28 Fevereiro 2013
"Parecia que o impulso renovador do Vaticano II já tivesse se esgotado. De repente, a renúncia de um Papa acaba mostrando que é possível, sim, mudar muitas coisas, que o peso da história parecia canonizar como imutáveis!", escreve Demétrio Valentini, bispo de Jales - SP, em artigo publicado por Adital, 28-02-2013.
Segundo o ex-presidente da Cáritas Brasileira, "nestes dias de sede vacante, estas esperanças se concentram na pessoa do novo Papa que vai ser eleito. Mas podemos alargá-las, apostando nas iniciativas renovadoras que poderão contagiar a Igreja inteira, como aconteceu com João XXIII".
Eis o artigo.
Do dia 28 de fevereiro, quinta-feira, às vinte horas de Roma, a Igreja Católica está sem Papa. Efetivada a renúncia de Bento XVI, começa o período de "sede vacante”. Está vago o cargo de Papa.
Tudo conforme ele mesmo tinha determinado, no dia 11 de fevereiro, quando estabeleceu o dia e a hora exata em que ele deixaria de exercer a missão de Papa.
De tal modo que toda a Igreja teve tempo de assimilar a notícia da inesperada decisão, e contar com a segurança das disposições que entram logo em vigor quando vem a faltar o Papa.
Assim, todos podemos ter segurança e serenidade, sabendo que estão agora previstos todos os passos que vão levar à eleição de um novo Papa, dentro de poucos dias.
Desta vez a situação foi inusitada. Quando morria um Papa, estávamos acostumados a acompanhar o seu enterro, e agradecer a Deus o dom de sua vida, colocada a serviço da Igreja até o momento de sua morte.
Fomos surpreendidos por uma inesperada decisão do Papa, que sentindo suas forças faltarem, decidiu renunciar, para deixar o lugar a outro que pudesse cumprir esta pesada missão com renovadas energias.
Desta maneira, não é que ele abandonou o barco, para cair fora. Ao contrário, sentiu tanta responsabilidade pesando em seus ombros, que achou mais acertado, para o bem da Igreja, renunciar à sua missão de Papa, para que esta missão seja assumida por alguém em plenas condições de suportar o peso deste cargo todo especial.
Com isto, de certa maneira, Bento XVI deu um claro recado ao novo Papa. Seja quem for o eleito, ele poderá contar com o apoio de todos para enfrentar "as questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho”, como ele mesmo falou no dia em que anunciou sua renúncia.
Como todos já pudemos constatar, Bento XVI nos deixa um claro e comovente testemunho de tantas virtudes, que o ajudaram a tomar esta decisão.
Foi humilde para reconhecer sua fraqueza física.
Foi desprendido em deixar de lado as honras e o poder do cargo que ocupava.
Foi, sobretudo, responsável, comunicando sua decisão, a tempo de todos assimilarem a notícia e assumirem suas responsabilidades.
Com sua renúncia, Bento XVI nos deixa um comovente exemplo de total devotamento à missão que Deus dá a cada um. Sua renúncia se assemelha a um grande retiro, onde ele poderá agora se deter com mais serenidade, vinda de sua paz de consciência pelo dever cumprido, e da abundante semeadura, que a seu tempo germinará e dará muitos frutos.
Pelo inusitado da renúncia, o fato se revestiu de expectativas de mudanças na vida da Igreja. Com seu gesto, Bento XVI acabou demonstrando que é possível provocar mudanças, mesmo num aparato tão monolítico como se tornou a estrutura da instituição eclesial.
Parecia que o impulso renovador do Vaticano II já tivesse se esgotado. De repente, a renúncia de um Papa acaba mostrando que é possível, sim, mudar muitas coisas, que o peso da história parecia canonizar como imutáveis!
Nestes dias de sede vacante, estas esperanças se concentram na pessoa do novo Papa que vai ser eleito. Mas podemos alargá-las, apostando nas iniciativas renovadoras que poderão contagiar a Igreja inteira, como aconteceu com João XXIII.
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