01 Dezembro 2012
Elas são chamadas de "esposas de baixo custo". Mulheres meninas, fáceis de encontrar, fáceis de levar, com famílias dispostas a isso apenas para ver melhoradas, mesmo que pouco, as suas desastrosas situações econômicas nos campos de refugiados cada vez mais lotados e desesperados ao longo da fronteira. O mercado é florescente e está crescendo. Muitos taxistas de Amã já se profissionalizaram. Esperam pelos ricos sauditas e dos países do Golfo no aeroporto ou na frente dos hotéis de cinco estrelas. Basta pouco para entender o que querem. "As mulheres sírias agradam no mundo árabe. São claras de pele em uma parte do globo onde o sol bronzeia e envelhece muito rápido, altas, olhos grandes", contam os ativistas locais de defesa dos direitos humanos a Cassandra Clifford, conhecida militante norte-americana pela defesa dos mais fracos e fundadora da organização humanitária Bridge to Freedom Foundation.
A reportagem é de Lorenzo Cremonesi, publicada no jornal Corriere della Sera, 28-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Custam pouco, meninas de 15 ou 16 anos cedidas pelas famílias recém-fugidas dos horrores da guerra civil por quantias que podem ficar dentro dos limites de 1.000 ou 2.000 euros. Uma bagatela, ninharia para os homens de negócios do Golfo. Eles estão acostumados a gastar muito mais. Uma noite na companhia de prostitutas ucranianas em um hotel em Dubai pode custar até o dobro.
Não admira que o fenômeno esteja crescendo. É é uma constante que persegue as vítimas de tantas tragédias humanas. Ocorria com os refugiados afegãos fugidos para o Paquistão, com os iraquianos que, em meio aos massacres de 2005-2007, procuravam refúgio entre Damasco e Amã.
Mas, para as mulheres sírias, o calvários das esposas-meninas chama ainda mais a atenção porque os massacres entre Damasco, Aleppo, Homs e os vilarejos fronteiriços ainda estão ocorrendo ou, melhor, continuam crescendo. Dentro do país, os deslocados poderiam chegar a cinco milhões. A ONU assinala cerca de 500 mil expatriados, principalmente na Turquia, Iraque, Líbano e Jordânia.
Mas parece que justamente nesse último país as meninas são dadas em casamento mais facilmente. O Washington Post assinalava em uma recente reportagem do campo de refugiados de Zaatari que seriam as próprias organizações humanitárias locais que favoreciam isso. "Isso não é exploração. Isso é generosidade", declara Ziad Hamad, cuja associação de caridade, Kitab al-Sunna, se entrega em ajudas entre tendas e barracos.
Parece que às famílias que opõem resistência à perspectiva de ceder suas filhas a perfeitos desconhecidos são oferecidos até 4.500 euros, uma fortuna para quem não tem nem um tostão para o pão. "É óbvio que eu preferiria um marido sírio para a minha filha. Mas o que podemos fazer?", explica Abu Yousef. A filha é uma viúva, tem 27 anos, três filhos. O marido foi morto pelos partidários do presidente Bashar Assad. Assim, no fim, aceitaram que ela fosse embora com um engenheiro saudita aposentado de 55 anos.
As Nações Unidas denunciam que o mercado das esposas sírias está se ampliando na rede. Os sites especializados árabes estão cheios de ofertas e de detalhes. Mas também há quem se oponha. "Só porque perdemos as nossas casas eles pensam que podem tirar as nossas mulheres. Mas se equivocam muito", diz, combativo, Ibrahim Naimi, 42 anos, proprietário de um pequeno café na cidade de tendas.
Ainda mais determinados a combater o fenômeno são os refugiados na Turquia. "Aqui não é como na Jordânia. Os campos de refugiados são vigiados pela polícia turca e pelos nossos guardas locais. Os cafetões não podem entrar. Ai deles!", diz Nahel Gadri, ativista revolucionário de Eriha, deslocado na cidade turca de Latakia.
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Esposas sírias à venda para árabes ricos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU