17 Agosto 2013
O arcebispo que recebeu o mandato do Vaticano de supervisar abrangentemente as irmãs católicas dos EUA disse, em sua assembleia anual, na última terça-feira, que ele pretende ser "irmão e amigo" das religiosas.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada no sítio National Catholic Reporter, 13-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
As breves considerações do arcebispo de Seattle, J. Peter Sartain, foram proferidas na sessão de abertura do encontro de quatro dias da Leadership Conference of Women Religious (LCWR).
O grupo, que representa cerca de 80% das 57 mil irmãs católicas do país, se encontra depois de 18 meses depois que o Vaticano o criticou duramente e o colocou sob o controle de Sartain, nomeando-o como o seu "arcebispo delegado" e dando-lhe ampla autoridade para rever seus estatutos e programas .
O tempo desde o ano passado, disse Sartain às 825 irmãs reunidas, lhe deu "inúmeras oportunidades" para se encontrar com as lideranças religiosas femininas para debater o assunto. Além de terem tido algumas "conversas muito significativas" durante esse tempo, ele disse que também tiveram conversas humorísticas.
"Nós desenvolvemos um respeito maravilhoso uns pelos outros", disse Sartain. "E, sim, eu diria também uma amizade uns com os outros".
"Eu estou aqui esta semana com vocês, sim, como delegado apostólico (...) e como representante do Papa Francisco", continuou Sartain. "Mas eu também estou aqui como irmão e amigo de vocês".
Mais tarde, em uma breve entrevista com o NCR, Sartain disse que se sentiu "muito acolhido" pelas irmãs e que ele tem "margem de manobra" do Vaticano para melhor determinar como lidar com a avaliação doutrinal.
Ele foi um dos três sacerdotes que falou na assembleia de abertura, que se realiza em Orlando entre os dias 13 a 16 de agosto e se centra no tema da evolução da liderança.
Os outros foram o Mons. John Giel, vigário geral da diocese Orlando, e o arcebispo Carlo Viganò, núncio apostólico, ou embaixador, do Vaticano nos EUA.
"Eu particularmente quero transmitir-lhes os desejos sinceros do Santo Padre, que está sempre em um vínculo especial de comunhão espiritual com vocês e está muito grato a vocês por todo o bem que vocês têm feito ao longo dos anos", disse Viganò em sua fala.
"Pelo sacrifício das suas próprias vidas, vocês tocaram profundamente a vida de outras pessoas, trazendo esperança e cura, ajudando a formar mentes e corações à imagem de Jesus", continuou Viganò.
As lideranças da LCWR e dos institutos individuais de irmãs norte-americanas expressaram dor e confusão com relação à medida do Vaticano com relação ao seu grupo, concretizada em uma "avaliação doutrinal" em abril de 2012, publicada pela Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano.
A presença e as palavras do núncio apostólico na assembleia deste ano podem ter sido recebidas com um significado especial por algumas irmãs, que expressaram esperança na eleição de março do Papa Francisco, no sentido de que o novo pontífice pode adotar uma linha mais suave sobre a situação do que o Papa Bento XVI.
Um breve comunicado da congregação doutrinal de abril disse que Francisco "reafirmou as conclusões da avaliação e do programa de reforma".
Falando em uma breve entrevista na noite de terça, Viganò disse que o papa foi informado sobre a questão da LCWR.
"Você acha que ele não está consciente?", disse Viganò em resposta a uma pergunta do NCR. "A Igreja dos Estados Unidos tem um papel proeminente a desempenhar em muitos sentidos. Ela está cheia de força e possibilidades, e de desafios também".
A irmã dominicana Sharon Simon, que representa na LCWR uma congregação de dominicanas com sede em Racine, Wisconsin, disse ter achado inesperadamente esperançosos o discurso de abertura de Viganò e Sartain no encontro.
"Eu acho que eles foram muito sinceros", disse. "É muito esperançoso".
Outra superiora de congregação, no entanto, foi menos entusiasta sobre os processos da noite. Essa liderança, que pediu para não ser identificada devido à sensibilidade das discussões em andamento entre as irmãs e Sartain, disse que as lideranças da LCWR não tiveram reuniões suficientes com o arcebispo a ponto de se considerarem amigos.
Enquanto Sartain chamava as lideranças religiosas femininas de "amigas", disse essa superiora, as lideranças da LCWR tinham olhares de "perplexidade" em seus rostos e não estavam sorrindo.
A discussão entre a LCWR e Sartain, em grande parte, ocorreram fora do escrutínio público. O diretor de comunicações da arquidiocese de Seattle, Greg Magnoni, disse no início de agosto que Sartain manteve conversas com lideranças da LCWR por telefone, e que essa era "a principal forma" pela qual eles se comunicavam.
Na sua avaliação de abril de 2012 que anunciava a supervisão de Sartain sobre o grupo de irmãs, a Congregação vaticana deu ao arcebispo um mandato de "até cinco anos, se for necessário". As conversas na assembleia da LCWR do ano passado se focaram em saber se o grupo poderia aquiescer com tal controle por todo esse período de tempo.
Depois de quatro dias e de mais de uma dezena de reuniões, as lideranças da LCWR anunciaram aos seus membros, no fim da assembleia, que haviam decidido continuar as discussões com as autoridades da Igreja com relação à tomada de controle, mas iriam reconsiderar se era "obrigatório comprometer a integridade da sua missão".
Na assembleia deste ano, intitulada Leadership Evolving: Graced, Grounded & Free [Liderança em evolução: Agraciadas, arraigadas e livres], espera-se que os membros da LCWR continuem as discussões sobre o mandato vaticano. Também se espera que Sartain se dirija ao grupo mais detalhadamente em algum momento.
Em sua fala na terça-feira, Sartain também disse ao grupo reunido que "é impossível para mim conceber a tarefa que o Santo Padre me pediu para assumir (...) sem pensar em vocês, sem pensar nas irmãs com as quais eu trabalhei".
"Eu não posso pensar na tarefa que o Santo Padre me pede para levar por diante (...) sem que seja muito pessoalmente", disse ele, mencionando algumas irmãs que ele conhece que atuam como professoras, enfermeiras e ministras paroquiais. "Porque para mim é muito pessoal".
Viganò disse à assembleia que ele estava "realmente admirado ao ver todas vocês reunidas aqui, tão numerosas, tão alegres – tão cheias de alegria e de desejo de servir ao Senhor".
O núncio apostólico também leu grande parte de um discurso em Roma do Papa Francisco a um grupo internacional de líderes religiosas católicas, chamado União Internacional das Superioras Gerais (UISG).
Durante essa fala, o papa disse ao grupo internacional – uma organização de cerca de 1.800 lideranças de congregações religiosas femininas de todo o mundo – que as irmãs são uma "luz no mundo".
Lendo esse discurso, Viganò pediu que as irmãs norte-americanas enfatizem os três votos religiosos tradicionais de pobreza, castidade e obediência e disse que o melhor exercício da autoridade "é o serviço, que tem o seu ápice luminoso na cruz".
"O que a Igreja faria sem vocês?", leu Viganò a partir das declarações do papa. "Faltar-lhe-iam maternidade, afeto, ternura, intuição de mãe. Ela perderia a primeira linha da evangelização".
Quem abriu a assembleia, na noite de terça-feira, foi a irmã franciscana Florence Deacon, presidente da LCWR.
"Nós sabemos que as decisões que estão na nossa frente são enormes", disse Deacon a seus membros. "As consequências das nossas escolhas podem ter um impacto significativo na forma como levamos a vida religiosa rumo ao futuro".
Antes de terminar a noite, os membros da LCWR foram conduzidas em uma "oração do Espírito", escrito pela irmã Rita Woehlcke, das Irmãs de São José.
"Estamos aqui (...) esperançosas, acreditando firmemente que tu vens, querido Espírito, acreditando firmemente umas nas outras, porque Jesus sempre acreditou em nós", rezaram as irmãs.
"Estamos aqui juntas, humildemente, embora entusiasmadas, querido Deus, por causa da Tua fé nas nossas questões e na nossa busca sincera, da Tua esperança na nossa perseverança na dificuldade, do Teu amor por estes nossos rostos voltados a Ti, da Tua confiança nos nossos melhores desejos, do Teu encanto nos nossos corações ansiosos por Ti e pelo Teu espírito", continuaram.
A assembleia da LCWR conta ainda com uma conferência principal da irmã franciscana Ilia Delio, autora de mais de uma dezena de livros que possui doutorado em farmacologia e em teologia, e é conhecida pelo seu trabalho sobre as questões ambientais.
Nessa sexta-feira, o grupo também concedeu a sua maior honraria à irmã franciscana Pat Farrell, que liderou a LCWR de 2011 a 2012 e orientou a sua resposta inicial ao mandato vaticano.
A LCWR homenageia a ex-presidente pela liderança que ela demonstrou "através de um tempo excepcionalmente desafiador".
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Em assembleia da LCWR, supervisor vaticano diz ser ''irmão e amigo'' das religiosas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU