidade de Altamira.

A reportagem é do sítio Movimento Xingu Vivo Para Sempre, 20-01-2014.

Na última semana, a empresa promoveu os primeiros remanejamentos de moradores despejados dos bairros Olaria e Peixaria para o loteamento Jatobá, que fica a cerca de 5 km das antigas moradias.

Na última sexta feira, 17, a equipe do movimento Xingu Vivo conseguiu entrar no local e fotografar as casas em construção, constatando graves problemas nas estruturas. “É assustador. Diferente do que vem falando a empresa, e do que saiu em uma matéria do Jornal Nacional no sábado, as casas não são de alvenaria coisa nenhuma. O teto é feito de lajes com fendas onde entra água, há rachaduras nas paredes, muitas delas são escoradas com paus pra não desabarem, e, segundo nos contaram, tudo é mascarado com massa e tinta pra enganar os moradores quando são remanejados”, explica Antônia Melo, coordenadora do movimento.

De acordo com operários que trabalharam na construção, o tempo médio de levantamento de uma casa é um dia. As paredes são feitas de telas e preenchidas com concreto, com espessura média de 8 cm. “Nos falaram que o material é o mais vagabundo possível, e as famílias não têm permissão de entrar no loteamento antes da pintura da casa, pra não ver o que está por baixo”, relata Antonia.

Nesta segunda, 20, depois de uma chuva torrencial que caiu no domingo, a equipe do Xingu Vivo e famílias despejadas voltaram ao loteamento para ver as casas, mas o grupo foi impedido por seguranças armados de entrar no local. “Um segurança recebeu a gente com a mão no revolver. Imagina que construção de casa agora tem capanga armado pra ninguém ver como estão sendo feitas. Aí vem a TV Globo e fala que tudo é uma maravilha, realização de um sonho. Queria ver o repórter morar la por um mês com a sua família, nesse cubículo de 63 m2 malfeito, cheio de infiltração, longe de tudo, de escola, posto médico, do comércio”, desabafa a coordenadora do Xingu Vivo.

Demolição

Nos bairros onde estão sendo efetivados os despejos, imediatamente após a retirada dos moradores as casas desocupadas foram demolidas para, segundo a empresa, evitar novas ocupações. De acordo com a equipe do movimento, o procedimento está trazendo graves problemas para moradores remanescentes, uma vez que, no emaranhado de palafitas, estruturalmente elas se apoiam mutuamente. “Tirando uma, a outra, que estava escorada nela, pode cair a qualquer momento. Muitas famílias estão com medo que sua casa caia. Outro problema é que as telhas de eternit das casas demolidas são despedaçadas, jogadas la mesmo, e tem um monte de criança, trabalhador, respirando esse pó de amianto tóxico”, explica um jornalista que acompanhou as demolições.

Um outro problema, segundo Antônia Melo, é o pequeno tamanho das novas casas no reassentamento. “Uma moradora disse que, chegando na casa nova, metade de seus pertences não cabiam. Quando foi reclamar, o pessoal da Norte Energia disse: ‘se não cabe, joga fora essa metade que resolve o problema’”.

Após verem as fotos das casas em construção tiradas pelo Xingu Vivo, as famílias despejadas vão exigir na Justiça o direito de acompanhar e monitorar o processo, explica Antônia. “Afinal é a vida deles que está em risco se uma casa desabar, principalmente nessa época, quando começam as chuvas fortes”.

Nota:

Veja as fotos das casas em construção.