01 Abril 2013
O julgamento por genocídio iniciado na Guatemala do general Efraín Ríos Montt voltou a pôr o país centro-americano diante dos horrores de seu passado. A guerra de 36 anos (1960-1996) entre o Estado e a URNG (Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca) deixou, segundo se calcula, 200 mil mortos, em sua maioria nas zonas rurais indígenas. O relatório publicado em 1999 pela Comissão de Esclarecimento Histórico, patrocinada pela ONU, deu conta das atrocidades cometidas contra a população civil, fundamentalmente por parte das forças militares.
A informação é do jornal El País e reproduzida pelo Portal Uol, 29-03-2013.
No plano concreto, Ríos Montt deverá responder pela morte de 1.771 indígenas da etnia ixil entre 1982 e 1983, quando ocupou o poder depois de derrubar outro general, Romeo Lucas García, iniciador da sangrenta estratégia contrainsurgente. Eram os anos de chumbo da Guerra Fria, quando Washington e Moscou moviam seus peões no tabuleiro latino-americano e quando tudo era válido para derrotar a guerrilha marxista, inclusive transformar a população civil em "inimigo interno".
O julgamento de Ríos Montt é sem dúvida um fato histórico. Que um antigo chefe de Estado enfrente acusações de crimes de guerra na América Latina é algo excepcional. E é digno de destaque que seja na Guatemala, onde um sistema jurídico inoperante, para dizer o mínimo, avalizou a impunidade no passado e no presente. O processo é um indício de que as coisas estão mudando, graças em parte às reformas no aparelho judicial, realizadas com o apoio internacional.
O julgamento reabriu velhos debates na polarizada sociedade guatemalteca. Ríos Montt foi um dos líderes políticos mais populares do país, também entre a população indígena. Seu partido ganhou as legislativas de 1994 e as presidenciais em 1999. Até o ano passado, ocupou um lugar que lhe garantia a imunidade.
É fundamental que os esforços para julgar os crimes de lesa-humanidade prosperem, e que centenas de milhares de famílias encontrem o ansiado ressarcimento. Mas a revisão não pode se encerrar com o julgamento de um homem de 86 anos. Também é importante que esse processo anime, ao mesmo tempo, uma reflexão crítica e honesta por parte de todos. Os que empunharam as armas e os que olharam para o outro lado. Para que a Guatemala deixe de ser uma sociedade envenenada pelo ódio.
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Julgamento de general obriga sociedade da Guatemala a confrontar seu passado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU