26 Março 2012
Joesley Batista, da JBS /Friboi, pavoneou-se com sua fábrica de celulose, "a maior fábrica de celulose do mundo"; um diferente Batista, Eike, alardeou que investirá no Brasil R$ 56 bilhões até 2016; investimentos de US$ 46 bilhões até 2015 foram anunciados por outros dos 28 empresários, banqueiros e representantes de associações empresariais convidados na quinta-feira para uma reunião com a presidente Dilma Rousseff. Ela não quis uma reunião com empresas, mas com líderes empresariais. Abílio Diniz, de viagem, tentou mandar representante do Pão de Açúcar e lhe informaram que o convite era intransferível.
A reportagem é de Sergio Leo e publicada pelo jornal Valor, 26-03-2012.
A reunião coincidiu com uma semana infernal para Dilma, que sofreu derrotas no Congresso impostas por supostos aliados insatisfeitos com seu jeito de lidar com políticos. Marcado antes da rebelião parlamentar, a pedido do empresário Jorge Gerdau, que convenceu Dilma da necessidade de melhorar a interlocução com os empresários, o encontro juntou, no Planalto, expressiva coleção de figurões do setor privado, interessados em desencalhar decisões atoladas em terrenos pouco republicanos no Congresso.
Se como disse a presidente à revista "Veja" no fim de semana, crises institucionais se alimentam da "perda de legitimidade do governante", os empresários indicaram que essa perda, no caso dela, não está no roteiro da vida real. Como comparação, às vésperas da queda de Fernando Collor (que, recentemente, advertiu Dilma sobre os riscos de perder apoio parlamentar) Brasília foi palco de um almoço promovido pelas associações da indústria, com guardanapos e toalhas de mesa pretas, a cor da campanha pelo impeachment.
A intenção explícita da reunião no Planalto foi a de animar os empresários a manter e ampliar seus planos de investimento, dando a todos a garantia de que o governo tem, sim, um plano de longo prazo e compromisso em enfrentar os principais entraves à competitividade do Brasil e de suas empresas. Implicitamente, Dilma, com seu discurso e o encontro, reconheceu que não pode querer que a taxa de investimento no país chegue aos desejados 24% do Produto Interno Bruto mantendo como linha de ação as descoordenadas iniciativas pontuais do governo, em resposta a demandas setoriais ou eventos inesperados.
Os empresários desfiaram a pauta tradicional de queixas, expurgada, talvez, das reclamações habituais contra a taxa de câmbio, que já é alvo público das ações do governo, inclusive do Banco Central. Se houve um consenso gritante, foi a condução da política tributária. Os empresários veem como grande barreira às decisões de investimento e à sobrevivência das empresas o regime complexo, burocrático e opressivo de impostos.
O governo, até agora, apresenta como grande feito, na área, a promessa de "desoneração" das folhas de pagamento em troca de aumento da tributação sobre o faturamento. Os líderes do setor privado prestigiados pela presidente acham que se deveria ir bem além, reduzindo a carga de imposto e simplificando sua atuação. Deixaram claro que uma medida que reduzisse imposto em toda a cadeia de produção, não apenas em algumas de suas pontas seria bem-vinda.
Pragmático, Josué Gomes, da Coteminas, propôs a criação de uma meta de redução da carga tributária, dando prazo à máquina pública para acostumar-se com maior moderação nos gastos. André Esteves, do BTG Pactual, foi mais ambicioso: por que não um corte linear em todas as alíquotas? Dilma anotou, o que dá esperanças - tênues - de que cobre de sua equipe econômica resposta à demanda.
O absurdo custo da energia no Brasil também foi, como se esperaria, um tema de destaque. O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, defendeu aproveitar o fim das atuais concessões do setor elétrico para atrair a competição e operadores com menores preços. Outros empresários aceitam medida mais modesta, com uma renegociação dura das tarifas na renovação das concessões, como parece ser o caminho do governo.
Também na manifestação das preocupações dos empresários, a coincidência entre a reunião com Dilma e a crise no Congresso serve para ressaltar a preocupante dissonância entre o que o setor privado considera as grandes questões nacionais e a lógica dos parlamentares, que, ao debater a questão tributária, por exemplo, levantam a voz com mais firmeza quando falam em receitas e distribuição de verbas. A necessidade de pressionar o Congresso surgiu na reunião de maneira discreta, até porque empresários já fazem isso.
Ao fim da reunião, o governo deixou claro que, na volta da viagem à Índia, onde estará nesta semana, Dilma anunciará medidas de apoio aos investimentos. Até agora, de certo há a receita pontual e insuficiente, com decisões como prorrogação de isenção do IPI de eletrodomésticos e "desoneração" parcial da folha. O compromisso de encontros trimestrais com os empresários obrigará o governo a maior ousadia, se não quiser transformar as reuniões em constrangedores sessões de desabafo do setor privado.
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O que quer Dilma, o que querem os empresários - Instituto Humanitas Unisinos - IHU