10 Junho 2013
Mas tu querias ser papa?, pergunta uma menina. "Não, eu não quis ser papa. Uma pessoa que quer, que tem vontade de ser papa, não quer bem a si mesma, não? Deus não a abençoa, não?". Mas por que o senhor não vai morar no Palácio Apostólico? "Eu acredito que não é apenas uma coisa da riqueza. Para mim, é um problema de personalidade... Eu tenho a necessidade de viver entre as pessoas, e se eu vivesse sozinho, talvez um pouco isolado, não me faria bem. Mas esta pergunta me foi feita por um professor: 'Mas por que o senhor não vai morar lá?'. Eu lhe respondi: 'Mas, ouça, professor: por motivos psiquiátricos', não? Porque, mas... é a minha personalidade". "
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 08-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Dentro do Vaticano, onde todos os cargos são confirmados "donec aliter provideatur", isto é, enquanto não se providenciar de outra forma, ressoaram como um novo choque as palavras que Francisco quis dirigir nessa sexta-feira pela manhã na Sala Paulo VI, diante de 8 mil estudantes das escolas dos jesuítas.
Havia um texto já escrito, o papa tinha apenas que lê-lo. Ao invés, ele o deixou de lado, porque era "um pouco chato" e, de improviso, às vezes dialogando com os jovens, voltou a falar sobre si mesmo. E, falando de si mesmo, falou da Igreja, do que significa para ele ter fé.
A weltanschauung de Francisco é um poderoso lembrete à essencialidade e à simplicidade. E se torna preciso perguntar: que fim terão os carreiristas diante de um papa que afirma que toda esperança reside apenas em "Jesus pobre"?
Depois das audiências da manhã, o papa passou a tarde recebendo pessoas. Chama conhecidos de fora, informa-se sobre tudo. E depois prega, nas audiências assim como nas missas pela manhã, falando de improviso. Ele afirma ter tomado a decisão de viver em Santa Marta por medo de ficar isolado. E, de fato, no terceiro andar do Palácio Apostólico, ele não desfrutaria da liberdade de que goza em Santa Marta. Mas as suas palavras também vão em profundidade e são espadas que entram no coração de todos, eclesiásticos em particular. Uma pessoa que "quer bem a si mesma" não deseja fazer carreira, afirma, "não quer ser papa".
A forma requer substância. A Igreja humilde e essencial que o papa tenta moldar tem uma ancoragem profunda em Deus. É preciso escolher: ou viver pelo "dinheiro", ou se livrar dessas "estruturas econômicas e sociais que nos escravizam" e escolher Deus. Essa escolha pode ser feita a cada momento.
Mesmo a política, por mais suja que possa ser, pode ser vivida de forma diferente. Ele diz: "Envolver-se na política é uma obrigação para um cristão. Nós, cristãos, não podemos fazer como Pilatos, lavar as mãos: não podemos".
As perguntas e repostas com os jovens e os fiéis não é um exemplo único deste pontificado. Albino Luciani havia começado a fazer isso. Depois Karol Wojtyla. Para Francisco, o contato com as pessoas é talvez ainda mais radical. As audiências das quartas-feiras duram horas por causa da sua presença na praça saudando, abraçando. E assim ele espera que façam os bispos de todo o mundo. No fundo, é para isso que o conclave o elegeu. Para levar a Igreja longe, para fora das disputas palacianas, para lá onde está a sua verdadeira missão.
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Francisco se confessa a uma menina: ''Eu não queria ser papa'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU