28 Julho 2012
A dissidência cubana sempre foi frágil e dividida, com mais projeção junto às embaixadas estrangeiras e à imprensa internacional do que no ativismo político interno, mas, dentro desse panorama geral, Oswaldo Payá Sardiñas sempre foi um caso à parte no movimento opositor.
À diferença da maioria dos dissidentes históricos e de muitos ativistas que marcharam para o exílio, Payá nunca foi companheiro de viagem do socialismo cubano nem do fidelismo, tampouco se desencantou porque nunca esteve encantado.
A reportagem pe de Mauricio Vicent, publicada no El País e reproduzida pelo Portal Uol, 25-07-2012.
Católico fervoroso, sem dúvida foi o opositor de maior perfil político internacional, reconhecido como figura relevante dentro da Internacional Democrata Cristã e com importantes vínculos com o Partido Popular espanhol e europeu, que lhe abriram as portas do prêmio Sakharov do Parlamento Europeu em 2002, uma distinção pela defesa dos direitos humanos que depois receberiam o movimento das Damas de Branco e o ativista Guillermo Fariñas.
Oswaldo Payá foi o primeiro dissidente cubano a utilizar a Constituição e as próprias leis revolucionárias como armas na luta contra o regime de Fidel Castro, e sem dúvida foi o que mais alcançou. Começou em 1991 recolhendo assinaturas em apoio a seu Apelo ao Diálogo Nacional, uma estratégia que voltaria a empregar uma década depois com seu famoso Projeto Varela. O trabalho de proselitismo que realizou então na rua marcou um antes e um depois nas formas da oposição, e do mesmo modo representou uma mudança de tática sua decisão de se apresentar como candidato a delegado da Assembleia do Poder Popular em 1992, algo que obviamente não prosperou.
O Projeto Varela, apresentado ao Parlamento cubano em 2002, perdeu força, mas foi uma iniciativa audaz em seu momento e teve considerável repercussão externa e também interna. Seu coração era a convocação de um referendo para a democratização de Cuba e a realização de eleições livres, e para consegui-lo foram recolhidas mais de 11 mil assinaturas de apoio, cada uma acompanhada de nome, sobrenome, endereço e carteira de identidade, um verdadeiro acontecimento em Cuba.
Dezenas ou centenas de ativistas e simpatizantes do Movimento Cristão de Libertação, criado por Payá em 1988, buscaram apoios por todo o país e depois reivindicaram o direito estabelecido na Constituição de que se uma iniciativa legal obtivesse o apoio de 10 mil cubanos deveria ser discutida publicamente na Assembleia.
O Projeto Varela adquiriu grande repercussão durante a visita que Jimmy Carter realizou à ilha em 2002, quando o ex-presidente americano se referiu à iniciativa durante um ato na universidade, transmitido ao vivo pela televisão. O regime não reagiu, nem houve discussão no Parlamento, mas meses depois as autoridades convocaram milhões de cubanos a apoiar uma reforma constitucional que declarou o socialismo "irrevogável".
Hoje, as limitações do atomizado movimento dissidente cubano continuam as de sempre, mas o promotor do Projeto Varela não está mais presente.
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Um antes e um depois na oposição cubana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU