13 Novembro 2012
O coronel reformado do Exército Julio Miguel Molinas Dias, assassinado em Porto Alegre na noite de 1º de novembro, mantinha em casa dossiês sobre sua atividade dos tempos de caserna. Uma série de arquivos de papelão contendo folhas datilografadas com dados sobre o funcionamento dos serviços de contraespionagem da ditadura militar foram encontrados na sua residência. O material interessa, e muito, à Comissão Nacional da Verdade, criada pelo governo federal para examinar e esclarecer violações de direitos humanos durante o regime, entre 1964 e 1985.
A reportagem é de Humberto Trezzi e publicada pelo jornal Zero Hora, 13-11-2012.
Dois assessores técnicos da comissão estão em Porto Alegre para colher informações sobre o coronel, que há 30 anos chefiou o Destacamento de Operações de Informações – Centro de operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão de informações e repressão do Exército. São dois juristas: o goiano Wagner Gonçalves, ex-subprocurador-Geral da República e o gaúcho Manoel Volkmer de Castilho, juiz federal e ex-desembargador do TRF-4 (com sede no Estado).
Os dois visitaram ontem o Chefe da Polícia Civil gaúcha, delegado Ranolfo Vieira Junior, e também o delegado Luís Fernando Martins de Oliveira, da 14ª Delegacia de Polícia Civil (bairro Vila Jardim) da Capital e responsável por investigar a morte do coronel. Duas são as linhas de investigações da polícia: assalto, possivelmente para roubar as 20 armas que o militar mantinha em casa. Ou vingança, feita por algum inimigo do passado ou até por ser um homem que sabia demais.
Da boca do delegado Luís Fernando, os dois representantes da comissão ouviram que, até o momento, não surgiram pistas de que o assassinato do coronel tenha sido motivado por vingança ou queima de arquivo – embora essas hipóteses não estejam afastadas. O policial não mostrou aos investigadores os dossiês encontrados na residência da vítima, mas fez um relato do tipo de arquivo encontrado. O material conteria informações sobre pessoas monitoradas na época pelo governo militar – como o ex-governador gaúcho Leonel Brizola. Molinas também tinha informações sobre a rotina de opositores e ex-militantes de organizações guerrilheiras, bem como do funcionamento dos organismos de contraespionagem governamental. Caso a comissão solicite os documentos formalmente, eles serão disponibilizados.
Militar não seria chamado a depor na comissão
Com base no relato, os dois assessores da comissão se mostram propensos a acreditar que, apesar do seu passado na contraespionagem, o coronel pode ter sido vítima de bandidos comuns. Conforme Wagner Gonçalves, Molinas não constava da lista de pessoas a serem chamadas para depor, até por ter participação discreta no aparato militar repressivo.
– Muitas vezes o sujeito chefiava uma repartição, mas não sabia tudo que seus subordinados faziam. O nome do coronel Molinas não constava dos possíveis testemunhos da comissão – comenta Gonçalves.
Ele se refere ao episódio da explosão da bomba no Riocentro, quando dois militares do Exército tentaram realizar um atentado e foram vitimados pela explosão. Os dois trabalhavam no DOI-Codi, subordinados a Gonçalves.
A comissão continuará acompanhando a investigação do assassinato.
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Morte de coronel. Comissão da Verdade monitora investigação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU