Por: Jonas | 25 Outubro 2013
“O bispo de Limburg praticou (talvez de forma excessiva) a forma tradicional de entender sua função episcopal: pequeno príncipe de direito divino. E seu caso expõe perguntas eclesiológicas profundas”, escreve José Manuel Vidal, em artigo publicado em seu blog Rumores de Angeles, 23-10-2013. A tradução é do Cepat.
Eis o artigo.
Tornou-se famoso em todo o mundo o bispo esbanjador. O titular de Limburg, de nome impronunciável, gastou mais de 35 milhões de euros em seu palácio e arredores. Apenas a foto com o BMV branco esportivo já clama ao céu. E a banheira de 15.000 euros. Um típico bispo-príncipe. Daqueles que Francisco não deseja. E, como era de esperar, o Papa o chamou para uma conversa e, após falar com ele, decidiu cortar o mal pela raiz: afastá-lo de sua diocese. Nesse momento, temporalmente. Parece-me difícil que ele retorne para ela.
Uma boa lição para outros muitos bispos de estilo antigo. Um claro aviso para navegantes. Porque, na Alemanha, na Espanha e em outros muitos países, foi se estendendo, durante estas últimas décadas, um modelo majestoso de ser bispo.
Bispos senhores, bispos com um exercício do poder autoritário e absoluto, escondidos em seus palácios e em suas cúrias (com aduladores em busca de carreira e dos melhores postos). Prelados fomentadores do servilismo, inseguros e, por isso, mandões. E, é claro, afogadores de qualquer dissenso ou crítica. Tanto da crítica interna, como especialmente daquela dos meios de comunicação. Por isso, estigmatizou-se aos comunicadores como “inimigos”. A velha tática de matar o mensageiro.
O bispo de Limburg praticou (talvez de forma excessiva) a forma tradicional de entender sua função episcopal: pequeno príncipe de direito divino. E seu caso expõe perguntas eclesiológicas profundas. Por exemplo, as estruturas eclesiásticas favorecem o fato de que pessoas com marcadas características narcisistas ascendam no escala hierárquica? A culpa nesta situação é somente do bispo ou são também de seus companheiros bispos, seu clero, seus fiéis? Quanto dano fez e está fazendo o medo e, sobretudo, o silêncio dos bons, que os tornam cúmplices!
Porque bispos como o de Limburg proliferam. E existem também entre nós. Talvez não tão exagerados nas formas externas, mas, sim, com parecido autoritarismo e singulares despesas. Perguntem aos padres e fiéis de Granada. Seu bispo, Javier Martínez, afora outras lindezas, acaba de inaugurar uma Escola de Magistério da Igreja, vanguardista, com uma superfície total de quase 20.000 metros quadrados, cuja construção durou três anos.
Para construí-la, pediu um empréstimo de 19.518.133 euros, mediante a assinatura de uma hipoteca constituída em nome do arcebispado. A atuação de Martínez provocou queixas ante o núncio e ante o Vaticano, por parte de seu próprio Conselho Diocesano de Assuntos Econômicos. É que o empréstimo supõe hipotecar a diocese durante um prazo de 25 anos, período após o qual o arcebispado terá pagado cerca de 38 milhões.
No mais, contam os meios de comunicação de Granada que desde que Martínez assumiu o cargo, em 2003, o déficit da Arquidiocese passou de 1,2 para mais de 30 milhões.
E o bispo espanhol de Granada não é o único “megalômano”. Algum dia será preciso fazer as contas. Porém, agora, impõe-se uma mudança de modelo no exercício episcopal. E que se vislumbre para dentro e para fora. É hora, talvez, de voltar a deixar os palácios episcopais (até o nome soa ruim). Que os bispos passem a viver nos seminários, por exemplo, assim como se fez no pós-Concílio, pois, embora doa em alguns, está claro que o mapa de rota de Francisco é reativar o Concílio, “congelado” durante as últimas décadas. É o momento de nossos bispos colocarem o relógio de acordo com o de Roma. Sem reticências, como deve ser.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Os “outros” bispos de Limburg - Instituto Humanitas Unisinos - IHU