16 Janeiro 2014
A mais recente surpresa do papa Francisco vem do Haiti e se chama Chibly Langlois. Bispo da pequena cidade de Les Cayes, 190 km a oeste de Porto Príncipe, ele acaba de se tornar o primeiro cardeal da história vindo do país mais pobre das Américas, em nomeação com claros contornos geopolíticos.
"É um gesto do Santo Padre não só para os católicos do Haiti, mas para todos os haitianos", disse Langlois à Folha anteontem, por telefone. "E é um sinal de que a igreja está dando mais atenção à nossa situação."
Aos 55 anos, Langlois foi quem mais chamou a atenção entre os 19 primeiros cardeais anunciados pelo papa Francisco no domingo. O grupo inclui o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, uma indicação já esperada.
A reportagem é de Fabiano Maisonnave e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 16-01-2014.
O arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, afirmou que Langlois não era uma escolha óbvia nem mesmo dentro do Haiti, por se tratar do bispo de uma cidade de apenas 50 mil habitantes.
"Além de ser o primeiro daquele país, não é o arcebispo da capital, como se poderia ter esperado, mas de uma diocese do interior", disse o cardeal por e-mail à Folha.
O comentário foi enviado anteontem, um dia antes de sua destituição, pelo papa, da comissão de cardeais do banco do Vaticano.
"A inclusão de um bispo haitiano no Colégio Cardinalício também indica que os países pequenos e pobres são importantes para a igreja. O papa Francisco olhou para as periferias'... foi uma decisão significativa", escreveu.
Sem detalhar, Langlois especulou que a sua escolha por Francisco pode ter sido motivada pela "relação entre o Haiti e a República Dominicana", em alusão à recente polêmica surgida pela decisão do Tribunal Constitucional do país vizinho. O anúncio provocou divergências entre os líderes da Igreja Católica nos dois países.
Em outubro, a corte suprema dominicana julgou que os cerca de 200 mil filhos de imigrantes haitianos ilegais nascidos no país não têm direito à cidadania.
A medida foi duramente criticada pela ONU e por países da região por jogar dezenas de milhares de pessoas num limbo jurídico, mas ganhou respaldo irrestrito do cardeal dominicano, Nicolás de Jesús López, tido como um porta-voz da ala mais conservadora da Igreja Católica.
López disse que o Tribunal Constitucional "atuou de acordo com a lei" e denunciou uma "campanha internacional" contra a República Dominicana.
A reação veio por meio da mensagem de Natal da Conferência Episcopal do Haiti, presidida por Langlois.
Sem mencionar o país vizinho, o texto diz que, como Jesus Cristo, "muitas famílias haitianas continuam (...) cruzando a fronteira, sofrendo humilhação, rechaço, exclusão e negação de seus direitos fundamentais".
Os 19 recém-nomeados serão recebidos pelo papa em 22 de fevereiro, no Vaticano. Desses, três têm mais de 80 anos e não poderão participar de conclaves.
Com as nomeações, a igreja volta a contar com 120 cardeais aptos a escolher papas e a substituir Francisco.
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'Igreja está dando atenção a nós', diz cardeal do Haiti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU