02 Julho 2012
A tese paradoxal de Abraham Yehoshua é a de que a religião tornou os judeus menos criativos porque, "de manhã à noite, era preciso pensar no que era lícito ou não". É muito provável, no entanto, que um leigo convicto como o grande escritor israelense também tenha acolhido com perplexidade a notícia de que, para o tribunal de apelação de Colônia, na Alemanha, a circuncisão de uma criança é um crime a ser perseguido penalmente, uma lesão corporal que deve ser punida.
A reportagem é de Paolo Lepri, publicada no jornal Corriere della Sera, 29-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na Alemanha, vivem quatro milhões de muçulmanos e cerca de 100 mil judeus. Segundo as estatísticas de 2007, 10,9% dos jovens do sexo masculino até os 17 anos haviam sido circuncidados. Esses números explicam por si sós o impacto que uma sentença como essa pode ter. Ela não é vinculante, mas estabelece um princípio ao qual outras administrações alemãs poderiam decidir se adequar. "Ela terá o efeito de ser um sinal, voltado sobretudo aos médicos", dizem advogados.
O Conselho Central dos Judeus Alemães definiu a decisão da magistratura de Colônia como "uma intrusão dramática e sem precedentes sobre o direito à autodeterminação das comunidades religiosas". O presidente do Conselho Central dos Muçulmanos Alemães, Aiman Mayzek, disse que "a liberdade religiosa é muito importante na nossa constituição" e acrescentou que a sentença é "inspirada por preconceitos e os reforça". Outro líder islâmico da Alemanha, Ali Demir, lembrou que a circuncisão "é uma prática inofensiva e uma tradição milenar e altamente simbólica".
Um outro perigo é que tudo isso poderá criar um caso diplomático entre a Alemanha e Israel, ou abrir um conflito institucional na Alemanha. Reuven Rivlin, presidente da Knesset, pediu a intervenção do Bundestag, "porque, em uma democracia parlamentar, quem tem a última palavra é quem faz as leis". Talvez, em todo esse caso, bastaria um pouco de bom senso. Ou alguma palavra oportuna de um homem sensível e atento como o presidente alemão, Joachim Gauck.
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''Circuncisão é crime'': a raiva de judeus e muçulmanos alemães - Instituto Humanitas Unisinos - IHU