25 Mai 2012
"Mais de 130 chefes de Estado e governo estarão presentes (na Rio+20), acompanhados por cerca de 50 mil líderes empresariais, prefeitos, ativistas e investidores --uma coalizão global pela mudança. Mas o sucesso não é garantido", escreve Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, em artigo publicado no jornal Herald Tribune e reproduzido pelo Portal Uol, 24-05-2012.
Eis o artigo.
Há 20 anos, foi realizada a Cúpula da Terra. Reunidos no Rio de Janeiro, os líderes mundiais concordaram em um roteiro ambicioso para um futuro mais seguro.
Eles buscaram equilibrar os imperativos de crescimento econômico robusto e as necessidades de uma população crescente com a necessidade ecológica de conservar os recursos mais preciosos de nosso planeta --terra, ar e água. E concordaram que a única forma de fazer isso era rompendo com o velho modelo econômico e inventando um novo. Eles o chamaram de desenvolvimento sustentável.
Duas décadas depois, nós estamos de volta ao futuro. Os desafios enfrentados pela humanidade hoje são basicamente os mesmoS daquela época, apenas maiores. Lentamente, nós percebemos que entramos em uma nova era. Alguns até mesmo a chamam de um novo período geológico, onde a atividade humana está alterando fundamentalmente a dinâmica da Terra.
O crescimento econômico global per capita se somou a uma população mundial (que passou de 7 bilhões no ano passado) para impor um estresse sem precedente sobre ecossistemas frágeis. Nós reconhecemos que não podemos continuar queimando e consumindo nosso caminho para a prosperidade. Mas ainda não abraçamos a solução óbvia --a única solução possível, tanto agora quanto 20 anos atrás: o desenvolvimento sustentável.
Felizmente, nós temos uma segunda chance de agir. Em menos de um mês, os líderes mundiais se reunirão novamente no Rio --dessa vez para a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, ou Rio+20. E, novamente, o Rio oferece uma oportunidade para uma geração apertar o botão de reiniciar: estabelecer um novo curso para um futuro que equilibre as dimensões econômica, social e ambiental da prosperidade e do bem-estar humano.
Mais de 130 chefes de Estado e governo estarão presentes, acompanhados por cerca de 50 mil líderes empresariais, prefeitos, ativistas e investidores --uma coalizão global pela mudança. Mas o sucesso não é garantido. Para proteger nosso mundo para as futuras gerações --e é isso o que está em jogo-- nós precisamos da parceria e do engajamento pleno dos líderes mundiais, dos países ricos e pobres, dos países pequenos e grandes. O principal desafio deles: mobilizar o apoio global a uma agenda de mudança transformadora --colocar em ação uma revolução conceitual sobre como pensamos a criação de crescimento dinâmico, mas sustentável, para o século 21 e além.
Essa agenda será decidida pelos líderes nacionais, de acordo com as aspirações de seus povos. Se fosse oferecer um conselho na condição de secretário-geral da ONU, ele seria o de focar em três “grupos” de resultados que marcarão a Rio+20 como o divisor de águas que deve ser.
Primeiro, a Rio+20 deve inspirar um novo modo de pensar e agir. Claramente, o velho modelo econômico está ruindo. Em lugares demais, o crescimento estagnou. Há falta de empregos. A desigualdade cresce entre ricos e pobres, e vemos escassez alarmante de alimentos, combustíveis e recursos naturais dos quais a civilização depende.
No Rio, os negociadores buscarão se apoiar nos sucessos das Metas de Desenvolvimento do Milênio, que ajudaram a tirar milhões da pobreza. Uma nova ênfase em sustentabilidade pode oferecer o que os economistas chamam de “triplo ponto de partida” --crescimento econômico rico em empregos somado a proteção ambiental e inclusão social.
Segundo, a Rio+20 deve ser a respeito dos povos --uma cúpula dos povos que ofereça esperança concreta de melhorias reais em suas vidas diárias. As opções diante dos negociadores incluem declarar um futuro com “fome zero” --zero nanismo de crianças por falta de nutrição adequada, zero desperdício de alimento e insumos agrícolas nas sociedades onde as pessoas não têm o suficiente para comer.
A Rio+20 também deveria dar voz às pessoas que ouvimos com menos frequência: as mulheres e os jovens. As mulheres sustentam metade do céu; elas merecem posição igual na sociedade. Nós deveríamos empoderá-las, como motores de dinamismo econômico e desenvolvimento social. E os jovens --a própria face de nosso futuro: nós estamos criando oportunidades para eles, quase 80 milhões dos quais entram na força de trabalho a cada ano?
Terceiro, a Rio+20 deveria soar um clarim à ação: não desperdice. A Mãe Terra tem sido gentil conosco. Que a humanidade retribua respeitando os limites naturais dela. No Rio, os governos deveriam pedir por um uso mais inteligente dos recursos. Nossos oceanos devem ser protegidos. Assim como nossa água, ar e florestas. Nossas cidades devem ter melhores condições de vida --lugares que habitemos em maior harmonia com a natureza.
Na Rio+20, eu pedirei aos governos, empresas e outras coalizões que apoiem minha própria iniciativa Energia Sustentável para Todos. A meta: acesso universal à energia sustentável, um dobrar da eficiência no consumo de energia e um dobrar do uso de fontes renováveis de energia até 2030.
Como muitos dos desafios atuais são globais, eles exigem uma resposta global --poder coletivo exercido em uma parceria poderosa. Agora não é o momento de disputas míopes. Este é o momento de nossos líderes mundiais e seus povos se unirem em um propósito comum em torno de uma visão compartilhada de nosso futuro comum --o futuro que queremos.
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Ban Ki-moon: Rio+20 e o futuro que queremos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU