04 Setembro 2013
O secretário de Estado, Tarcisio Bertone, vai embora batendo a porta. Lançando flechas para a direita e para a esquerda, enquanto o Papa Francisco – quase como que detendo-o – reiterou nessa terça-feira "como fazem mal as fofocas na Igreja". Que Senhor, pediu o papa, "nos ajude a superar divisões e personalismos".
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 03-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O escândalo Vatileaks (embora não mencionado) revelou muitos pecados. Adverte Francisco: "Quanto dano causa o fato de fazer parte de interesses mesquinhos". No domingo, em Siracusa, no Santuário de Nossa Senhora das Lágrimas – nunca um nome foi tão apropriado –, o purpurado se lamentou do clima que ele encontrou na Cúria nos sete anos de comando. "Um cruzamento de corvos e de víboras".
Nunca um secretário de Estado tinha acompanhado a sua substituição com tantas pedras jogadas violentamente. No Vaticano, o esporte da segunda-feira nos escritórios o de decifrar as suas frases e de vasculhar as alusões do desabafo bertoniano. Talvez, mais adiante, seguirão outras flechadas.
O "Oscar" automaticamente vai para Francesca Imaculada Chaouqui, a especialista em relações públicas de 31 anos, inserida pelo papa na Comissão para a reforma financeira do Vaticano. Nos seus tuítes antes da nomeação, ela tinha definido Bertone como "corrupto" e, sobre o ex-ministro Giulio Tremonti, ela tinha comentado: "Fecharam a conta dele no IOR porque ele é gay" (processo a caminho). Chaouqui, próxima da Opus Dei, é um mistério, porque ninguém conseguiu entender com que base ela foi recomendada.
"Certamente eu tive os meus defeitos. Se eu tivesse que repensar agora em certos momentos, eu agiria de forma diferente".
Seguramente, o purpurado não repetiria o que disse no Chile em abril de 2010, ou seja, que foi demonstrado que "existe um vínculo entre homossexualidade e pedofilia... Essa é a verdade, e aí está o problema". Em tempos mais recentes, o secretário de Estado cessante provavelmente não se aventuraria novamente na criação de um polo de saúde católico incluindo o hospital San Raffaele, o Gemelli, o Bambin Gesù e o hospital do Padre Pio em San Giovanni Rotondo. Como lhe ocorreu depois da morte do padre Verzé.
"Houve episódios que nos escaparam, porque esses problemas estavam como que 'selados' dentro da gestão de certas pessoas em conexão com a Secretaria de Estado".
Frase bastante complicada, mas muito clara para os adeptos aos trabalhos. Bertone não se dá com o cardeal Castrillón Hoyos, que instruiu a prática dos bispos lefebvrianos a serem reabilitados, tirando-lhes a excomunhão, passando por cima tranquilamente do fato de que Dom Williamson era um notório antissemita. A nomeação a arcebispo de Varsóvia de um prelado ex-espião comunista dos serviços poloneses, para o cardeal, também deveria ser posta na conta da Congregação dos Bispos.
Quem está na mira não é apenas Paolo Gabriele, mas também a corja vaticana que favoreceu e encobriu o vazamento de notícias. E também os auxiliares que, ainda em agosto de 2011, com cartas anônimas, tinham denunciado o ataque contra Dom Viganò – que pretendia revelar a corrupção nos contratos do Vaticano – e outros gargantas-profundas que contaram com os jornais no ano fatal do Vatileaks. Bertone sabe muitas coisas depois que a Gendarmaria Vaticana fez uma primeira investigação interna.
O secretário de Estado é o primeiro colaborador do papa, um executor leal e fiel das tarefas que lhe são confiadas.
Aqui Bertone tem razão. Se ele pecou, também foi por lealdade ao extremo. Entre as coisas do "balanço positivo" que ele reivindica, está a obra de paciente e cuidadosa religação com o mundo islâmico depois da crise que se seguiu ao discurso de Regensburg de Bento XVI em 2006, temperado com acusações contra Maomé.
O secretário de Estado também tentou em vão convencer o Papa Ratzinger a adotar para a oração da Sexta-Feira Santa, na missa tridentina, a fórmula sobre os judeus, escolhida por Paulo VI. Não alcançou o seu objetivo. Bento XVI quis inventar uma nova fórmula caracterizada por um proselitismo escatológico fazendo estourar prontamente um conflito com o judaísmo.
"Houve tantos problemas... Lançaram acusações sobre mim".
Críticas e polêmicas explodiram na imprensa de todo o mundo. Mas em uma coisa Bertone está certo. Entre as cabeças pensantes do catolicismo italiano, quem o criticou pelas costas nunca tomou posição pública sobre os graves erros do pontificado ratzingeriano. No fundo, poderiam até tê-lo ajudado.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Bertone, palavras e venenos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU