15 Janeiro 2014
Um dos novos cardeais feitos pela Papa Francisco, Dom Orlando Quevedo fala em uma conferência de imprensa sobre a 9ª Assembleia da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, ocorrida em 2009, em Manila. Ao seu lado, estão o arcebispo paquistanês Lawrence John Saldanha, de Lahore, e o também recém-nomeado cardeal John Tong Hon, de Hong Kong. (Roy Lagarde)
O Papa Francisco alimentou a esperança por um interesse renovado na teologia pastoral inspirada pela Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, ao anunciar em Roma, na segunda-feira, que Dom Orlando Quevedo, de Cotabato, está entre os novos cardeais que ele irá instalar no próximo mês.
Durante seu discurso semanal dado aos domingos na Praça de São Pedro, Francisco nomeou Dom Quevedo entre os 19 bispos a serem instalados, formalmente, como cardeais no consistório do dia 22-02-2014. Dom Quevedo foi secretário Federação das Conferências Episcopais Asiáticas até 2011.
A reportagem é de N.J. Viehland, publicada por National Catholic Reporter, 14-01-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na região de Manila, os que defendem a orientação e o pensamento da Federação asiática sobre a forma como a Igreja deve estar estruturada, como deve ser desenvolvida e vivida na região, expressaram alegria ao ouvir que Dom Quevedo irá se juntar ao corpo mais alto dos líderes da Igreja que chefiam os conselhos pontifícios e elegem os papas.
“Estou muito feliz com a notícia de que Dom Quevedo será instalado como cardeal”, disse o padre claretiano Samuel Canilang, diretor do Instituto para a Vida Consagrada na Ásia, uma faculdade teológica e centro de formação para sacerdotes e outros religiosos que trabalham na região.
Ele contou que “muitas pessoas com as quais conversei nesta manhã estavam bastante felizes com a notícia, porque viram-na como se o papa estivesse mandando um sinal bem forte e uma declaração significativa de que a Igreja, agora, estará tomando esta direção em relação à teologia pastoral pela qual Dom Quevedo é conhecido”.
O padre Canilang disse que a nomeação do bispo como cardeal “confirma a orientação de nosso instituto, que é pastoral e missionário”.
Dom Quevedo é famoso por sua experiência como pastor e pelo seu “envolvimento na vida das pessoas, especialmente dos pobres”, diz Canilang.
O ministério de 50 anos de Dom Orlando Quevedo, desde que ele foi ordenado padre dos Oblatos de Maria Imaculada, tem o levado a paróquias em áreas de missão organizadas pela sua Ordem, incluindo a missão de Jolo, no sudoeste das Filipinas, onde 97% da população é muçulmana.
Ele já esteve face a face com a violência. Em 1985, enquanto servia como bispo de Kidapawan, em Cotabato do Norte, membros de uma seita anticomunista assassinaram o padre italiano Tulio Favali em sua paróquia em Tulunan.
Enquanto liderou a arquidiocese de Nueva Segovia, que era conhecida então como o reduto “norte sólido” dos legalistas do presidente deposto Ferdinand Marcos, de 1986 a 1998, Dom Quevedo trabalhou para estimular a preocupação social e o compromisso com o bem comum através do desenvolvimento das Comunidades Cristãs de Base.
Solidéu, “coroa de espinhos”
Dom Quevedo contou que ficou “totalmente surpreso” e que se sentiu humilde no Colégio dos Cardeais. Ele pediu orações pelo presente recebido. “Não se trata de um presente que traz apenas felicidade e alegria. Ele pode nos cortar”, disse. “Precisamos usar uma espécie de coroa, que não é de outro, mas sim de espinhos”.
Especialmente, é o que ocorre hoje, durante o papado de Francisco, afirmou. Em entrevista recente, Dom Quevedo partilhou o que pensa dos desafios que o papa coloca à Igreja na Filipinas e na Ásia em geral. Nela, destacou a mesma visão de Igreja que o Papa Francisco vem anunciando.
“Para mim, ser uma Igreja dos pobres é a dimensão mais formidável da visão renovada da Igreja articulada no PCP-II (o II Conselho Plenário das Filipinas, 1991), porque a visão exige uma mudança radical no clero, nos religiosos e no laicato”, afirmou Dom Quevedo.
Ele disse que ao mesmo tempo em que é impossível para a Igreja, como instituição em seu presente estágio, completamente se desfazer da pompa e do poder, “ela deve evitar o triunfalismo e a atitude do ‘sou mais santo do que você’”.
Dom Orlando Quevedo observou que milhares de padres na Ásia – onde vive a maior parte da população mundial e onde a maioria das pessoas são pobres – ainda andam a cavalo e a pé até aldeias remotas.
“Não podemos voltar ao tempo do Jesus itinerante, caminhando e visitando todos os lugares para anunciar o Reino de Deus. Porém a estrada do espírito de pobreza e simplicidade, assim como o uso das riquezas institucionais na jornada em prol dos pobres e do Reino de Deus, está aberta para uma Igreja-discípulo”, diz Dom Quevedo.
Ele disse crer que este seja o caminho certo para a Igreja nas Filipinas e na Ásia no intuito de se constituírem “verdadeiros discípulos do senhor, autênticos e com credibilidade, e arautos do Evangelho”.
Dom Orlando Quevedo afirmou que foi surpreendido ao ser feito cardeal. Todavia disse que a escolha de alguém do sul das Filipinas “encarna tudo o que o Papa Francisco vem falando ultimamente: diálogo, Igreja dos pobres e das comunidades subdesenvolvidas, e paz”.
Cerca de 90 padres e 110 irmãs servem mais de 600 mil católicos no território arquidiocesano de Cotabato, onde, no mínimo, uma parcela equivalente a 47% dos mais de 1.2 milhão de pessoas é formada por muçulmanos.
Dom Quevedo compreende a esperança que as pessoas colocam nele para fazer avançar o trabalho da Igreja na Ásia e representar as suas aspirações e pensamento nos organismos eclesiais em que irá participar. O religioso disse que irá aproveitar as experiências que teve como presidente da Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas e como membro do Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, além de outros comitês e conferências dos quais fez parte.
“Orações, eu também preciso de suas orações”, acrescentou.
“Tenho estado amarrado desde que [o cardeal Luis] Tagle me contou sobre minha nomeação às 7h45min de ontem, disse Dom Quevedo, com a voz mais fraca do que o normal. Ele disse que responder a mensagens de texto e a telefonemas das Filipinas e do exterior o tem privadoo de dormir.
Entre os que o parabenizam estão familiares, amigos da Federação das Conferências Episcopais da Ásia, da Tailândia, da Europa e dos EUA. Nas Filipinas, autoridades da Frente de Libertação Islâmica Moro que negociam a paz com o governo, grupos online de diálogo entre muçulmanos e cristãos, negociadores de paz por parte do governo, o ex-secretário de Saúde, Alfredo Bengson, e a assessora da presidente Benigno Aquino para o processo de paz, Teresita Deles, estão entre as pessoas que enviaram mensagens parabenizando-o.
Núncio nas Filipinas, Dom Giuseppe Pinto telefonou para Dom Quevedo, na segunda-feira pela manhã, para assessorá-lo no que for preciso a respeito de sua instalação como cardeal. “Perguntei-lhe se eu deveria escrever uma carta de aposentadoria em meu aniversário de 75 anos, em 11 de março, e ele deu risadas”.
Regras da Igreja exigem que bispos submetam uma carta pedindo sua aposentadoria quando alcançam os 75 anos de idade, porém permanecem na ativa até que o papa aceite este pedido.
Refletindo o Papa Francisco
Veterano das Filipinas e teólogo da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas, o padre Catalino Arevalo ficou “tomado de alegria” ao ouvir que Dom Quevedo estava recebendo o solidéu.
O padre, que é jesuíta, trabalhou ao lado do bispo na Federação das Conferências Episcopais Asiáticas e na Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas.
“Dom Quevedo é quase sempre um membro dos comitês de redação. Os comitês frequentemente lhe passavam documentos, ele trabalhava durante a noite toda sobre os textos e os apresentava finalizados no início da manhã. Isso significa capacidade de reflexão para pôr as coisas em ordem”, disse Pe. Arevalo.
Dom Orlando Quevedo estudou no colégio especial Seminário San José, nas Filipinas, entre os anos de 1954 e 1956 antes de se mudar para a o Noviciado e Missão, de St. Peter, no Texas. Em 1957, retornou a San José onde completou os estudos em Filosofia em 1960. Concluiu seu mestrado na Faculdade dos Oblatos, agora a Universidade Católica da América, em Washington, DC, antes de continuar com os estudos de pós-graduação em gestão educacional na Universidade de Santo Tomás, em Manila. Em 1977, completou seu curso em teologia da vida religiosa, na Universidade de St. Louis.
O Pe. Arevalo e confrades envolvidos no Seminário San José para padres diocesanos ficaram especialmente felizes quando ouviram a nomeação de um outro graduado para o Colégio dos Cardeais. Os cardeais Gaudencio Rosales e Luis Tagle estudaram na mesma instituição jesuíta.
Mas a “parte verdadeiramente significativa” da nomeação de Dom Quevedo como cardeal, na opinião do Pe. Arevalo, é que ela foi feita pelo Papa Francisco. “É um reflexo do que Francisco vem fazendo na Igreja, e esperamos e oramos no sentido de que seja isso o que Dom Quevedo irá fazer em Mindanao”, afirmou Arevalo.
Para o teólogo, as ações de Francisco representam aquilo pelo qual a Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas tem lutado nestes anos: a construção da Igreja local. Isso é o que ele considera como o papel realmente fundamental da Igreja quando se trata de fazer as coisas a partir das reais necessidades das pessoas da Igreja local.
Apesar de reconhecer que é difícil predizer se as iniciativas da Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas irão vingar de forma que o seu pensamento e espírito permeiem a vida da Igreja, Pe. Arevalo observa também que há novos canais para a participação na Igreja local em decisões e ações que não foram autorizadas antes.
Ele citou a autoridade do documento Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, e a abertura que este proporciona ao diálogo e a assuntos envolvendo várias culturas.
Chamando o documento papal de uma “real revolução”, o Pe. Arevalo expressou sua confiança na completa determinação de Dom Quevedo para aproveitar a oportunidade em renovar a Igreja para aquela na qual a Conferência dos Bispos Católicos das Filipinas vem trabalhando.
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Quevedo, das Filipinas, como cardeal estimula esperança na Igreja local - Instituto Humanitas Unisinos - IHU