09 Outubro 2012
Há um Deus desconhecido aqui, entre os vestígios de Francisco? Fazendo essa pergunta aos peregrinos, às crianças com as suas mochilas ou a três turistas ingleses que bebericam um vinho generoso em uma venda perto da Porta San Giacomo, você terá como resposta um sorriso que esconde perplexidades. Mas esse é o desafio do Átrio dos Gentios: falar de Deus onde ninguém se lembra dele habitualmente e dar as razões de quem não crê onde todos o pregam.
A reportagem é de Armando Torno, publicada no jornal Corriere della Sera, 06-10-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O diálogo, conduzido por Ferruccio de Bortoli, que abriu os dois dias, com o significativo título Deus, esse desconhecido, era um encontro entre o presidente Giorgio Napolitano e o cardeal Gianfranco Ravasi, responsável pelo dicastério cultural da Igreja. E nós tentaremos evidenciar justamente o aspecto cultural do que aconteceu, começando às 17h20, durante uma hora abundante na praça inferior de São Francisco de Assis.
Imaginem o microcosmo que ganha vida nesse espaço antes de um acontecimento. Há cantos, autoridades, capta-se o perfil dos couraceiros se destacando das linhas franciscanas: não faltam as pedras antigas, os afrescos que não se veem, mas se imaginam, outras sugestões.
Depois, a voz de Ferruccio de Bortoli reúne os olhares e, pouco depois, Napolitano toma a palavra. Em sua conferência não faltam referências aos fatos italianos dos últimos tempos, mas o que chama a atenção são os protagonistas evocados. Amigos, companheiros de viagem, mestres.
"Vocês conhecem – enfatiza – o meu percurso e o seu ponto de partida, como jovem que olhava em volta e se abriu ao futuro nos anos 1940, e vocês não se admirariam, portanto, da abordagem histórico-política desta minha intervenção".
Os nomes que ele lembra delineiam as suas convicções religiosas, além das morais. Eis o constitucionalista Leopoldo Elia – é a posição que emerge na Assembleia Constituinte –, e o seu pôr em destaque algumas possíveis convergências entre o pensamento da esquerda marxista e da católica, mas também de "alguns ambientes da cultura secular".
E eis La Pira que desejaria pôr a brevíssima fórmula "Em nome de Deus, o povo italiano se dá a presente Constituição", imediatamente seguido por Francesco Saverio Nitti, "Por que devemos nos dividir em nome de Deus?".
Comovente é a entrada de Concetto Marchesi, célebre classicista que, para além da adesão ao marxismo, deixou palavras para se refletir: "Eu sempre rejeitei na minha consciência a hipótese ateia, que Deus é uma ideologia de classe. Deus está no mistério do mundo e das almas humanas". Sim, "mistério": não fugiu de Palmiro Togliatti essa palavra quando ele comemorou a sua morte na Câmara.
Norberto Bobbio ("Eu não considero nem ateu, nem agnóstico") quis um funeral civil: ele nunca havia se afastado da religião dos seus pais, mas só da Igreja. E ainda: Thomas Mann, que se ajoelhou diante de Pio XII, e Benedetto Croce, do qual, lembrou Napolitano, "não deve escandalizar aquele 'eu acredito do meu modo': eu captaria o seu sentido de medida e de respeito que caracterizou a atitude de personalidade entre as maiores do mundo secular italiano para com a esfera da fé e o fato religioso".
É o momento do cardeal Ravasi. Ele fala de improviso e fixa dois símbolos. O primeiro é o muro, que também é fisicamente reportável ao antigo Átrios dos Gentios de Jerusalém. Havia a morte para quem o ultrapassasse, as mãos – destaca sua eminência – "absolutamente não podiam se cruzar". O cristianismo, porém, subverte as regras.
Como biblista, ele cita a carta de Paulo aos Efésios para lembrar que esse muro foi derrubado por Cristo. E, se ele não existe mais, o diálogo se torna não somente possível, mas também necessário. O cardeal, retomando o presidente, admite que leu os mestres citados e que, graças a eles, existe uma base comum superior às distinções. Ele põe em jogo Einstein, que advertia para que nunca se esquecesse da humanidade, e um ditado da tradição judaica que melhor do que qualquer outra explica o sentido do diálogo: "O tolo diz o que sabe, o sábio sabe o que diz".
Assim, Ravasi se agarra às palavras de Ferruccio de Bortoli proferidas no início, antes de abrir o encontro. A citação do filósofo francês Luc Ferry lhe permite lembrar que "eu recém escrevi com ele um livro a quatro mãos". E, por fim, para para o segundo símbolo. De Bortoli mencionou, retomando um texto de Paolo de Benedetti, os "despertadores": eles tinham a tarefa de "despertar Deus", porque "até mesmo Deus pode dormir". O purpurado pega a bola no ar e leva o conceito através dos Salmos, detém-se no velar-despertar presente no Novo Testamento, cita Wilde, Bernanos, sublinha que o Átrio nasceu para que haja perguntas que possa e saibam despertar.
As posições se delinearam, se veem. De Bortoli tem tempo para fazer duas perguntas: uma sobre o bem comum na Itália (aqui as respostas tocam inevitavelmente a política), e a outra se refere às dúvidas que se pode ter com a própria fé. Ravasi, respondendo por primeiro, admite tê-las provado; além disso, a própria Bíblia lembra a escuridão, a ausência de Deus. Jó chega ao ponto de representar Deus como um monstro; mas Jesus também, diante do seu destino mortal, grita: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?", e o Pai não responde.
Napolitano fala da sua educação religiosa, dos sacramentos, da fé da mãe. Confessa: "Separei-me de uma práxis e caí em outra dimensão de vida que não me fazia perguntas". Ele retoma ainda La Pira, cita o sumo Pascal, novamente Marchesi. Mas ele já descreveu os seus sentimentos, na intervenção inicial, com os mestres caros e rigorosos, moralmente irrepreensíveis.
Acaba-se apresentando o novo portal dos franciscanos. Na última sexta-feira à noite, em Assis, Deus não era realmente um desconhecido. No máximo, tentou-se "despertar" um discurso que a ele se refere.