23 Agosto 2013
Os mal-intencionados – e os teóricos da conspiração – certamente vão insinuar que, com os precedentes do arcebispo de Canterbury, Justin Welby, na indústria petrolífera, não se podia esperar outra coisa. O fato é que, na Inglaterra, está criando celeuma a abertura da Igreja Anglicana ao "fracking", a nova técnica que permite recuperar o petróleo e gás disseminados em certos tipos de terrenos, inundando-os com água a alta pressão e produtos químicos.
A reportagem é do sítio Vatican Insider, 20-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O "fraturamento hidráulico" é uma tecnologia altamente controversa, vista como o cisco nos olhos dos ambientalistas que a acusam de produzir danos irreparáveis ao ecossistema. Mas que encontra cada vez mais favor diante de alguns governos ocidentais: o Canadá foi o primeiro país a se focar no fracking e agora está vivendo um verdadeiro boom petrolífero; os Estados Unidos esperam voltar a ser exportadores de petróleo e gás – e se livrarem da incômoda dependência do petróleo do Oriente Médio – graças ao novo método de extração; o Reino Unido de David Cameron espera poder seguir o mesmo caminho de Obama, em uma fase em que as jazidas do Mar do Norte estão se esgotando.
Nas últimas semanas, o debate sobre o fracking tornou-se particularmente aceso na Grã-Bretanha. No dia 19 de agosto, a polícia prendeu 12 ativistas verdes que, há 26 dias, bloqueiam o acesso ao local de extração da empresa Cuadrilla na idílica localidade rural de Balcombe. A suspensão temporária das sondas de perfuração, pedida pela polícia de Sussex, é a primeira grande vitória do movimento No Dash for Gas, e de nada serviram as garantias da empresa, segundo a qual em Balcombe não foi usado o fraturamento hidráulico e talvez nunca será usado, porque até agora não foram encontradas jazidas significativas.
Os confrontos da última segunda-feira poderiam ser apenas o primeiro passo de uma escalada do movimento, que prometeu novos "atos de desobediência civil''.
A Igreja da Inglaterra também interveio nesse debate e, talvez surpreendentemente, o fez com uma abertura de crédito, embora moderada, com relação fracking. Com uma declaração pública no dia 16 de agosto, a Igreja da Inglaterra criticou aqueles que se opõem "univocamente" ao fraturamento hidráulico, "sem 'se' e sem 'mas'", acusando-os de se esquecerem dos pobres e dos benefícios que eles podem obter com os novos recursos, começando pela calefação a preços muito mais baixos.
Com uma medida ainda mais controversa, segundo a imprensa britânica, a Igreja Anglicana também teria escrito aos moradores que vivem nas muitíssimas terras de sua propriedade, anunciando que quer exercer o seu secular direito de exploração mineral. A Igreja garantiu que não projeta procurar petróleo nas suas terras, mas não excluiu a possibilidade de poder conceder direitos de mineração – o que traria em troca milhões ou até mesmo bilhões de libras esterlinas em royalties por parte das empresas petrolíferas.
Nem todo mundo parece estar de acordo, no entanto, mesmo entre os anglicanos: antes da publicação da declaração oficial, a diocese de Blackburn havia avisado os seus fiéis que fracking poderia pôr em perigo a "magnífica criação de Deus".
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A Igreja Anglicana em favor do ''fracking'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU