09 Julho 2013
As pesquisas sociais são unívocas: cada vez menos jovens vão à paróquia ou se declaram católicos. Às vésperas da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) do Rio de Janeiro, um fórum da redação da revista Jesus, com quatro especialistas, apresenta o quadro da situação sobre essa distância crescente entre a Igreja e a geração dos "nativos digitais".
A reportagem é da revista Jesus, n. 7, de julho de 2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Para apresentar o quadro sobre esse dilema e sobre o tema mais amplo do "planeta jovens", a revista Jesus organizou um fórum editorial do qual participaram quatro convidados especiais: o padre Armando Matteo, teólogo e autor do livro La prima generazione incredula; Chiara Giaccardi, socióloga da Universidade Católica de Milão e especialista em mídias digitais; o padre Renato Rosso, religioso carmelita com uma longa experiência pastoral em paróquias e à frente de uma escola católica na Terra Santa; e Luciano Manicardi, monge de Bose, que se ocupa na comunidade particularmente com a formação dos jovens. Nas páginas que se seguem, a síntese do animado debate que surgiu do encontro.
Publicamos aqui a segunda parte do debate. Confira também a primeira parte.
Eis o debate.
O Pe. Matteo se referiu antes àquela que, em uma pesquisa realizada pelo professor Segatti em 2010, foi definida como "ruptura geracional", que inicia, grosso modo, a partir dos anos 1980, e que ele, no seu livro, sintetizou com a expressão "primeira geração incrédula". A que se deve isso? Quais são suas raízes?
Armando Matteo – É preciso analisar a situação da geração das pessoas nascidas entre 1946 e 1964, aquela a qual se pode atribuir a definição dada por Magatti" de "narcinismo", uma mistura entre narcisismo e cinismo. É a primeira geração que viveu fenômenos inéditos: se aposenta e ainda tem os pais vivos; experimentou o bem-estar, o boom econômico, a afirmação da técnica. Conheceu uma época histórica incrível: o Concílio Vaticano II, o primeiro homem na Lua, uma sensação de paz nunca manifestada (lembremo-nos do Vietnã).
No entanto, ela se apaixonou por esse grande sentimento de juventude e pelo ideal do self-made man. Assim, censurou a idade adulta da vida e a própria ideia de crescimento: o crescimento não é só acumular, mas também perder, envelhecer, morrer. Em uma pesquisa, foi perguntado aos italianos quando é que nos tornamos velhos. A resposta foi: "Aos 83 anos". A idade média dos italianos é de 82 anos e 4 meses, portanto, na Itália, tornamo-nos velhos depois da morte!
A brecha está justamente aqui: a fé existe porque nos ajuda a viver como adultos. O horizonte de Deus nos ajuda a não absolutizar este mundo, mas a abençoá-lo por aquilo que ele é. No momento em que uma geração marginaliza o discurso sobre a idade adulta, de fato, não precisa mais da fé. Encontramos isso também no livro de Luigi Zoja ou nas análises de Galimberti: o indivíduo pensa somente no presente. E o sistema econômico domina o indivíduo, através de falsas imagens de liberdade.
Em suma, essa geração mostrou que Deus e o Evangelho não servem. A Igreja continua postulando a família como lugar de transmissão da fé, mas as análises nos dizem que os jovens italianos não rezam em família, não lembram se a própria mãe alguma vez falou-lhes sobre a fé. Normalmente, a pessoa à qual associamos a fé é a avó. A ideia é que a fé é coisa dos padres, das freiras; enquanto você é criança, você precisa fazer essa "coisa", mas, quando você cresce, então segue em frente.
Tudo isso, no entanto, produz uma inquietação nos jovens. São eles que estão pagando o peso da censura da idade adulta. Os jovens estão buscando um novo sentido do humano. A internet e a web não são um instrumento, são um laboratório de humanidade. Outros elementos, além disso, vão nessa direção: o amor pela natureza, pela música, que é justamente o sentido da festa, e depois também a literatura, o cinema. A geração 1946-1964 censurou a idade adulta e, de fato, tornou simplesmente inútil a referência a Deus. Nós celebramos o Deus dos cristãos no domingo, mas a segunda-feira também serve na vida cotidiana.
Chiara Giaccardi – O tema da música é verdadeiramente paradigmático: na perspectiva de Marshall McLuhan, os meios são a extensão dos sentidos, e cada época se caracteriza por um "sabor cultural" particular, porque acentua uma dimensão da nossa sensorialidade mais do que outras. McLuhan defende, por exemplo, que "a visão exclui, o ouvido inclui", e não é por acaso que essa paixão pela música se casa tão fortemente com a dimensão da rede, de estar com, da conexão, da sintonia, de estar em uníssono.
Kant escrevia que a música é uma "linguagem sem conceitos": vibra-se junto, sem passar pela adesão intelectual. São as ideias da fisicidade, do contato que retornam: pela mesma razão, McLuhan definia a era da eletricidade (hoje dizemos era digital) como "audio-tátil". E essa é uma linguagem que eu acredito que é preciso recuperar também em nível litúrgico, porque a missa, mesmo para os jovens que frequentam os grupos eclesiais, corre o risco de ser sentida, injustamente, como uma linguagem estranha, abstrata, intelectualista.
Sobre a crise da idade adulta, eu acrescentaria uma consideração. O psicanalista Luigi Zoja, em La morte del prossimo, define os adultos como "lactantes psíquicos" que se apegam à mamadeira daquilo que lhes faz sentir bem, interrompendo aquele círculo virtuoso entre o pegar e o restituir, entre o receber e o dar, que, ao invés, deveria caracterizar o ser adulto, como havia defendido o psicólogo social Erik Erikson falando de generatividade.
A crise da idade adulta também é a crise da generatividade. O ser – digo-o como católica – não é enquanto é, mas enquanto gera. Deus criou o mundo e criou o ser humano. E o criou, com as belas palavras de Hölderlin, "como o mar cria a terra: retirando-se". O termo generatividade, que para Erikson tem como única alternativa a "estagnação", prevê três momento: o pôr no mundo (dar à luz), o cuidar e o deixar ir. A crise da generatividade hoje se manifesta em todos os três níveis: não pomos mais no mundo; pomos no mundo mas não cuidamos; ou cuidamos mas não deixamos ir.
Vê-se muito bem este último aspecto nas nossas elites, que talvez fizeram coisas muito bonitas, mas depois não as deixam ir, não passam o bastão e assim roubam o futuro das jovens gerações. A crise da idade adulta é justamente uma crise de generatividade, que se manifesta no esforço de reter o máximo possível e de não transmitir. Ou somos generativos e entramos em um círculo virtuoso, ou há a estagnação que, depois, é asfixia, morte.
Luciano Manicardi – Uma dimensão dessa crise que os jovens hoje estão pagando é que a geração dos seus pais não soube prometer ou permanecer fiel às promessas feitas. A promessa não mantida cria desconfiança, e sem confiança não há futuro. Prometer é dar forma ao futuro, futuro que é responsabilidade dos adultos e potencialidade nos jovens. É hora de sair da retórica de jovens que são sempre e invariavelmente o futuro e a esperança da Igreja e da sociedade: o futuro e a esperança também são responsabilidade dos adultos. E é preciso ajudar os jovens a aproveitar os seus recursos internos, porque o futuro também nasce da interioridade: o apaixonar-se diz isso muito bem. Mas também a faculdade de desejar e de imaginar.
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Jovens, o futuro da Igreja em fuga – Parte 2 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU