14 Junho 2013
A denúncia de Francisco não é surpreendente: "Era uma confidência a um grupo de amigos, ele não queria que o planeta soubesse, mas podemos dizer que ele podia ousar mais", brinca paradoxalmente Vittorio Messori, escritor e historiador, colunista do Corriere della Sera, frequentador assíduo de Joseph Ratzinger. Nunca se tinha ouvido falar de um pontífice que se desconcerta diante de lobbies gays e corrupção: "E há um perigo, ainda mais grave".
A entrevista é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 13-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Qual?
A chantagem.
Isso vai além da preocupação de Francisco.
Não, eu não me daria ao luxo. Nunca daria conselhos ao papa, seria ridículo. Escreva isso, por favor.
E o que o senhor teme pela Igreja?
O risco não vem apenas de uma organização de gays. Eu não faria uma distinção entre gostos sexuais. O problema é a chantagem a que se submetem os empregados ou os clérigos que levam uma vida dupla: que saem por aí com a mulher ou com o motorista.
Quem pode estar manejando as ameaças?
O Vaticano não é um paraíso. Há multidões de inimigos externos e sobretudo internos. Não é uma descoberta afirmar que a batalha entre os conservadores e os progressistas continua.
Nem mesmo a corrupção lhe faz tribular?
O Vaticano é um Estado especial e pequeno, mas mesmo assim é uma realidade burocratizada, que distribui contratos, comissões, dinheiro, e não pode abrir mão disso.
Francisco citou a Cúria. Muitos a indicam como uma doença que se tornou incurável.
O Vaticano não pode renunciar a uma estrutura de governo, inclusive funcional para a difusão evangélica. Um pouco de seriedade.
O que o senhor pensa de Tarcisio Bertone, o secretário de Estado, várias vezes – sobretudo nos bastidores e segundo os boatos – a ponto de ser obrigado a sair ou a ser substituído?
A questão não começa e não se esgota com Bertone.
O papa elogia o católico pobre, humilde, e ataca o carreirismo e a prevaricação. Esse tratamento funciona?
Eu nunca aceitei viver em Roma para não cair nessas interpretações. Não é a intenção de Francisco, mas os seus discursos são retratados com demagogia, e o próprio pontífice pode parecer um demagogo. Não é correto dizer que "São Pedro não tinha um banco", como ele declarou há alguns dias: a Igreja nunca desprezou o dinheiro. E, depois, ele leu as lendas sobre os sapatos?
Bergoglio não usa os mocassins vermelhos de Ratzinger.
Sem dúvida, mas é por um motivo físico: ele sofre de dor ciática, manca um pouco e precisa de um apoio mais sólido. E a Igreja pobre é uma bobagem: Jesus não era um morto de fome.
Aí já é demais, Messori.
Não digamos estupidezes. Jesus tinha uma disponibilidade econômica, até mesmo um tesoureiro que depois o traiu, Judas Iscariotes. Quando foi crucificado, os guardas notaram que ele tinha uma túnica costurada em um único pedaço de pano, um luxo raro, e jogaram dados sobre ela, porque custava caro. Era de valor. Jesus vestia Armani.
Ainda naquela conversa com os latino-americanos, Francisco admitiu que não podia prometer as reformas que muitos invocam e pelas quais muitos sofrem.
Óbvio, a Cúria é o braço do pontífice e mantém equilíbrios complicados que não podem ser varridos ou modificados às pressas.
Bento XVI não conseguia reordenar a Cúria, converter os pecadores. Ele também renunciou por um sentimento de impotência?
Eu o conheço há anos, lembro a sua timidez, mas não é um homem medroso. Ele tem dez anos a mais do que Bergoglio, está fisicamente debilitado, sabia que não podia mais desempenhar as tarefas para as quais havia sido chamado: Cúria inquieta, certamente, e muito mais.
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O papa deve temer as chantagens e não fazer demagogia. Entrevista com Vittorio Messori - Instituto Humanitas Unisinos - IHU