21 Mai 2013
"Francisco está dando sinais de que está ensaiando, na cidade de Roma como deve ser, ao lado da Catequese Libertadora tipicamente do modelo da Igreja latino-americana para Comunidades de Base, agora, com ele em Roma, como deve ser uma catequese libertadora de massas , para o povão que acorre para lá, do mundo inteiro. Ele se volta mais para o coração das pessoas, a emoção, do que para a razão ou o raciocínio", escreve Antonio Cechin, irmão marista, militante social e autor do livro Empoderamento Popular: Uma pedagogia de libertação (Porto Alegre: Estef, 2010).
Segundo ele, "está chegada a hora e a vez da catequese libertadora, se espraiando da Ameríndia para o universo inteiro".
Eis o artigo.
A Comunidade Eclesial de Base descobriu o jeito de fazer sua própria Catequese Libertadora com um método particular, inteiramente seu. É fruto de muitas mãos que o construíram ao longo de todo um processo histórico de salvação. Trata-se de um trabalho catequético simples como, aliás, costumam ser simples as obras de Deus. Fruto de toda uma Caminhada. Vejamos esse jeitinho bem brasileiro dos pobres em suas catequeses libertadoras:
Como Comunidade Eclesial de Base que é, ela se reúne. Reflete sobre o seu próprio processo histórico. Perpassa o microprocesso cotidiano de cada pessoa e das famílias, passando pelo processo histórico municipal, estadual e pelos macroprocessos nacional, continental e mundial. Não raro, todos esses níveis se encadeiam com facilidade. Esta análise da realidade é o primeiro passo.
Aos poucos, na transparência dos fatos da realidade, juntos e comunitariamente, vão todos descobrindo a presença de Jesus Ressuscitado, caminhando à frente da Comunidade, dando sentido a tudo. Não foi por meio dele que “tudo foi feito e nada do que foi feito, foi feito sem Ele” nas palavras do evangelista João, bem no início do seu Evangelho? Com esta descoberta do Vivente e do Caminhante com a Comunidade que é o Homem Jesus de Nazaré, é dado o segundo passo na Catequese. Para tanto a referência constante à Bíblia, especialmente ao Novo Testamento, garante a mais absoluta certeza de que é dele mesmo, Jesus, o rosto cujos traços vão se configurando e aparecendo. É o rosto daquele que prometeu “quando dois ou mais estiverem reunidos em meu nome (a Comunidade de Fé) lá estarei eu, no meio deles”.
Na medida em que os traços da vida e da pessoa de Cristo vão clareando, na transparência dos fatos, cresce no coração dos participantes, a vontade de realizar encontro imediato com o Filho de Deus Vivo, aqui e agora. Vai-se então ao Encontro do Homem-Deus Jesus de Nazaré. Dialoga-se com Ele através de uma oração, de um canto, ou de uma celebração. É o terceiro momento: o da Liturgia.
Dão-se conta, em seguida, quase automaticamente, de que não são, os membros da Comunidade, os primeiros a fazer esta sensacional descoberta do Filho de Deus, Jesus Cristo, caminhando conosco e à nossa frente. No passado, toda uma cadeia de personagens, grupos, comunidades, etc. fizeram essa mesma descoberta que remonta ao Pai Abraão, já no Antigo Testamento. O patriarca foi a primeira pessoa que viu com olhos de Fé. Abraão descobriu o Deus conosco, isto é, a presença de Deus em seu caminhar.
É este, agora, o momento em que a Comunidade de Base realiza a descoberta da Tradição da qual, ela como Comunidade de Fé, se sente em continuidade, caminhando na construção, já aqui e agora, do Reino de Deus, rumo à pátria definitiva junto do Deus uno e trino. É o quarto momento catequético.
O quinto momento é o dos encaminhamentos para os compromissos.
À luz do primeiro passo – o da análise da realidade – descobriu-se, na transparência dos fatos que, lado a lado com o processo de transformação para melhor, da realidade do entorno da Comunidade e do mundo, aquilo que podemos chamar de processo histórico da Salvação, fazendo história com fatos e ações libertadores da humanidade, há um outro processo paralelo que é constituído de coisas negativas, de contravalores, se alinhando como uma espécie de processo contrário, de perdição.
Surge então no coração da Comunidade vontade de transformação da realidade em todas as suas instâncias, desde a individual até a social, tanto local como mundial. É o momento de amarrar compromissos, lutas, engajamentos, como Comunidade. Para além da Comunidade, também realizar trabalhos de massa, como Cristo fazia, primeiro junto à pequena comunidade dos 12 e depois junto às multidões.
Hoje, dia 19 de maio, estamos celebrando a Festa de Pentecostes ainda sob o impacto do Pentecostes de hoje, ano 2013.
No Pentecostes fundante da Igreja, acontecido na Comunidade dos 12 apóstolos em companhia de Maria, a Mãe de Jesus, o Divino chega provocando terremoto que sacode a Igreja toda. Ele vem como fogo e como vento impetuoso. Foi uma chegança simplesmente espetacular.
Línguas de fogo sobre cada um dos participantes da Comunidade Eclesial de Base que se transformou como a base de toda a Igreja Universal, mudando o coração de pedra dos discípulos de Jesus em coração de carne, agora totalmente abrasados de Amor com o contato direto que tiveram com o Deus-Amor, o Divino Espírito Santo.
Como vento impetuoso abrindo portas e janelas que estavam todas trancadas pelo medo que tinham de que lhes acontecesse algo parecido com o que aconteceu com o Mestre, condenado à morte na cruz. Parecia que a impetuosa ventania os empurrava para fora do recinto a fim de que iniciassem a Missão que Jesus lhes confiara na despedida: “ide por todo o mundo a fim de fazer de todos os povos discípulos meus.”
Pois não é que no mês de março próximo passado, o conclave dos cardeais, reunidos a fim de eleger o novo papa, foram sacudidos pela força do mesmo Espírito que deu início à evangelização em massa, na Igreja?...
Ninguém podia sequer imaginar que receberíamos um presente do céu: o papa Francisco. Um papa dos pobres e um Papa catequista autêntico. Basta compará-lo com os dois últimos: João Paulo II e Bento XVI. não só nas falas, mas nos atos e gestos, especialmente no testemunho de vida.
Francisco está dando sinais de que está ensaiando, na cidade de Roma como deve ser, ao lado da Catequese Libertadora tipicamente do modelo da Igreja latino-americana para Comunidades de Base, agora, com ele em Roma, como deve ser uma catequese libertadora de massas , para o povão que acorre para lá, do mundo inteiro. Ele se volta mais para o coração das pessoas, a emoção, do que para a razão ou o raciocínio.
Em meu modesto entender, está chegada a hora e a vez da catequese libertadora, se espraiando da Ameríndia para o universo inteiro.
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É chegada a hora e a vez da Catequese Libertadora - Instituto Humanitas Unisinos - IHU