18 Janeiro 2012
Se depender do cinema documental, o debate sobre a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte não vai esfriar em 2012.
A reportagem é de Gustavo Fioratti e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 18-01-2012.
A começar por um extenso projeto da produtora LC Barreto, a "TV Belo Monte", uma série de filmes sobre o empreendimento feitos especialmente para a internet.
O projeto é custeado pela Norte Energia, empresa responsável pela construção da usina. Parte dos filmes já está no ar, no site www.tvbelomonte.com.br.
O lançamento pega embalo na onda de documentários realizados sobre a usina (veja ao lado os principais projetos). Mas com uma diferença: a TV Belo Monte parece um pouco mais empenhada em apontar pontos positivos no empreendimento.
A contratação da LC Barreto, a mesma produtora que produziu o filme "Lula, o Filho do Brasil", foi feita sem concorrência ou licitação - o que não é ilegal, uma vez que a Norte Energia é formada por um consórcio de empresas públicas e privadas.
A Eletrobras, que é pública, tem 49,98% das ações.
O contrato, segundo o produtor Daniel Tendler, um dos responsáveis pelo projeto da TV Belo Monte, deve ser renovado anualmente, até a conclusão das obras da usina.
Tendler afirma que a Norte Energia não exige que os filmes funcionem como peças institucionais. "Não é para ser a favor ou contra Belo Monte", diz. No entanto, os entrevistados parecem escolhidos a dedo.
Um deles é José Moreira, 60, pequeno agricultor que terá de deixar sua propriedade em Vitória do Xingu (PA). "Quero é que esses homens me botem para ir embora."
Ao evitar alguns dos conflitos gerados com a instalação da usina, o projeto vai na contramão de um movimento criado por documentaristas do mundo inteiro.
Altamira, uma das principais cidades da região à beira do rio Xingu, no Pará, sofre uma invasão de cineastas.
O diretor americano James Cameron foi um dos primeiros a documentar o conflito na região, para extras do filme "Avatar".
Hoje, a ONG Xingu Vivo, que tem sede em Altamira, fala em ao menos 15 solicitações de entrevistas para documentários, feitas por equipes de universitários, produtoras independentes nacionais e internacionais.
"Muitos documentaristas estão filmando com recursos próprios", atesta Marcelo Salazar, coordenador do programa Xingu/Terra do Meio, do Instituto Socioambiental.
"Vai ser bom comparar os documentários com a TV Belo Monte, para perceber o discurso ideológico por trás do empreendimento", diz André D'Élia, diretor do documentário "Belo Monte - Anúncio de uma Guerra", que ainda não tem previsão de estreia.
D'Élia aponta ainda um fenômeno resultante da veiculação de vídeos na internet -seu projeto foi custeado com R$ 140 mil depositados por internautas.
Trechos de seu filme lançados no YouTube e no Vimeo, por exemplo, já ganharam versões e edições que ele não reconhece como suas.
"Mas tudo isso é interessante para alimentar o debate. É um assunto que precisa ser discutido por todos", diz.
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Usina de Belo Monte é invadida por cineastas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU