19 Abril 2012
O Vaticano confirmou nessa quarta-feira, 18, que a Fraternidade São Pio X, o movimento tradicionalista fundado pelo falecido arcebispo francês Marcel Lefebvre, respondeu a um "preâmbulo doutrinal" apresentado em setembro como uma condição prévia para voltar à união com a Igreja Católica.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no sítio do jornal National Catholic Reporter, 18-04-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma declaração concisa divulgada pela Comissão Ecclesia Dei do Vaticano, responsável pelas relações com os tradicionalistas, disse apenas que uma resposta foi recebida e será estudada pela Congregação para a Doutrina da Fé e finalmente submetida ao papa.
Fontes indicam, no entanto, que o superior lefebvriano, o bispo suíço Bernard Fellay, comunicou uma reação muito positiva acerca do preâmbulo, propondo somente pequenas mudanças descritas como "não substanciais".
Essa concessão poderia abrir caminho para a readmissão formal da Fraternidade São Pio X à plena comunhão com Roma.
Se isso acontecer, uma opção seria um "ordinariato pessoal", semelhante à estrutura que Bento XVI autorizou em 2009 para incorporar ex-anglicanos e suas comunidades à Igreja Católica. Outros observadores acreditam que o Vaticano pode oferecer aos lefebvrianos, ao invés, uma "prelazia pessoal", uma estrutura canônica semelhante a uma diocese não territorial chefiada por um prelado. Atualmente, a única prelazia pessoal na Igreja é o Opus Dei.
Qualquer opção permitiria que os lefebvrianos mantenham grande parte da sua espiritualidade distinta, incluindo a celebração da antiga missa em latim.
Caso a união ocorra novamente, ela marcaria o fim do único cisma formal após o Concílio Vaticano II (1962-1965). Especialistas alertam, porém, que avanços semelhantes foram anunciados várias vezes anteriormente, apenas para desmoronar no último minuto.
O padre jesuíta Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse nessa quarta-feira que "não podemos considerar que as discussões [com os lefebvrianos] estão concluídas", mas chamou a resposta positiva de Fellay de "encorajadora" e de "um passo à frente" no que diz respeito às reações anteriores da Fraternidade São Pio X.
Embora o Vaticano não tenha lançado oficialmente o texto do preâmbulo doutrinal apresentado aos lefebvrianos em setembro, fontes indicam que o texto de duas páginas consistia principalmente na profissão de fé que as autoridades da Igreja responsáveis por dicastérios são obrigadas a tomar, prometendo "submissão religiosa de intelecto e de vontade" ao ensino oficial da Igreja.
Os lefebvrianos há muito tempo questionam grande parte do ensino do Concílio Vaticano II, especialmente questões como a liberdade religiosa e o diálogo ecumênico e inter-religioso. Em um comunicado do ano passado, um representante do Vaticano indicou que a aceitação do preâmbulo não significava o fim de uma "discussão, estudo e análise teológica legítimos das expressões ou fórmulas individuais presentes nos documentos do Concílio Vaticano II".
O preâmbulo proposto coroou uma série de três anos de negociações entre a Fraternidade São Pio X e a Congregação para a Doutrina da Fé, lançadas após a decisão de Bento XVI em 2009 de revogar as excomunhões dos quatro bispos ordenados por Lefebvre em 1988.
Essa decisão desencadeou uma polêmica global quando um dos bispos, Richard Williamson, deu uma entrevista à televisão sueca minimizando o Holocausto.
Em meio a essa controvérsia, a Secretaria de Estado do Vaticano emitiu um comunicado insistindo que "o pleno reconhecimento do Concílio Vaticano II e do magistério dos Papas João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e do próprio Bento XVI é uma condição indispensável" a qualquer forma de reconciliação.
Esse comunicado do dia 4 de fevereiro de 2009 também convocou Williamson a "se distanciar pública e inequivocamente das suas posições acerca da Shoah".
Fontes vaticanas dizem que a resposta de Fellay poderia ser estudada pela Congregação para a Doutrina da Fé no fim deste mês. Se uma união formal está nas cartas, provavelmente vai demorar ao menos mais algumas semanas para que sejam trabalhados os seus detalhes canônicos.
Antigos observadores dizem que ainda não está claro se todos os lefebvrianos aceitariam tal acordo, mesmo que Fellay e outros líderes da Fraternidade São Pio X a abracem. Um cenário possível, dizem, poderia ser mais uma ruptura no seio da Fraternidade, quando alguns membros entrariam em comunhão com Roma, enquanto outros se recusariam.
De acordo com os seus próprios dados, a Fraternidade São Pio X inclui cerca de 500 padres e 200 seminaristas presentes em 31 países, com a maior parte localizada na França. No passado, a Fraternidade afirmava possuir um total de 1 milhão de fiéis.
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Cisma lefebvriano pode estar chegando ao fim - Instituto Humanitas Unisinos - IHU