30 Agosto 2013
“Com a vinda dos médicos estrangeiros, tenho a absoluta convicção de que as pessoas humildes terão assistência médica em qualquer hora do dia ou da noite”, diz padre que atua no sertão da Paraíba.
Foto: http://bit.ly/14H58wo |
Confira a entrevista.
“Na minha caminhada de padre por este sertão paraibano, tenho presenciado cenas dramáticas de pessoas gritando por socorro médico, e nada de atendimento. Só quem vive com o povo pobre sabe de sua dor, de seu sofrimento, de seu desespero na hora da doença”, relata o padre Djacy Brasileiro, pároco na cidade de Pedra Branca-PB, no alto sertão paraibano. Favorável ao Programa Mais Médicos, que pretende “levar médicos para regiões onde há escassez e ausência de profissionais”, conforme informa o Portal da Saúde do governo federal, padre Djacy diz que o estado da Paraíba irá receber “51 médicos pelo Programa, sendo 47 brasileiros e quatro estrangeiros”.
Ele avalia que para “uma revolução na saúde pública” da região, formada por 21 cidades, seria necessária a vinda de “uns mil médicos do programa mais médico”. E assevera: “seria uma grande felicidade para a população sofrida”.
“Testemunha ocular dessa realidade desumana”, padre Djacy, na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, relata a situação da saúde pública na Paraíba e menciona que além da “falta de hospitais com toda a estrutura indispensável para seu bom e eficaz funcionamento, faltam profissionais especializados em quase todas as áreas”. Segundo ele, “os governantes nunca investiram pesadamente em política de saúde pública. Parece que saúde para o povo pobre nunca foi prioridade para os detentores do poder”. E acrescenta: “É lamentável que famílias e amigos de alguns pacientes façam bingos, rifas, visando adquirir dinheiro para pagar um exame ou uma cirurgia. Isso acontece muito no sertão paraibano. Bingos e rifas viraram sinônimos de exames médicos ou cirurgias”.
Padre Djacy Brasileiro é graduado em Filosofia e Teologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras – FAFIC.
Foto: http://bit.ly/14H5nHX |
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Por que o senhor é favorável ao Programa Mais Médico do governo
federal?
Djacy Brasileiro - Sou favorável ao Programa Mais Médicos do governo federal por várias razões: a população pobre, que reside no interior ou nas periferias das grandes cidades, não tem assistência médica como convém; muitas pessoas buscam desesperadamente socorro médico, e não têm atendimento.
Na minha caminhada de padre por este sertão paraibano, tenho presenciado cenas dramáticas de pessoas gritando por socorro médico, e nada de atendimento. Só quem vive com o povo pobre sabe de sua dor, de seu sofrimento, de seu desespero na hora da doença.
Nos lugares pequenos, pobres, atrasados, distantes, a ausência de médicos é uma realidade. Quando o médico aparece para dar seu plantão, isso é notório. O atendimento é feito correndo, e os pacientes são atendidos muito mal. Já ouvi diversas vezes comentários assim. Algumas pessoas dizem que às vezes o médico não deixa nem falar, vai logo passando o medicamento. Um tempo desse, uma pessoa me falou: “padre, fui consultar e o médico não me examinou, mal olhou para mim. Saí do posto de saúde pior, com raiva, triste”.
IHU On-Line – Como a situação da saúde pode melhorar com a vinda de médicos brasileiros?
Djacy Brasileiro - Com a vinda dos médicos estrangeiros, tenho a absoluta convicção de que as pessoas humildes terão assistência médica em qualquer hora do dia ou da noite. Penso que irá melhorar muito. É triste, desesperador, adoecer e não ter um médico para socorrer. Sou testemunha ocular dessa realidade desumana.
Penso que os médicos do exterior haverão de atender com muita dignidade, com muito amor e atenção os seus pacientes. Com isso não estou generalizando: há muitos médicos no Brasil que são humanos, que tratam bem os pacientes. Felizmente, há essas exceções. Com um médico do Brasil ou do exterior morando na comunidade, os pobres ficarão conscientes que o socorro médico estará a seu alcance quando precisar.
Estou muito animado e feliz com a vinda desses médicos, não só eu, mas toda a população sofrida deste interior pobre paraibano. Será uma benção de Deus. Uma coisa é certa: a medicina tem que ser humanizada. Os médicos devem tratar o paciente com amor, carinho, e não com frieza, insensibilidade, medo etc.
IHU On-Line - Por quais razões faltam médicos no seu estado? Por que, na sua avaliação, há tanta resistência de os médicos atuarem nas cidades do interior do país?
Djacy Brasileiro - São diversas as razões: os governantes nunca investiram pesadamente em política de saúde pública. Parece que saúde para o povo pobre nunca foi prioridade para os detentores do poder. Hoje está melhorando um pouco, porque os cidadãos estão tomando consciência de sua cidadania, de seus direitos inalienáveis.
Na minha região sertaneja falta investimento nessa área. Pouco ou quase nada é investido. São poucos os hospitais e, mesmo assim, funcionam com muita precariedade. A tecnologia avançada, ou seja, aparelhos modernos, de última geração, ainda não são uma realidade. Quando um paciente precisa fazer um exame de alta complexidade, têm que ir para Campina Grande ou João Pessoa. Além de falta de hospitais com toda a estrutura indispensável para seu bom e eficaz funcionamento, faltam profissionais especializados em quase todas as áreas.
No sertão paraibano, a população sofre muito. É um Deus nos acuda. Sou testemunha dessa tétrica e desumana realidade.
Muitos médicos, infelizmente, não querem trabalhar em cidades distantes dos grandes centros urbanos. Preferem ficar nas cidades maiores, talvez visando colocar suas clínicas particulares, ganhar mais, ter mais conforto etc. As cidades pequenas paraibanas são pobres, atrasadas, distantes da capital. Isso certamente contribui muito para que alguns médicos não queiram trabalhar no interior.
Conheço muitas e muitas cidades onde não há médicos morando, e quando vêm a esses lugares, dão seu plantão e vão embora. Muitos médicos dizem que não vêm para o interior porque os hospitais ou postos de saúde não dispõem de estruturas. Sinceramente, não acredito nisso. Há outros motivos, claro.
Infelizmente, há alguns médicos que fazem da medicina um meio fácil de adquirir status e ganhar muito dinheiro, ficarem ricos.
IHU On-Line - Qual a situação da saúde na Paraíba? Como funciona o atendimento no
SUS?
Djacy Brasileiro - Serei bem objetivo quanto a essa pergunta. A saúde na Paraíba vai mal, e de mal a pior. Digo isso porque converso com as pessoas que necessitam de atendimento médico-hospitalar. A situação é grave. Triste, repito, quem adoecer nesta minha Paraíba. Quem é rico tem plano de saúde, vai para os melhores hospitais da capital ou das grandes cidades do país como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília. Para esses, ainda há saída. Agora para a maioria do povo, que depende da saúde pública, que não tem dinheiro, a situação é extremamente crítica, desesperadora. Muitas pessoas madrugam em busca de uma consulta médica.
É lamentável que famílias e amigos de alguns pacientes façam bingos, rifas, visando adquirir dinheiro para pagar um exame ou uma cirurgia. Isso acontece muito no sertão paraibano. Bingos e rifas viraram sinônimos de exames médicos ou cirurgias. Quem não tem dinheiro para pagar uma tomografia ou ressonância magnética, por exemplo, tem que recorrer a bingos ou rifas. Essa é a realidade.
IHU On-Line - Quantos médicos são necessários para atender a população da Paraíba?
Djacy Brasileiro - A região onde moro é composta de 21 cidades. Em todas elas deveriam ter médicos fixos, residentes. Na Paraíba, se viessem uns mil médicos do programa mais médicos seria uma grande felicidade para a população sofrida. Seria uma revolução na saúde pública.
IHU On-Line - Algum médico estrangeiro já foi realocado em seu estado? Quantos médicos devem atuar na Paraíba?
Djacy Brasileiro - Segundo informações, a Paraíba receberá 51 médicos pelo Programa, sendo 47 brasileiros e quatro estrangeiros. Que Deus abençoe o programa mais médicos. Avante!
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"Bingos e rifas viraram sinônimos de exames médicos". Entrevista especial com Djacy Brasileiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU