06 Outubro 2012
Foi numa tentativa de se esquivar de jornalistas que o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, deu o tom do clima entre os petistas históricos em relação ao julgamento do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pelo Supremo Tribunal Federal (STF). "A dor me impede de falar, neste momento, dessa questão", disse Carvalho, que atuou no seleto grupo coordenado por Dirceu que trabalhou para levar Lula ao poder.
A reportagem é de Leonencio Nossa e Rafael Moraes Moura e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 06-10-2012.
A rápida conversa de Carvalho com jornalistas ocorreu na abertura de uma exposição, no segundo andar do Planalto, de seis quadros do italiano Michelangelo Caravaggio (1571-1610), mestre das expressões fortes, que explorava o escuro em suas obras.
Nas últimas semanas, os petistas influentes do governo evitaram dar declarações sobre o julgamento do mensalão. As razões são várias, observam interlocutores do Planalto. A razão política é que o drama do partido não pode atravessar a Praça dos Três Poderes - de um lado fica o STF e do outro, o Planalto. A razão partidária é que o mensalão não deve pautar as campanhas municipais do partido, como a oposição tenta emplacar. Há ainda a "razão" dos advogados dos réus, preocupados com frases de efeito que podem soar com tom de intromissão de poderes.
Durante os oito anos de governo Lula, o ex-seminarista Gilberto Carvalho, o "padre" do grupo de petistas históricos, sempre foi visto como a segunda voz do presidente, que sempre transmitiu com fidelidade pensamentos e frases do amigo. Mas, o jeito afável e cordial sempre representou mais um contraponto num partido acostumado a líderes explosivos e temperamentais.
Agora, no julgamento do "ex-homem forte" do PT e do governo Lula, o "padre" é quem melhor pode expressar o que a maioria sente, diz outra pessoa próxima de Lula. As eternas e sempre lembradas divergências de grupos, a obsessão demonstrada no passado por Dirceu em suceder Lula no governo e as contradições de um líder que ao deixar o palácio após duas crises políticas (caso Waldomiro Diniz e mensalão) virou um homem de boas relações e bons negócios perderam sentido, observa um assessor influente do governo.
Para esse assessor, o fato concreto é a condição de réu de um quadro forte de um partido hoje sem brilho, seja no Congresso, seja na direção da legenda e na organização da militância.
O que perturba os petistas históricos não é a situação do "ex-poderoso" chefe da Casa Civil, do "capitão da equipe de Lula", do homem que, em 1º de janeiro de 2003, fez questão de subir a rampa do Planalto logo atrás do presidente eleito e do vice eleito, José Alencar.
Assessores observam que José Dirceu está para ser condenado por ministros da Corte composta, em sua maioria, por pessoas escolhidas por Lula e Dilma.
Nas conversas informais, petistas históricos gostam de ressaltar que é o PT que está no banco dos réus. E não demonstram ódio nas críticas que fazem ao STF. O drama de José Dirceu machuca os históricos, mas é também motivo de conversas, como afirma um deles, para esquecer um drama que ninguém disfarça que parece doer ainda mais - a condenação do companheiro José Genoino, ex-deputado e ex-presidente da legenda.
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'A dor me impede de falar', diz ministro sobre Dirceu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU