19 Junho 2012
O debate sobre os Povos Indígenas e a Sustentabilidade Econômica, Ambiental e Cultural, realizado na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, visibilizou um dilema vivido por comunidades indígenas ainda hoje: a luta pelo direito à língua – pela codificação, leitura e escritura – desdobra-se no direito de ter livros e bibliotecas nesses idiomas.
A reportagem é de Antonio Carlos Ribeiro e publicada pela Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 18-06-2012.
O contato com a professora Andila Kaingang possibilitou perceber um direito fundamental ainda negado aos primeiros habitantes do país: publicar, difundir e facultar a leitura de livros em sua língua, objetivo que vai além de falar, ler e escrever naquele idioma.
Ela disse que a língua Kaingang foi codificada na década de 1970 pela linguista alemã Ursula Weisemann, atribuindo grande importância a isso. “Se não tivesse acontecido, a língua Kaingang teria se perdido”. Isso implicou na experiência de atuar na educação e alfabetização de crianças.
A Constituição de 1988, segundo a professora, já possibilitou o trabalho bilíngue nas aldeias, o que possibilitou a interculturalidade. No entanto, a garantia constitucional não foi efetiva, já que faltavam as condições adequadas para o ensino do idioma: professores capacitados e material didático apropriado. Apesar disso, a partir de 1975 já havia leitores da língua kaingang, e uma década e meia depois surgiram os primeiros textos escritos pelos kaingangs.
Apesar de toda essa luta e esforço, o governo federal ainda não investe na formação de professores e produção literária no idioma. O material escrito é esparso e distribuído de forma irregular. Isso dificulta a visibilização cultural do grupo e de sua produção literária, mesmo se tratando do terceiro maior contingente indígena do país.
Apesar disso, todas as escolas das aldeias Kaingang têm bibliotecas, embora ainda não tenham livros disponíveis no idioma. Andila informou que há Pontos de Cultura nas reservas indígenas, o que permite que crianças desse povo recuperem sua autoestima e voltem a sentir orgulho de ser kaingangs. Por isso, ela vê esse projeto como promissor, a partir da experiência enriquecedora com as lideranças. “Já é um bom começo!”, afirmou.
Andila lamentou, contudo, que ainda haja setores da sociedade branca que não veem com bons olhos a presença e desenvolvimento das tribos Kaingang e Guarani. Há colonos que enxergam os índios como inimigos, sem perceber que ambos foram vítimas das falhas das políticas de preservação de reservas e de assentamento. Por isso ressentem-se com a recuperação das terras e avaliação no pagamento das benfeitorias.
Lembrou com carinho do curso promovido pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e pelo Governo do Estado de Mato Grosso, realizado em Barra dos Bugres, quando teve contato com outros povos. Andila disse que sua ascensão, ida à Universidade para se preparar melhor, e a recepção em seu trabalho nas aldeias vem do fato de sempre ter sido uma liderança, mesmo entre o grupo de professores da língua. Hoje, já aposentada, não recusa um convite quando a causa é ajuda na educação de jovens Kaingangs.
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Indígenas ainda lutam pelo direito à língua, diz professora kaingang - Instituto Humanitas Unisinos - IHU