Por: Caroline | 26 Novembro 2013
Dentro de poucos dias ele estará em Roma para falar sobre as reformas, com os outros sete cardeais designados pelo Papa Francisco para um árduo trabalho. É provável que já tenha conversado com o cardeal Rodríguez Maradiaga durante os dias em que esteve no México, para participar do encontro das Igrejas das Américas, na Basílica de Guadalupe. O franciscano Séan Patrick O’Malley (foto), arcebispo de Boston, é o mais “papista” dos cardeais estadunidenses. “Papa Francisco exalta a espiritualidade do encontro, da amizade”, comentou ao sítio Vatican Insider, “e a amizade nasce ao reconhecer que o que nos une (do norte ao sul do continente americano) é muito mais forte que as diferenças de cultura ou de idioma. Em breve, muito em breve, a maioria dos católicos nos Estados Unidos será hispânica, devido à imigração da América Latina. O que creio que pode ser considerado como o evento mais importante deste século. Ao lado do Papa latino-americano...”.
A reportagem é de Alver Metalli, publicada por Vatican Insider, 23-11-2013. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/0Ews54 |
“A cultura do encontro” do Papa, como é chamada por O’Malley, terá um papel fundamental nas reformas que estão sendo discutidas e nas quais, segundo sua visão, os leigos serão protagonistas. “Não pode haver uma reforma da Igreja sem eles”, afirma o franciscano, que depois pronunciou um apaixonado ‘mea culpa’. “Somos nós que os clericalizamos”, indica. “Quando algum leigo se aproxima da Igreja, corremos para lhe dar funções litúrgicas ao invés de lançá-lo ao mundo para que o transforme...”. E lembrou-se do dito popular: “Construa um estádio e verá as pessoas”. Durante muito tempo isto funcionou, indicou, mas agora já não funciona mais. Poderia ser considerado como uma herança de um catolicismo identitário. “Cresci em uma época na qual independente se você era irlandês, italiano ou lituano, era um católico que ia à Igreja, pagava e obedecia (“paid and obeyed”)”. O’Malley recorre à sua infância para insistir na ideia: “Recordo uma vez, quando era pequeno, que a tubulação de casa ficou congelada, durante um inverno particularmente frio. Meu pai não conseguiu encontrar o encanador usual e passou a procurar por um nas páginas amarelas. Minha mãe disse a ele, quase em tom de súplica: “Trate de procurar um que seja católico”. Para meus pais irlandeses não havia nada pior que um protestante arrumando nossas tubulações estragadas”. Mas já não é mais assim. Sobretudo porque, provavelmente, o encanador de hoje nem sequer é religioso. A “desfiliação” tem sido tremenda, reconhece O’Malley. “A cultura do encontro do Papa Francisco, sua ênfase sobre um Evangelho social tem gerado muito entusiasmo. Conheço muitas pessoas que voltaram a dar uma segunda olhada para a Igreja”. Mas, também é eficaz nas batalhas que se deve enfrentar. “Recentemente, durante uma campanha de prevenção à eutanásia em Massachusetts, pedíamos a ajuda dos evangélicos, dos muçulmanos, dos mórmons e das Igrejas protestantes negras e conseguimos prevalecer”.
O’Malley dedica algumas palavras de elogio para a consulta sobre a situação da família contemporânea, conduzida pelo Papa latino-americano. “É curioso. Quando recebemos as 38 perguntas, começaram as queixas sobre o tempo, que era pouco, que o Vaticano não havia se organizado bem... Meu vigário geral estava um pouco angustiado. Então lhe disse: ‘amanhã temos a reunião do conselho pastoral diocesano, mandemos as perguntas hoje mesmo por e-mail e comecemos a falar delas’. No dia seguinte, fiquei surpreso ao ver como ficaram felizes por terem sido consultados sobre uma discussão tão importante. Decidimos mandar as perguntas para todas as paróquias... Os sacerdotes jovens, que foram ordenados nos últimos cinco anos e com os quais me acostumei a me reunir todos os meses, estão muito entusiasmados em poder participar”. Por este motivo, considera que o método de consulta poderia ser adotado para outras questões. “É uma maneira de envolver as pessoas, para que digam como poderia se melhorar a pastoral familiar e, ao mesmo tempo, para entender como percebem os ensinamentos da Igreja sobre estes temas”. “Não é um referendo sobre a doutrina, como alguns têm falado acerca da iniciativa do Papa”, destaca, aludindo às críticas de alguns setores tradicionalistas. E a esse respeito, explica que “nos Estados Unidos não há grandes grupos de lefebvrianos, como na França ou em outros países europeus..., mas também temos grupos conservadores, que gostariam que o Papa estivesse falando sobre o aborto... Eu os respondo: o Santo Padre está nos dando o contexto de nossos ensinamentos, que é a bondade de Deus, a misericórdia, o poder de transformação da relação com Cristo. Somos a favor da vida porque somos pessoas compassivas, não porque nos queixamos e gritamos às pessoas que elas erram. Somos cristãos para mostrar misericórdia à mulher que em um momento de crise toma decisões que a fazem sofrer durante toda a vida...”.
O’Malley considera que é obra do Espírito Santo a presença do Papa Francisco neste momento da Igreja. “Há muitos estadunidenses que voltam a olhar para a Igreja, que estão fascinados pela bondade, pela misericórdia e pela ternura das quais o Papa fala... e isto é o que precisamos”.
A crise da pedofilia, que sacudiu os alicerces da Igreja estadunidense, já é coisa do passado. “Explodiu em Boston, em 2002, houve mais de 4.000 casos de sacerdotes acusados de abusos sexuais, a maior parte cometida entre 1960 e 1962. Pagamos uma quantidade de valores enorme... creio que dois milhões de dólares... e pelo menos oito dioceses declararam falência. Aprendemos a lição, uma lição dura, que nos levou a fixar normas que agora privilegiam a proteção às crianças”.
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O'Malley e o encanador católico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU